Bandeira de Israel: vários ministros israelenses atacaram o governo americano (Shlomit Wolf/Stock.xchng)
Da Redação
Publicado em 3 de junho de 2014 às 14h47.
Jerusalém - O reconhecimento pelos Estados Unidos do novo governo de união palestino com a participação do Hamas, provocou uma nova crise de confiança entre Israel e seu principal aliado.
Vários ministros israelenses atacaram nesta terça-feira o governo americano, após o anúncio de sua intenção de trabalhar com o novo governo palestino de união.
O novo gabinete foi empossado na segunda-feira, apesar das advertências do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanayhu.
"Eu não compreendo a mensagem dos Estados Unidos", lamentou o ministro da Inteligência, Youval Steinitz, denunciando a hipocrisia americana.
"Não se pode apresentar este governo como um governo do Hamas e, em seguida, qualificar o governo publicamente como de tecnocratas. É um governo do Hamas, um governo terrorista", declarou Steinitz, ao lado de Netanyahu, à rádio miliar.
O Departamento de Estado americano se comprometeu em trabalhar com o novo executivo e manter a ajuda à Autoridade Palestina, fundamental para a sua sobrevivência, ressaltando que o gabinete "não tem nenhum membro do Hamas".
Israel considera este movimento islâmico, que governa a Faixa de Gaza, como um de seus principais inimigos e organização terrorista.
A meta do governo de transição palestino, formado por independentes e tecnocratas, é preparar eleições legislativas e presidenciais antes do final do ano.
"Infelizmente, a ingenuidade americana bateu todos os recordes. Independentemente do tipo de colaboração com o Hamas, que mata mulheres e crianças, é inaceitável", declarou por sua vez o ministro das Comunicações, Gilad Erdan.
Punhalada nas costas
Segundo o analista político Chico Menache, Benjamin Netanyahu se sentiu "traído e enganado" pelos Estados Unidos. No domingo, o primeiro-ministro assegurou ter recebido garantias do secretário de Estado americano John Kerry de que Washington não reconheceria imediatamente o governo palestino.
"Efetivamente, não reconheceu imediatamente, só precisou de cinco horas", declarou ironicamente Menache.
Ao jornal Israel Hayom, porta-voz do primeiro-ministro, uma autoridade israelense denunciou "uma facada nas costas" dos Estados Unidos.
De acordo com os colunistas do jornal, a reconciliação entre os palestinos é uma "vitória significativa" e representa um novo obstáculo entre Israel e os Estados Unidos.
As relações bilaterais com Washington, vitais para Israel, se deterioraram desde o fracasso das negociações de paz impulsionadas por John Kerry, atribuído a recusa de Israel em parar a construção de assentamentos em territórios ocupados.
Também desagradou os Estados Unidos os ataques pessoais contra Kerry lançados por líderes israelenses, incluindo o ministro da Defesa, Moshe Yaalon.
"Agora temos de passar à ofensiva", pediu o ministro da Economia Naftali Bennett, líder do partido ultra-nacionalista, solicitando a anexação de Gush Etzion um bloco de assentamentos judaicos perto de Belém, na Cisjordânia.
De acordo com a rádio pública, apesar das declarações de vários ministros, o governo não tem planos de retaliação contra a Autoridade Palestina.
O gabinete de segurança de Israel não quer negociar com o novo governo, mas deve manter contatos com os líderes palestinos, incluindo o presidente Mahmoud Abbas , de acordo com a mesma fonte.
Esta nova crise com Washington coloca Benjamin Netanyahu em uma posição difícil. O premiê quer evitar a todo custo que o Irã e as potências ocidentais alcancem um acordo sobre o programa nuclear iraniano antes da data limite de 20 de julho.
O governo de Israel tem afirmado repetidamente que não hesitará em lançar uma operação militar para impedir que Teerã obtenha uma bomba atômica.
Já as Nações Unidas deram as boas-vindas nesta terça-feira ao novo governo de unidade palestino, e declararam que darão total apoio para a reconciliação entre a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, segundo um porta-voz.
Stephane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU Ban Ki-moon, fez essas declarações em um comunicado após o enviado especial para o processo de paz no Oriente Médio, Robert Serry, conversar com o primeiro-ministro palestino Rami Hamdallah.
"As Nações Unidas sempre defenderam a necessidade de avançar para a unidade palestina", disse Dujarric.
Esta questão e "as importantes mudanças políticas, de segurança, humanitárias e econômicas em Gaza" foram discutidos por Serry e Hamdallah, segundo o porta-voz.
E a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, saudou a formação de um governo palestino "de consenso nacional", que constitui "uma etapa importante no processo de reconcilição palestina".
"Tomamos nota da criação de um governo palestino de consenso nacional dirigido pelo primeiro-ministro (Rami) Hamdalah. Constitui uma etapa importante", afirmou Ashton em um comunicado.
"O processo de reconciliação enfrenta numerosos desafios, mas cria igualmente novas oportunidades para o processo de paz, para a renovação democrática e para o povo palestino em Gaza e na Cisjordânia", acrescentou.