Agência de notícias
Publicado em 16 de fevereiro de 2025 às 09h22.
O governo argentino anunciou uma "investigação urgente" sobre o lançamento de uma criptomoeda promovida pelo presidente Javier Milei na sexta-feira. O ativo teve aumento exponencial em seu preço, mas despencou de valor horas depois de uma publicação nas redes sociais do ultraliberal em meio a acusações de fraude e pedidos de um "julgamento político".
Segundo imagens reproduzidas pela imprensa local, Milei teria postado uma mensagem no X, fixada em seu perfil por mais de cinco horas, com um link para uma iniciativa chamada "Projeto Viva La Libertad", que emulava seu slogan "Viva a liberdade, caral**".
"O mundo quer investir na Argentina. $LIBRA", dizia a mensagem do presidente publicada na sexta-feira, com o nome do token, uma unidade de valor digital baseada na tecnologia blockchain que não é lastreada por dinheiro real.
A criptomoeda $LIBRA era "um projeto privado" que seria dedicado a "incentivar o crescimento da economia argentina, financiando pequenos negócios e startups argentinos".
Mas economistas e especialistas em criptomoedas na Argentina, bem como representantes do espectro político da oposição, rapidamente criticaram Milei e apontaram que esse ativo digital poderia ser um golpe ou esquema de pirâmide.
Horas depois, o presidente apagou a mensagem promovendo a criptomoeda.
"Eu não estava ciente dos detalhes do projeto e depois de tomar conhecimento dele decidi não continuar a divulgá-lo", explicou Milei no sábado, no X.
À medida que as críticas aumentavam, a Presidência argentina anunciou na noite de sábado que, "à luz dos acontecimentos", Milei "decidiu encaminhar imediatamente o assunto ao Escritório Anticorrupção (OA) para determinar se houve conduta imprópria por parte de qualquer membro do governo nacional, incluindo o próprio presidente".
Ele também anunciou a criação de uma "Força-Tarefa Investigativa" na órbita do presidente, encarregada de "iniciar uma investigação urgente sobre o lançamento da criptomoeda $LIBRA e todas as empresas ou pessoas envolvidas nesta operação", acrescentou a Presidência em um comunicado no X.
De acordo com a revista The Kobeissi Letter, especializada no mercado de capitais, quase 80% do ativo $LIBRA estava nas mãos de poucos detentores antes do apoio de Milei.
Seguindo a mensagem do presidente, seu valor cresceu exponencialmente, de décimos para um pico de US$ 4,978 — os detentores originais começaram a vender com lucro de milhões, mas o valor do ativo despencou.
"O que aconteceu é o que no mundo dos títulos negociáveis é chamado de 'tapete puxado'", disse à AFP Javier Smaldone, especialista em informática e renomado influenciador digital dedicado a expor esquemas de pirâmide. "Uma criptomoeda é criada, o que também pode ser feito com ações, é dada liquidez inicial para que o que foi criado valha alguma coisa e então uma campanha publicitária de algum tipo é iniciada para atrair pessoas", explicou, sobre o papel que a promoção de Milei poderia ter desempenhado.
O especialista detalhou que, à medida que "as pessoas vão comprando, o valor daquele ativo vai subindo (...) até que chega um momento em que aqueles que administram a liquidez retiram o dinheiro, e a coisa entra em colapso".
Segundo Smaldone, toda a operação durou "cerca de duas horas" e envolveu um volume de aproximadamente US$ 4,4 bilhões.
"O que foi descoberto até agora é que o dinheiro que eles roubaram em torno de 107 milhões de dólares", disse ele sobre o valor fraudado, acrescentando: — Provavelmente é mais.
Também no sábado, o bloco União pela Pátria, liderado pelo peronismo na Câmara dos Deputados do Congresso Nacional, anunciou que na segunda-feira apresentará "um pedido de impeachment contra o Presidente da Nação" em razão do ocorrido.
Figuras da oposição denunciaram a medida, incluindo a ex-presidente (2007-2015) e líder do peronismo Cristina Kirchner, que em sua conta no X chamou Milei de "golpista de criptomoedas" e disse que ele operava "como um gancho para um golpe digital".