Diplomata argelino Lakhdar Brahimi: "Não estamos fazendo muitos progressos", admitiu o diplomata (Denis Balibouse/Reuters)
Da Redação
Publicado em 11 de fevereiro de 2014 às 18h36.
Depois de dois dias de diálogo sem avanços, as negociações sobre o conflito sírio entre oposição e governo estavam em um impasse nesta terça-feira em Genebra, com um ministro de Damasco considerando que no estado atual elas estão "fadadas ao fracasso".
O mediador da ONU Lakhdar Brahimi admitiu que este novo ciclo de discussões está tão "trabalhoso" quanto o primeiro realizado em janeiro, que permitiu que os representantes do regime e de parte da oposição se sentassem à mesma mesa pela primeira vez.
"Não estamos fazendo muitos progressos", admitiu o diplomata.
Brahimi afirmou "ter toneladas de paciência", mas ressaltou que "o povo sírio não tem esta paciência" e que a busca por uma solução pacífica para o conflito deve ser acelerada.
Mas, para o ministro sírio da Reconciliação Nacional, Ali Haidar, as negociações em andamento em Genebra estão "fadadas ao fracasso no atual estado das coisas".
Ele explicou à AFP em Damasco que o governo sírio tinha decidido participar da Conferência, sobretudo, "para romper um bloqueio político e midiático que dura três anos".
Para ele, a oposição foi à Conferência com o objetivo de "ganhar legitimidade".
A delegação do governo quer discutir a luta contra o terrorismo, enquanto a oposição defende a formação de uma autoridade governamental de transição, que também é exigida pelas grandes potências em Genebra I, em 2012.
Para tentar acabar com o impasse entre as duas delegações, Brahimi pediu a todos que "façam deste processo uma realidade e ajudem a Síria a sair do pesadelo que seu povo vive há quase três anos", referindo-se, além das partes em conflito, à comunidade internacional, e em primeiro lugar, aos organizadores da Conferência, Rússia e Estados Unidos.
Protagonistas intransigentes
"Hoje também foi um dia perdido porque os representantes da coalizão (ndlr: opositora) insistem no fato de que não há terrorismo na Síria e eles não querem discutir isso", afirmou o vice-ministro sírio das Relações Exteriores, Faysal Mokdad.
"Claramente, não houve progresso hoje. O regime se opôs a Brahimi, não permitindo a ele propor uma agenda aceitável pelas duas partes", considerou o porta-voz da delegação opositora Louay Safi.
"Não posso estabelecer uma agenda para pessoas que não querem. Não posso apontar uma arma para a cabeça deles", declarou Brahimi, admitindo sua impotência.
As discussões devem ser mantidas até sexta-feira e na próxima semana o enviado da ONU e da Liga Árabe irá a Nova York para prestar contas ao secretário-geral das Nações Unidas e ao Conselho de Segurança.
Na sexta-feira, será realizada uma reunião trilateral com os dois organizadores da Conferência, representados pelo vice-ministro russo Guennadi Gatilov e a secretária de Estado adjunta Wendy Sherman.
As operações humanitárias na cidade de Homs foram a única nota relativamente positiva revelada por Brahimi, mesmo que tenham sido suspensas por um dia, devido a questões logísticas, segundo autoridades locais.
"Homs pode ser chamado de êxito", considerou ele, referindo-se à retirada de 1.200 civis dos bairros da cidade síria cercados pelo Exército e ao fornecimento de produtos básicos por parte da ONU a uma população bloqueada desde 2012.
"Levamos seis meses para retirar algumas centenas de pessoas", lamentou o diplomata, ressaltando que os habitantes de muitas outras regiões cercadas ainda aguardam a chegada de ajuda humanitária. Brahimi saudou a coragem das equipes da ONU e dos voluntários do Crescente Vermelho sírio "que se arriscaram muito" nesta operação realizada em meio a disparos. "O carro do representante da ONU na Síria foi totalmente destruído enquanto ele estava dentro", disse.
Um projeto de resolução sobre a situação humanitária na Síria, elaborado por países ocidentais e árabes, foi distribuído nesta terça de manhã aos 15 países membros do Conselho de Segurança da ONU, apesar da oposição russa, indicaram diplomatas em Nova York.
O ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, reafirmou que esse texto é "absolutamente inaceitável" para Moscou, um dos principais aliados do regime de Bashar al-Assad. "As ideias que foram apresentadas (...) são absolutamente inaceitáveis e contêm um ultimato para o governo" sírio, declarou Lavrov.