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Governo de união nacional assume o poder na Ucrânia

Maioria arrasadora de 371 deputados dos 417 presentes na câmara apoiou candidatura de Yatseniuk, líder do principal partido do país, o Batkivschina (Pátria)


	Yatseniuk, premiê ucraniano: "Este será um governo de suicidas políticos. Tenho certeza que não nos faltarão forças. Conosco está Deus e a Ucrânia. Glória à Ucrânia!"
 (Konstantin Chernichkin/Reuters)

Yatseniuk, premiê ucraniano: "Este será um governo de suicidas políticos. Tenho certeza que não nos faltarão forças. Conosco está Deus e a Ucrânia. Glória à Ucrânia!" (Konstantin Chernichkin/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 27 de fevereiro de 2014 às 16h41.

Kiev - Um governo de união nacional assumiu nesta quinta-feira o poder na Ucrânia com o tecnocrata Arseni Yatseniuk como primeiro-ministro, sob a sombra do deposto Viktor Yanukovich que reapareceu hoje alegando que é o presidente legítimo do país.

"Este será um governo de suicidas políticos. Tenho certeza que não nos faltarão forças. Conosco está Deus e a Ucrânia. Glória à Ucrânia!", afirmou Yatseniuk, de 39 anos, após receber o apoio do Parlamento.

Apenas seis dias depois da destituição de Yanukovich por abandonar suas funções e após três meses de manifestações pacíficas que acabaram degenerando em violentos distúrbios, a Ucrânia volta a ter governo.

Uma maioria arrasadora de 371 deputados dos 417 presentes na câmara apoiou a candidatura de Yatseniuk, que é o líder do principal partido do país, o Batkivschina (Pátria), criado pela recém libertada ex-primeira-ministra Yulia Tymoshenko.

Após receber o respaldo parlamentar, Yatseniuk, um dos líderes dos protestos contra Yanukovich, apresentou os membros do Executivo que marcará os desígnios deste país até as eleições presidenciais do próximo dia 25 de maio.

O Executivo provisório é um coquetel de tecnocratas, ativistas opositores e representantes da Praça da Independência, bastião da oposição desde 21 de novembro, conhecidos mais por sua autoridade moral que por seus conhecimentos.

Os tecnocratas se encarregarão da Economia, das Relações Exteriores e da Defesa, enquanto os representantes da Praça receberam como prêmio as pastas de Cultura, Saúde e Segurança Nacional, e possivelmente os departamentos de Anticorrupção e Depuração, que se dedicarão a pedir contas do antigo governo.

Em seu discurso programático, Yatseniuk fez uma firme defesa da integridade territorial da Ucrânia e pediu que a vizinha Rússia não apoie o separatismo, em particular na península da Crimeia, cujo Parlamento convocou hoje um referendo para ampliar sua autonomia, que será realizada também em 25 de maio.


"A Crimeia foi, é e será parte da Ucrânia", disse o novo primeiro-ministro, ao mesmo tempo em que advertiu que "a Ucrânia utilizará todos os métodos legais e constitucionais para conservar a integridade territorial do Estado".

Yatseniuk não duvidou em desfraldar o Memorando de Budapeste de dezembro de 1994 no qual os signatários - Rússia, Estados Unidos e Reino Unido - se comprometeram a "respeitar a independência, a soberania e as fronteiras existentes da Ucrânia".

Além disso, advogou por assinar o acordo de associação com a União Europeia (UE), detonante dos protestos do último dia 21 de novembro, documento que deveria vir acompanhado da isenção de vistos aos ucranianos que queiram viajar aos países do bloco.

No âmbito econômico, denunciou que o antigo governo transferiu com destino a paraísos fiscais quase US$ 70 bilhões nos últimos três anos e que a dívida estatal ascende a US$ 75 bilhões, o dobro que em 2010, quando Yanukovich chegou ao poder.

"Os cofres do Estado foram desfalcados e estão vazios. Não temos outra opção. Será preciso adotar decisões muito impopulares, os subsídios serão cortados", disse Yatseniuk, lembrando que a Ucrânia deve US$ 3 bilhões à China e US$ 1,8 bilhões à Rússia.

Contudo, Yatseniuk se manifestou convencido que a situação financeira se estabilizará assim que chegar o dinheiro do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Também se comprometeu a organizar eleições presidenciais democráticas a fim de que a Ucrânia tenha um chefe de Estado livremente eleito, cargo aspirado entre outros pelo ex-boxeador Vitali Klitschko, considerado o político com maior gancho eleitoral.

Além disso, entre outras medidas, o Parlamento aprovou as candidaturas do ministro das Relações Exteriores, o diplomata de carreira Andrei Deshitsia; do ministro da Economia, o professor universitário, Pavel Sheremeta; e do titular da Defesa, o almirante Igor Teniuj.

Dezenas de milhares de manifestantes deram ontem à noite o sinal verde ao governo provisório liderado por Yatseniuk durante uma assembleia popular realizada na Praça da Independência de Kiev.

Por sua vez, o presidente destituído, Viktor Yanukovich, quebrou hoje o silêncio que mantinha desde que foi derrubado com uma mensagem divulgada pela agência russa "Interfax", que acabou com as dúvidas sobre se o político se encontra refugiado em território russo.

"Me considero o chefe legítimo do Estado ucraniano, eleito pela vontade livremente expressa dos cidadãos ucranianos", assinala o texto.

Yanukovich, que oferecerá amanhã na cidade russa de Rostov del Don uma entrevista coletiva, denunciou "ameaças de represálias", motivo pelo qual teve que pedir às autoridades russas que garantam sua segurança pessoal perante ações extremistas.

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