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Governo Macri 2.0? Milei terá aliados do ex-presidente na Economia, BC e Segurança

Apesar disso, ex-presidente e novo líder enfrentam atritos internos na definição de cargos, segundo imprensa argentina

O ex-presidente Mauricio Macri, ao votar nas eleições argentinas (Mauricio Macri no X/Reprodução)

O ex-presidente Mauricio Macri, ao votar nas eleições argentinas (Mauricio Macri no X/Reprodução)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 9 de dezembro de 2023 às 06h09.

Logo após a votação de 1º turno, Javier Milei fez um movimento estratégico: se aproximou do ex-presidente Mauricio Macri (2015-19), em uma aliança que o ajudou a se eleger e agora poderá ser importante para governar. Mas essa proximidade vem gerando críticas, de aliados e inimigos, de que seu governo pode acabar sendo uma segunda gestão Macri.

Um sinal disso é que três cargos importantes do novo governo ficaram com nomes que trabalharam com o ex-presidente. O  destaque entre eles é Luis Caputo, que será o ministro da Economia. No governo anterior, ele foi secretário de Finanças e presidente do Banco Central, cargo em que ficou por três meses.

Para presidir o Banco Central, Milei indicou Santiago Bausili, subsecretário de Fazenda no governo Macri. A opção foi vista como sinal de que o novo presidente não deve priorizar a ideia de dolarizar a economia agora, já que ele preferiu não nomear o economista Emilio Ocampo, um grande defensor da medida.

Outro nome de peso é Patricia Bullrich, que disputou a Presidência este ano, mas ficou em terceiro lugar. Ela será ministra da Segurança, mesmo cargo que teve no governo Macri. E Luis Petri, candidato à vice na chapa de Bullrich, será ministro da Defesa.

Segundo o Clarín, Macri conseguiu a nomeação de vários subsecretários no novo governo, mas não obteve postos importantes que queria, como indicar o ministro da Justiça e o presidente da petroleira YPF.

No entanto, de acordo com a imprensa argentina, houve uma briga entre Macri e Bullrich nas últimas semanas. A nova ministra defende que o PRO, partido dos dois, entre de modo mais forte no governo, como uma coalizão de fato com o partido de Milei, A Liberdade Avança.

Já Macri defenderia uma união mais branda, com nomeações de segundo escalão em troca de apoio no Congresso apenas para pautas já defendidas pelo partido.

De acordo com o site Infobae, a crise chegou ao ápice quando Bullrich aceitou a posição de ministra da Segurança sem antes obter aval do partido. Macri defendia que os cargos fossem negociados em bloco, como parte das conversas por apoio no Congresso.

Javier Milei, ao lado de Luis Caputo (de branco), novo ministro da Economia (X/Reprodução)

Outro ponto de atrito é que Macri e Milei apoiam nomes diferentes para presidir a Câmara, o que estaria gerando mais atritos internos na formação de governo.

O partido de Milei, A LIberdade Avança, tem apenas 37 dos 257 assentos na Câmara e 8 dos 72 do Senado. Para aprovar medidas, precisará do apoio do Juntos por el Cambio, coligação que inclui o PRO e soma mais 93 posições na Câmara e 24 no Senado, o que garante uma maioria apertada.

"Dificil estimar o quanto a proximidade com Macri impacta a postura de Milei. Porém, é um fato que a vitória só foi possível por causa da adesão dos eleitores do Juntos por el Cambio. E cultuar uma boa relação com esse grupo político é essencial para sua governabilidade", analisa Mauricio Moura, sócio do fundo Zaftra, da Gauss Capital, e professor da Universidade George Washington.

O governo Macri

Macri assumiu a Presidência em 2015, após 12 anos de governo dos Kirchner, que assumiram o país em 2003, primeiro com Néstor e depois com Cristina, sua mulher. Os dois avançaram com um modelo de Estado forte, que subsidia várias tarifas e chegou até a custear a transmissão de futebol na TV.

Como presidente, Macri buscou cortar gastos e flexibilizar regras, mas enfrentou resistência. Os planos econômicos também não funcionaram e, em meio a inflação alta e desvalorização do peso, ele perdeu a reeleição para Alberto Fernández, que tinha Cristina Kirchner como vice.

Agora, aliados de Macri veem espaço para que o novo governo retome ideias que o ex-presidente tentou implantar, como o enxugamento do Estado e privatizações, mas em tom mais moderado do que Milei prometeu na campanha.

Ideias mais radicais, como dolarizar a economia e acabar com o Banco Central, devem ficar para um segundo momento. Para abandonar o peso e aderir ao dólar é preciso ter disponíveis bilhões em reservas da moeda americana, algo que a Argentina não tem. Faltam divisas para pagar importações e as parcelas de um empréstimo com o FMI, por exemplo.

Para Lia Vallis, coordenadora de Estudos de Comércio Exterior no Ibre-FGV, a necessidade de apoio de Milei junto ao partido de Macri, e também do setor empresarial do país, deverá ajudar a conter movimentos bruscos, como dificultar as relações com a China ou o Brasil "Milei depende do setor privado. Tanto do lado de cá quanto do lado argentino, há pressões para que não se atrapalhe o que já existe", diz.

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