O líder do Hamas Ismail Haniya (c) e o premier palestino, Rami Hamdallah (2e), participam de uma entrevista coletiva em Gaza (Said Khatib/AFP)
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2014 às 15h32.
Gaza - O governo de união palestino se reuniu nesta quinta-feira, em Gaza, pela primeira vez desde a sua formação, em junho, depois de anos de hostilidades entre o movimento radical Hamas, que governa o território, e a Autoridade Palestina, que administra a Cisjordânia.
O conselho de ministros tentará transmitir a mensagem de que usará corretamente os fundos destinados à reconstrução da Faixa de Gaza depois da guerra recente com Israel antes da conferência de doadores, que será realizada domingo no Cairo.
"O que vimos é espantoso e doloroso, e nos mostra claramente que reconstruir é a primeira de nossas prioridades", declarou o primeiro-ministro Rami Hamdallah, após constatar a destruição causada pelos bombardeios israelenses de julho e agosto.
"Deixamos para trás os anos de divisões, e a prioridade deste governo é garantir aos habitantes de Gaza um retorno à normalidade e a união com a Cisjordânia", afirmou.
Os potenciais doadores da Conferência do Cairo temem investir novamente na reconstrução de um território que acaba de sair de sua terceira guerra em seis anos.
Após anos de divisões, o Hamas e a Organização pela Libertação da Palestina (OLP), que tem como principal integrante o Fatah, assinaram em abril um acordo de reconciliação que em junho deu lugar a um governo de união formado por autoridades independentes, sem lealdade a um lado ou outro.
O primeiro-ministro, cumprimentado por líderes do Hamas em sua chegada, foi mantido sob máxima proteção durante visita às ruínas do território.
Em uma coletiva de imprensa conjunta, o ex-primeiro-ministro do Hamas em Gaza, Ismail Haniyeh, comemorou o fim das divisões que, segundo ele, afetaram a nação palestina e a política local por muitos anos.
Ele ressaltou a necessidade de "trabalhar em conjunto para que este governo seja bem-sucedido em sua missão".
A guerra travada por Israel em Gaza nos meses de julho e agosto deixou mais de 2.100 mortos do lado palestino, em sua maioria civis, e mais de 70 entre os israelenses, incluindo 66 soldados.
Além disso, milhares de construções e estruturas vitais foram destruídas.
A guerra afundou ainda mais a economia palestina, que já estava em situação crítica, com uma taxa de desemprego de 45% da população ativa antes do conflito, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).
A reunião desta quinta-feira é fundamental diante da conferência de doadores que será realizada no dia 12 de outubro no Cairo, já que muitos governos condicionam sua ajuda para a reconstrução de Gaza à presença de um governo de união no enclave palestino, já que o Hamas é considerado um grupo terrorista pelos Estados Unidos e pela União Europeia.
No início de setembro, especialistas palestinos estimaram em seis bilhões de euros os custos para a reconstrução de Gaza e afirmaram que este processo levaria cinco anos, caso o bloqueio ao território imposto por Israel fosse totalmente suspenso.
Para esta missão, grande parte da comunidade internacional aposta em um retorno da Autoridade Palestina, do líder Mahmud Abbas, à Faixa de Gaza.
O Hamas tomou o poder na Faixa de Gaza em 2007, e a Autoridade Palestina precisou se contentar em administrar os territórios autônomos da Cisjordânia, separados fisicamente da Faixa de Gaza pelo território israelense.
A reconciliação entre os dois grupos permitiu o estabelecimento de um governo de transição constituído por tecnocratas aprovados por ambas as organizações palestinas.
Esse governo de "consenso nacional" prestou juramento em 2 de junho e é formado por 17 ministros, entre eles cinco da Faixa de Gaza.