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Governo francês pede "calma" no país após protestos por morte de jovem em ação policial

A tragédia, que provocou a retomada do debate sobre a violência policial na França, aconteceu na manhã de terça-feira

O caso provocou vários atos de distúrbios em Nanterre na terça-feira à noite e durante a madrugada de quarta-feira (AFP/AFP Photo)

O caso provocou vários atos de distúrbios em Nanterre na terça-feira à noite e durante a madrugada de quarta-feira (AFP/AFP Photo)

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Agência de notícias

Publicado em 28 de junho de 2023 às 12h50.

Última atualização em 28 de junho de 2023 às 12h51.

O governo da França fez um apelo nesta quarta-feira, 28, por "calma" depois que a morte de um jovem atingido por um tiro da polícia provocou distúrbios em um subúrbio de Paris, além de muitas críticas de políticos e celebridades, como o astro do futebol Kylian Mbappé e o ator Omar Sy.

"Entendemos o desejo de resposta e queremos que aconteça com total transparência", afirmou o porta-voz do governo, Olivier Véran, ao mesmo tempo que fez um "apelo à calma nesta situação tão particular e de emoção muito forte".

A tragédia, que provocou a retomada do debate sobre a violência policial na França, aconteceu na manhã de terça-feira em Nanterre, na periferia oeste de Paris, durante uma abordagem policial a um jovem de 17 anos que dirigia um carro amarelo.

Um vídeo que circula nas redes sociais, verificado pela AFP, mostra o momento em que dois agentes apontam armas para o motorista e atiram à queima-roupa quando ele acelera com o veículo. Na gravação é possível ouvir a frase "você vai tomar um tiro na cabeça", mas não está claro quem pronuncia as palavras.

A fuga do jovem terminou alguns metros adiante, quando o carro bateu contra um poste. A vítima, Naël M., faleceu pouco depois de ter sido atingido por um tiro no tórax.

"Nada, nada justifica a morte de um jovem", afirmou em Marselha o presidente centrista Emmanuel Macron, que pediu à "justiça" para examinar o ato "indesculpável".

O caso provocou vários atos de distúrbios em Nanterre na terça-feira à noite e durante a madrugada de quarta-feira, com o balanço de 31 detidos, 24 policiais levemente feridos e 40 carros incendiados, segundo as autoridades.

O ministro do Interior, Gérald Darmanin, anunciou a mobilização de 2.000 policiais e gendarmes durante a quarta-feira nos subúrbios ao oeste da capital francesa para evitar novos distúrbios.

A primeira-ministra francesa, Élisabeth Borne, disse esperar que sua "exigência absoluta pela verdade permita que o apaziguamento prevaleça sobre aira".

A mãe da vítima convocou, em uma mensagem na rede social TikTok, uma passeata em homenagem a Naël na tarde de quinta-feira em Nanterre, perto do local da morte. "É uma revolta por meu filho".

Situação inaceitável

As forças de segurança na França são acusadas com frequência de abusos ou uso excessivo da força, como durante os protestos recentes contra a reforma da Previdência.

Porém, a tragédia mais recente provocou uma onda de indignação. A França registrou 13 mortes em 2022 durante incidentes similares ao de Naël em operações da polícia para controlar o trânsito.

"A pena de morte não existe mais na França. Nenhum policial tem o direito de matar, exceto em caso de legítima defesa", tuitou o político de esquerda Jean-Luc Mélenchon.

Além da oposição de esquerda, astros do futebol e celebridades se uniram às críticas e pediram uma "justiça digna", nas palavras do ator Omar Sy.

"Estou sofrendo pela minha França. Uma situação inaceitável", tuitou o atacante Kylian Mbappé, do Paris Saint-Germain (PSG), que expressou pêsames à família de Naël, "um anjo que nos deixou muito cedo".

Em novembro de 2020, Mbappé reagiu à agressão que o produtor musical negro Michel Zecler sofreu de policiais em Paris. Na ocasião, o atleta denunciou uma violência "inadmissível".

Jules Koundé, jogador do FC Barcelona, também reagiu contra o que chamou de "novo abuso policial" e chamou a situação de "dramática".

Darmanin afirmou na terça-feira que as imagens da operação são "muito impactantes", mas pediu que todos respeitem o "luto" dos parentes da vítima e a "presunção de inocência" dos policiais.

O agente de 38 anos suspeito de atirar contra o jovem está sob custódia da polícia.

A justiça abriu duas investigações: uma por homicídio doloso por parte de um funcionário público e outra pela recusa da vítima a obedecer ordens e tentativa de homicídio doloso contra um funcionário público.

Em maio, vários países expressaram preocupação na ONU com a violência policial e a discriminação racial na França.

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