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Governo sírio lança campanha para retorno de refugiados

Regime sírio controla mais de dois terços do território e a Rússia, que intervém no país desde o fim de 2015, quer acelerar retorno dos 5,6 mi de refugiados

Síria: agência da ONU para os refugiados lançou uma advertência sobre os retornos forçados ao país (Amir Cohen/Reuters)

Síria: agência da ONU para os refugiados lançou uma advertência sobre os retornos forçados ao país (Amir Cohen/Reuters)

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AFP

Publicado em 15 de agosto de 2018 às 20h08.

No posto de Jdeidat Yabus, na fronteira da Síria com o Líbano, 50 mulheres, crianças e idosos desembarcam de três ônibus com ar de preocupação. São refugiados, de volta à Síria após longos anos no exílio, que observam com certo receio a recepção com pompa, organizada por funcionários do governo sob o olhar de militares russos.

Médicos e voluntários que supervisionam a repatriação - à qual a AFP assistiu em visita organizada pelo Exército russo, em coordenação com Damasco - oferecem-lhes atendimento, comida e bebida.

"Os refugiados fazem parte da minha família, somos todos sírios, esperamos seu retorno agora que a situação se acalmou", diz Ayham el Nasar, membro do comitê de boas-vindas. Graças às subvenções do governo, entrega a eles cartões de telefone.

Cerca de 30 adolescentes repetem palavras de ordem a favor do presidente sírio, Bashar al-Assad, e por uma "Síria unida", agitando bandeiras de seu país.

Com óculos escuro, véu rosa bem ajustado e maquiada com esmero, Rama, de 21 anos, parece mais uma estudante que voltou das férias do que uma refugiada que precisa "reconstruir tudo" após sete anos de exílio no Líbano.

"Disseram-nos que a universidade foi reconstruída, agora é preciso reerguer nosso povoado e nossa casa", conta Rama.

Nos últimos meses, centenas de refugiados sírios retornaram do Líbano e, em alguns casos, se reinstalaram em suas casas perto de Damasco, segundo a agência de notícias oficial síria. Não se sabe muitos detalhes sobre sua vida após o retorno.

O regime sírio já controla mais de dois terços do território e a Rússia, que intervém militarmente na Síria desde o fim de 2015, quer acelerar o retorno dos 5,6 milhões de refugiados que fugiram do conflito desde 2011.

A guerra na Síria começou com a repressão pelo regime de manifestações pró-democracia. Com o passar dos anos, foi tornando-se mais complexa, com o envolvimento de potências estrangeiras e grupos extremistas.

"Retorno voluntário"

Moscou e Damasco garantem que a segurança foi restabelecida na Síria, mas a agência da ONU para os refugiados (Acnur) lançou uma advertência sobre os retornos forçados ao país, que continua mergulhado em uma guerra que já deixou mais de 350.000 mortos.

Ghayath Abdel Rahman, ginecologista a quem o governo encarregou de garantir plantão médico e psicológico, espera em Jdeidat Yabus a chegada do próximo ônibus de refugiados.

"Os refugiados retornam voluntariamente. Querem ajudar a reconstruir seu país, é muito importante para eles", assegura.

Para demonstrar que o país pode receber os refugiados, o governo sírio e o Exército russo levaram vários veículos de comunicação internacionais, como a AFP, para visitar escolas e hospitais reconstruídos em meio às ruínas de Yalda, na periferia sul de Damasco.

"Cada sírio deve participar do processo de reconstrução de seu país", disse na segunda-feira o ministro de Administração Local, Hussein Makhlouf, que preside uma comissão que coordena as repatriações. "A vitória não será completa enquanto não terminar o retorno dos refugiados", acrescentou, citando o presidente Assad.

Reconciliação à la carte

Contactada pela AFP, o Acnur no Líbano lembra de suas preocupações sobre o retorno dos refugiados na Síria. Cita, por exemplo, "as condições de segurança, o alojamento e o acesso a serviços básicos".

O vice-ministro sírio de Relações Exteriores, Faisal Mekdad, promete um "retorno digno".

Mas adverte que nem todos são bem-vindos. Os Capacetes Brancos, socorristas nas zonas rebeldes aos quais o regime acusa de ter vínculos com os jihadistas, são "criminosos e devem ser tratados como tal".

Ele assegura, no entanto, que "quem estava em zonas sob o controle de grupos armados e que participaram de combates contra o governo estão cobertos por acordos de reconciliação".

Em vários redutos rebeldes reconquistados pelo regime, os russos negociaram estes acordos, que se assemelham a capitulações.

Rueida, de 28 anos, que deixou Lataquia (oeste) e mora na Suécia, escutou milhares de vezes estas promessas das autoridades.

"Meus amigos me dizem para voltar, que o país está tranquilo, que vamos reconstruí-lo", contou à AFP por telefone. "Mas essa não é mais a minha Síria e eu não confio nas promessas do governo".

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