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Autoridades do Líbano já sabiam de risco de explosão há anos, diz TV

Investigação da rede Al Jazeera com base em documentos públicos mostrou que a mercadoria que explodiu em Beirute chegou ao Líbano em 2013

Explosão em Beirute: mais de 100 mortos (Mohamed Azakir/Reuters)

Explosão em Beirute: mais de 100 mortos (Mohamed Azakir/Reuters)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 5 de agosto de 2020 às 09h53.

Última atualização em 5 de agosto de 2020 às 11h39.

Após a explosão no Líbano que deixou mais de 100 mortos e milhares de feridos na tarde de terça-feira, 4, as principais investigações apontam que o caso foi acidental e que a explosão veio de material no porto da região.

Mas parte do motivo pela explosão pode ter sido a negligência das autoridades. A rede de televisão especializada em cobertura do mundo árabe Al Jazeera compilou documentos e outros materiais públicos dos últimos anos para mostrar que o governo do Líbano já sabia da existência de nitrato de amônia no porto há seis anos.

Segundo a publicação, funcionários públicos libaneses e juízes foram informados da existência da carga e sabiam também que o material era perigoso e altamente explosivo.

A carga com nitrato de amônio chegou ao Líbano em 2013, segundo informações oficiais dos órgãos responsáveis pelo porto. O navio, de origem russa e com destino a Moçambique, teve de atracar no porto de Beirute por problemas técnicos. O navio terminou sendo abandonado por sua tripulação diante dos problemas. A carga com o nitrato também foi, dessa forma, deixada no porto.

Meses depois, já em 2014, autoridades da Administração Aduaneira do Líbano enviaram à Justiça um pedido de solução para o armazenamento da carga. O pedido está registrado em documentos online.

Nos próximos anos, outras cinco cartas teriam sido enviadas pedindo soluções para o problema. A última foi em outubro de 2017. Entre as soluções propostas, estava a exportações do nitrato de amônio, além de pedidos para que ele fosse entregue ao exército do Líbano ou, eventualmente, vendido a uma empresa privada de explosivos do país.

Ao menos até 2016, segundo os registros, as autoridades do porto não tinham obtido nenhuma resposta. As cartas citavam "o perigo" para trabalhadores e frequentadores da região ao "deixar essas mercadorias onde estão".

Investigação

Ontem, após a tragédia, o presidente do Líbano, Michel Aoun, disse ontem que a falha em lidar com o nitrato no porto foi "inaceitável" e que os culpados seriam responsabilizados. O país começou uma investigação sobre o caso e deve reportar os resultados à Justiça em cinco dias.

Antes de se rastrear a carga que explodiu no porto, a suposição inicial era de que a explosão havia sido causada por materiais químicos de uma fábrica de fogos de artifício.

As explosões no porto de Beirute foram sentidas até na ilha de Chipre, a 163 quilômetros do Líbano. Segundo a imprensa local, moradores relataram ter ouvido dois grandes estrondos, um após o outro. Na capital, Nicosia, moradores disseram que algumas construções tremeram.

O incidente acontece em meio a uma das maiores crises econômicas da história do Líbano. O país sofre com uma dívida de 170% do PIB e os moradores começaram a enfrentar restrições como falta de energia elétrica e internet.

Por muitas décadas, Beirute foi um oásis de calma – e diversão – no Oriente Médio, atraindo desde europeus endinheirados em busca de belas praias e festas animadas até príncipes e princesas do Golfo Pérsico que investiam em apartamentos suntuosos e iates. A vida glamourosa, no entanto, aos poucos foi se desvanecendo.

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