Cabul - O presidente afegão, Hamid Karzai, disse nesta quarta-feira que seu governo não vai participar das negociações de paz dos EUA com o Taleban enquanto as conversas não forem encabeçadas pelos próprios afegãos. Ele anunciou também a suspensão da negociação de um pacto militar com Washington.

Autoridades dos EUA anunciaram que o diálogo com o Taleban será iniciado na quinta-feira em Doha, capital do Catar, o que gera a expectativa de uma paz negociada no Afeganistão após 12 anos de uma sangrenta guerra que põe forças governamentais e estrangeiras contra insurgentes islâmicos.

Mas os combates continuam. Quatro soldados dos EUA foram mortos na noite de terça-feira por um foguete que atingiu o quartel de Bagram, nos arredores de Cabul, segundo militares.

"Enquanto o processo de paz não for comandado por afegãos, oAlto Conselho da Paz não irá participar das discussões no Catar", disse Karzai em nota, referindo-se a um órgão que ele criou em 2010 para negociar a paz com o Taleban.

Uma fonte oficial afegã disse que o governo está insatisfeito com o status oficial conferido ao Taleban, que na terça-feira inaugurou um escritório em Doha.

O Taleban não confirmou a data das negociações, e não houve comentários imediatos sobre se as discussões serão afetadas pelas objeções diplomáticas afegãs. Uma delegação dos EUA já chegou ao Catar para a reunião, segundo uma fonte diplomática.

Karzai disse que a inauguração de um escritório do Taleban no Catar mostra que os EUA descumpriram promessas feitas ao Estado afegão sobre a função daquele escritório.

"A bandeira do Taleban e a faixa do Emirado Islâmico eram coisas que não esperávamos", disse a fonte, referindo-se ao nome Emirado Islâmico do Afeganistão, adotado oficialmente pelo país na época em que o Taleban o governou.

Na terça-feira, Karzai havia dito que seu governo também enviaria uma delegação ao Catar, mas que as negociações de paz deveriam ser rapidamente transferidas para o Afeganistão.

O gabinete de Karzai disse que ele suspendeu a negociação do pacto de segurança com os EUA, que estipulará quantos militares norte-americanos permanecerão no país a partir de 2014, depois da retirada da maior parte do contingente.

"Diante da contradição entre atos e declarações por parte dos Estados Unidos da América a respeito do processo de paz, o governo afegão suspendeu as negociações", disse o gabinete presidencial em nota.