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Governo húngaro cede a pressões e corrigirá reforma do Banco Central

A atitude do governo levou a UE e o FMI a suspender as negociações para conceder um empréstimo de entre 15 e 20 bilhões de euros para evitar a quebra do país

Manifestante protesta contra o governo do "ditador Viktor Orban":  o premiê começou a modificar seu discurso nos últimos dias e a falar de sua disposição de dialogar (Attila Kisbenedek/AFP)

Manifestante protesta contra o governo do "ditador Viktor Orban": o premiê começou a modificar seu discurso nos últimos dias e a falar de sua disposição de dialogar (Attila Kisbenedek/AFP)

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Da Redação

Publicado em 11 de janeiro de 2012 às 10h53.

Budapeste - Três semanas de pressões e a ameaça de ficar sem a imprescindível ajuda financeira internacional obrigaram o Governo conservador húngaro a ceder e se mostrar disposto a corrigir uma reforma do Banco Central considerada pela União Europeia como uma perda de independência da instituição.

A atitude desafiante do primeiro-ministro, Viktor Orbán, ficou clara desde sua arrasadora vitória nas urnas em 2010, quando declarou a 'luta de independência' do país contra as instituições financeiras internacionais.

Há três semanas, Orbán insistia ainda que não modificaria a lei que cria novos postos de vice-governadores e estabelece uma nova figura de controle, nomeada pelo presidente, e que deixa o atual governador do banco emissor em segundo plano.

A atitude do Governo levou a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI) a suspender as negociações para conceder um empréstimo de entre 15 e 20 bilhões de euros para evitar a quebra do país, até que Budapeste não outorgasse garantias plenas de que o Banco Central não perderá independência.

A advertência teve efeito e na terça-feira mesmo se tornou pública uma carta do Ministério de Relações Exteriores húngaro que ratifica a disposição do Executivo a modificar a lei.

'Não importa se foi a pressão da UE ou se perceberam a situação', opinou em declarações à Agência Efe Éva Palócz, diretora do instituto de pesquisas econômicas Kopint-Tárki, sobre a necessidade deste empréstimo para salvar a economia do país.

O empréstimo internacional é urgente para que o país possa refinanciar quase 5 bilhões de euros de dívida com vencimento nos próximos meses.

Com um endividamento de 80% do Produto Interno Bruto e um déficit que o Governo está tentando manter abaixo de 3% mediante severos cortes de despesa, a economia húngara se encontra em uma delicada situação.

Além disso, o forinte, a moeda nacional, se depreciou 6% com relação ao euro nas últimas semanas, enquanto as três grandes agências qualificadoras colocaram a dívida soberana do país ao nível de 'bônus lixo', o que dificultou o financiamento da dívida soberana húngara nos mercados.


Os bônus a dez anos da dívida húngara já alcançaram uma taxa de juros de 10%. Com esse panorama, Orbán e seus ministros começaram a modificar seu discurso nos últimos dias e a falar de sua disposição de dialogar, da vontade de acordo e da necessidade de chegar a um pacto rápido com o FMI e a UE.

Hoje mesmo, a Comissão Europeia advertiu que poderia ditar sanções contra a Hungria por seu déficit excessivo, ao considerar que não fez o suficiente para corrigir esse desequilíbrio.

Em qualquer caso, Éva Palócz afirmou que é 'quase certo' de que a Hungria possa finalmente conseguir o empréstimo, algo que trará o efeito positivo de que o FMI supervisionará a política econômica do país.

O acordo poderia levar a um crescimento de 0,3% do PIB em 2012, escapando da recessão, e se traduziria em um fortalecimento do forinte e diminuição dos juros a pagar pela dívida, opinou a economista.

Os mercados continuam pendentes de passos concretos em Budapeste. O forinte se recuperou levemente esta manhã, após o anúncio de que o comissário europeu de Assuntos Econômicos e Monetários, Olli Rehn, se reunirá no dia 20 com um ministro húngaro para abordar a polêmica lei e o empréstimo solicitado por Budapeste.

Caso fracassem os contatos e o país fique sem ajuda internacional, o Governo ainda poderia recorrer ao plano B dos 37,7 bilhões de euros de reservas em poder do Banco Central, uma opção que Éva Palócz considera que reduziria ainda mais a confiança dos mercados na economia húngara.

Apesar do tamanho médio da economia húngara, uma quebra afetaria países como a Áustria, que conta com importantes investimentos na Hungria, especialmente no setor bancário. 

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