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Governo da Romênia revoga decreto que descriminaliza corrupção

"O governo aprovou o projeto de revogação do decreto", anunciou o Executivo após reunião extraordinária

Romênia: cerca de meio milhão de pessoas protestaram neste domingo, segundo estimativas (Stoyan Nenov)

Romênia: cerca de meio milhão de pessoas protestaram neste domingo, segundo estimativas (Stoyan Nenov)

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AFP

Publicado em 6 de fevereiro de 2017 às 09h21.

O governo da Romênia revogou neste domingo um decreto aprovado na última terça-feira que descriminalizava atos de corrupção e gerou protestos em massa no país.

"O governo aprovou o projeto de revogação do decreto", anunciou o Executivo social-democrata, cujos ministros participaram hoje de uma reunião extraordinária, frente ao maior movimento de protestos desde a queda do comunismo, em 1989.

Os romenos continuaram mobilizados neste domingo, com novas manifestações, para manter a pressão sobre o governo social-democrata.

"Espero que seja uma anulação verdadeira. Disseram que nos ouvirão, mas querem levar outro texto para o Parlamento. Vamos estar atentos, para que não nos enganem", disse Daniel, 35, expressando a desconfiança de muitos romenos, que também pedem a saída do atual governo.

Cerca de meio milhão de pessoas protestaram neste domingo, de acordo com estimativas de redes de televisão locais.

Esses canais informaram sobre manifestações de entre 200 e 300.000 pessoas em Bucareste, 45.000 em Cluj-Napoca e 40.000 em Timisoara. A esses balanços devem-se somar mobilizações em outras cidades e povoados país.

Muitos dos manifestantes pedem a renúncia do governo social-democrata de Sorin Grindeanu.

O primeiro-ministro social-democrata Sorin Grindeanu descartou renunciar e disse em uma entrevista pela televisão, que tem "uma responsabilidade com quem que votou" em seu partido nas eleições legislativas de 11 de dezembro.

O decreto foi aprovado na última terça-feira pelo governo sem passar pelo Parlamento. Desde então, entre 200 mil e 300 mil pessoas saem às ruas diariamente para protestar.

"Não acreditamos", dizia, horas antes da revogação, o eletricista Florian, 40, na praça Victoriei, onde afirmou que o número de manifestantes será recorde, como nos últimos dias.

"Ainda há muita corrupção no governo, no Senado, em todo lado. Não aguentamos mais. Queremos líderes competentes, que governem para o povo, não para si mesmos e suas contas bancárias", criticou.

As manifestações dos últimos dias são históricas no país, de 20 milhões de habitantes, que enfrentou vários períodos de instabilidade política desde a queda da ditadura comunista, em 1989.

O primeiro-ministro, no cargo há um mês, disse que revogou o texto "para não dividir a Romênia".

Entre outras coisas, o decreto polêmico estabelecia um montante mínimo de 44 mil euros para começar a investigar crimes financeiros, e reduzia as penas por corrupção.

Gritos de vitória

O anúncio da noite de ontem foi recebido aos gritos de vitória por manifestantes reunidos em frente à sede do governo, em Bucareste, epicentro dos protestos, mas também em muitas cidades do país, com um total de 300 mil pessoas nas ruas, segundo a imprensa.

O premier afirmou que a reforma tinha o objetivo de alinhar o código penal à Constituição, bem como diminuir o número de presos.

Mas diante dos protestos, Grindeanu promete agora um novo projeto de lei, sem o mínimo de 44 mil euros.

Os manifestantes temem um retrocesso na luta contra a corrupção em relação aos últimos anos, quando, sob pressão da União Europeia (UE) e de juízes, os tribunais instruíram centenas de casos de corrupção, um giro histórico na Justiça do país.

O governo já havia sido criticado por querer proteger o líder do Partido Social-Democrata (PSD), Liviu Dragnea, 54, julgado por empregos fictícios.

Dragnea afirma que o decreto não o beneficiava, e que se trata de uma campanha de desinformação. Ele já está inabilitado pela Justiça, que o condenou no ano passado a dois anos de prisão com direito a sursis por fraude eleitoral. Seu julgamento por abuso de poder no caso de empregos fictícios começou na terça-feira.

O PSD, expulso em 2015 por grandes manifestações contra a corrupção, voltou a vencer nas eleições de dezembro passado.

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