Hugo Chávez, aliado de Kadafi, propôs a criação da comissão (Michael Nagle/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 4 de março de 2011 às 19h53.
Caracas - O governo da Líbia deu luz verde à Venezuela para criar uma missão de paz com outros países para intervir na crise política que sacode o país norte-africano, informou esta sexta-feira o chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, durante reunião da ALBA em Caracas.
Em carta do chanceler líbio, Musa Kusa, lida pelo colega venezuelano, o governo de Muamar Khadafi autorizou a criação desta comissão, que é o pilar de uma proposta de mediação lançada pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez.
"Nós os autorizamos a tomar as medidas necessárias para selecionar os integrantes e coordenar sua participação neste diálogo", leu Nicolás Maduro.
"Ao mesmo tempo em que valorizamos as posições nobres e firmes com relação ao povo líbio, afirmamos o nosso apoio à iniciativa de Sua Excelência, o presidente Hugo Chávez, relacionada com a formação de uma comissão de bons ofícios", acrescentou.
Uma missão formada pelos "Estados Ativos e Influentes de América Latina, Ásia e África" teria o objetivo de "contribuir para promover o diálogo nacional que tem como objetivo obter a segurança e a estabilidade do povo líbio", acrescentou a carta.
Esperava-se na tarde desta sexta-feira uma entrevista coletiva entre os chanceleres para dar detalhes sobre esta comissão internacional.
A proposta, lançada esta semana por Chávez, um forte aliado de Khadafi na América Latina, era analisada esta sexta-feira em Caracas por chanceleres e representantes dos países da Aliança Bolivariana para os Povos da América (ALBA).
"É uma iniciativa que tem como objetivo central apoiar o povo líbio na busca pela paz, a superação pacífica do conflito armado, da guerra civil que o mundo está observando, lamentavelmente", detalhou o chanceler venezuelano, ao inaugurar o encontro.
Chávez tem dito nestes dias que o conflito na Líbia é uma guerra civil.
Maduro acrescentou, ainda, que a proposta de Chávez busca "preservar a unidade do povo líbio", bem como "a preservação do uso de seus recursos naturais".
Outro ponto desta proposta é "o repúdio a qualquer intervenção militar contra o povo líbio", que a Otan e sua visão "belicosa" poderia levar adiante, declarou o chanceler.
"Que não se repita mais a experiência trágica da invasão e destruição do Iraque", enfatizou o ministro.
O chanceler cubano Bruno Rodríguez disse que os Estados Unidos e seus aliados da Otan "preparam a opinião pública mundial" para uma intervenção militar na Líbia.
"Reitero o repúdio enérgico a toda tentativa oportunista de aproveitar as trágicas circunstâncias em que vive o povo líbio para lançar uma guerra de conquista do petróleo por parte da Otan", disse Rodríguez.
"O governo do Equador repudia absolutamente o aproveitamento que se possa fazer destas circunstâncias para propiciar uma invasão de qualquer potência estrangeira na Líbia", declarou, por sua vez, o chanceler equatoriano Ricardo Patiño.
A proposta venezuelana, feita duas semanas depois do início das rebeliões no país norte-africano, que exigem a saída de Khadafi do poder, foi rejeitada de pronto pela oposição líbia, que já controla o leste do país e formou um governo paralelo.
O secretário-geral da Liga Árabe, Amr Mussa, disse por sua vez que a entidade estuda a iniciativa.
Os Estados Unidos também descartaram a proposta da Venezuela, afirmando não ser necessário o envio de uma missão internacional para que "diga ao coronel Khadafi o que tem que fazer pelo bem do seu país e a segurança do seu povo", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Philip Crowley.
Na reunião de Caracas participaram também os chanceleres da Bolívia, David Choquehuanca; de San Vicente e Granadinas, Andreas Wickham, e o vice-chanceler da Nicarágua, Valdrack Jaentschke. Por Dominica assiste o ministro de Informação, Ambrose George. Antigua e Barbuda não mandou representantes.