A primeira coisa para a Itália será ser reconhecida, a segunda ser respeitada, disse Conte (Tony Gentile/Reuters)
AFP
Publicado em 6 de junho de 2018 às 16h10.
O novo chefe do governo populista italiano, Giuseppe Conte, tomou posse oficialmente nesta quarta-feira (6) após o último voto de confiança do Parlamento sobre um programa que vira as costas à austeridade, mas não à Europa.
Depois de obter a confiança do Senado na terça-feira, Conte o recebeu nesta quarta (6) na Câmara dos Deputados, onde a maioria do governo é mais confortável, por 350 votos a favor, 236 contra e 35 abstenções.
O novo chefe de governo, que seguia lecionando direito há menos de uma semana, deve agora voar para sua primeira excursão internacional na cúpula do G7 nesta sexta-feira e sábado no Canadá.
"A primeira coisa para a Itália será ser reconhecida, a segunda ser respeitada", disse ele à imprensa.
Desconhecido dos italianos antes de ser escolhido pelo Movimento Cinco Estrelas (M5E, antissistema) e pela Liga (extrema-direita), Giuseppe Conte, de 53 anos, pronunciou na terça-feira diante do Senado o seu discurso político geral, defendendo o programa do primeiro governo populista em um país fundador da União Europeia.
E se ele pretende reduzir a enorme dívida pública da Itália, a maior em relação ao PIB na zona do euro depois da dívida da Grécia, não será por meio de medidas de austeridade, segundo confirmou.
A fim de tranquilizar os parceiros da Itália na UE, este professor de direito confirmou as raízes europeias e atlânticas do seu país.
Mas quanto às missões da Otan, ele introduziu nesta quarta-feira a ideia que elas seriam "analisadas com serenidade e prudência, caso a caso". Segundo a imprensa, seria sobretudo por razões orçamentárias.
Na terça, ele reiterou sua vontade de trabalhar uma política de "abertura" em relação à Rússia, importante parceiro econômico de empresas italianas, conforme os compromissos de campanha da Liga e do M5E.
Apesar de lembrar o apego à Europa, parece não ter sido capaz de desfazer todas as ambiguidades, apontou nesta quarta-feira o jornal Corriere della Sera.
Sobre qual Europa Conte fala, quando seu vice-primeiro-ministro Matteo Salvini, chefe da Liga, disse que conversou com o primeiro-ministro húngaro Viktor Orban e que ambos prometeram trabalhar juntos para "mudar as regras" da UE?
Algumas autoridades europeias também têm dúvidas sobre o custo das medidas fiscais, econômicas e sociais previstas pelo "contrato de governo" assinado pela Liga e pelo M5E, que Conte disse ser o "fiador".
"Estamos atravessando bem o verão, mas haverá problemas no outono, mesmo que o novo governo implemente apenas 50% do que planejou", prevê Klaus Regling, diretor do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), fundos criados pela União Europeia para ajudar os Estados-Membros em dificuldades, citados pelo jornal alemão Handelsblatt.
E, deste ponto de vista, Conte confirmou os objetivos contidos no "contrato" de seu governo: redução da tributação, luta contra a imigração ilegal, "renda cidadã" para os mais pobres, etc.
Mas ele não deu detalhes sobre o financiamento dessas medidas que poderiam representar dezenas de bilhões de euros. E enquanto reiterou o desejo de seu governo de introduzir um 'flat tax', um imposto de renda fixo de 15% e 20%, não forneceu nenhuma data. Idem para renda cidadã.
Nada que possa tranquilizar os mercados financeiros ou alguns países europeus.
Nesta quarta, diante dos deputados, ele voltou a abordar vários assuntos, sem apagar as dúvidas, evocando o fato de seu governo ainda não ter sido completamente constituído - faltam vice-ministros e secretários de Estado - para explicar a falta de anúncios concretos.