Mundo

Governo chinês pergunta: 'Quem é Elton John?'

"Não conheço essa pessoa", disse Hong Lei, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês


	Elton John: o Governo chinês assegura que não tem nem a mais remota ideia de quem seja o ícone do pop britânico
 (Jamie McCarthy/Getty Images)

Elton John: o Governo chinês assegura que não tem nem a mais remota ideia de quem seja o ícone do pop britânico (Jamie McCarthy/Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 27 de novembro de 2012 às 16h06.

Pequim - Embora Elton John comova sua audiência ao dedicar no domingo seu show em Pequim ao artista e dissidente Ai Weiwei, o Governo chinês assegura que não tem nem a mais remota ideia de quem seja o ícone do pop britânico.

"Não conheço essa pessoa", disse Hong Lei, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, quando em sua entrevista coletiva diária foi-lhe perguntado sobre a reação de Pequim após a espontânea dedicatória de Elton John.

A contundência de Hong ao negar ter ouvido falar do astro britânico se contradiz, no entanto, com o intenso contato que os artistas internacionais mantêm com o regime comunista para receber o sinal verde das autoridades e fazer show na potência asiática.

Durante o árduo processo, os "candidatos" a atuar na China se veem obrigados a, entre outras muitas coisas, enviar às autoridades pertinentes uma lista das canções selecionadas, além de uma detalhada tradução para o mandarim de suas letras, como ocorreu no ano passado com Bob Dylan.

Mas o aparelho censor chinês não chegou a tempo de desligar o microfone de John quando - ao estilo do apelo pró-tibetano da islandesa Björk em um show em 2008 - ele fez uma pausa em sua apresentação para afirmar: "Dedico o show ao espírito e talento de Ai Weiwei".

A inesperada dedicatória surpreendeu Ai entre o público da abarrotada sala "MasterCard" no domingo. Ainda comovido com as palavras de John, o artista chinês asseverou nesta terça-feira à Agência Efe que se trata de um gesto de "especial transcendência".

"Seu valor e paixão fizeram-me sentir extremamente feliz e também muito impressionado. Arriscou muito ao dizer isso diante de tanta gente", diz o artista em seu estúdio de Pequim, no qual esteve sob prisão domiciliar até o semestre passado, após um ano de um confinamento quase total.


O famoso dissidente chinês, de 55 anos, não conhecia pessoalmente o cantor, dez anos mais velho, até o domingo. Ai, muito prolífico nas redes sociais - apesar do controle que pesa sobre elas na China -, tinha acenado em seu "Twitter" ao cantor britânico antes do show com uma mensagem direta.

"Gosto muito de Elton John", escreveu, e pouco depois colocou na rede uma foto de ambos no camarim de John, momentos antes de o transgressor cantor de "Candle in the Wind" subir ao palco para cantar para mais de 10.000 pessoas.

Ai destacou que o "apoio de um artista a outro" é neste caso "uma reivindicação de grande importância, já que há muita gente na China que gosta dele e muitas pessoas puderam escutá-lo com clareza".

Para Ai, conhecido por seu peculiar estilo combativo, as palavras de John transmitiram "valores muito importantes que defendem a dignidade humana".

"Havia muita gente jovem frente a um artista que o mundo respeita. Transmitiu a mensagem de que a arte e a música servem para levantar a bandeira da liberdade e defendê-la", disse um Ai bastante mais eloquente do que de costume.

O artista, que contribuiu para o projeto do estádio "Ninho do Pássaro", ainda tem problemas com as autoridades chinesas e, embora possa sair de sua casa sem informar à Polícia, não pode deixar o país.

Apesar das restrições a sua liberdade de movimento e das tentativas de Pequim de estreitar o cerco à internet - sua principal ferramenta de expressão -, Ai se alegra de que Elton John tenha demonstrado com sua dedicatória "às pessoas no poder que a liberdade nunca pode ser freada". 

Acompanhe tudo sobre:ÁsiaChinaElton JohnPolítica no BrasilProtestos

Mais de Mundo

Relatório da Oxfam diz que 80% das mulheres na América Latina sofreram violência de gênero

Xi Jinping conclui agenda na América do Sul com foco em cooperação e parcerias estratégicas

Para ex-premier britânico Tony Blair, Irã é o principal foco de instabilidade no Oriente Médio

Naufrágio de iate turístico deixa pelo menos 17 desaparecidos no Egito