Pessoas passam por um poster do general Abdel Fattah al-Sisi no centro de Cairo, no Egito (Mohamed Abd El Ghany/Reuters)
Da Redação
Publicado em 26 de março de 2014 às 19h17.
Cairo - Abdel Fattah al-Sisi, o general egípcio que depôs o primeiro presidente livremente eleito do seu país, anunciou formalmente nesta quarta-feira que se candidatará na eleição presidencial, que deve vencer com folga.
Sisi, que em julho derrubou o presidente Mohamed Mursi, da Irmandade Muçulmana, depois de protestos em massa contra o governo, prometeu lutar contra o que chamou de ameaça terrorista enfrentada pelo Egito, numa referência aos atentados que aumentaram drasticamente desde o último semestre.
"É verdade, hoje é meu último dia em uniforme militar, mas vou continuar a lutar todos os dias por um Egito livre do medo e do terrorismo", disse Sisi, ainda em trajes militares, em um discurso televisionado.
Sisi teve de renunciar aos cargos de chefe do Exército e ministro da Defesa para poder disputar a eleição.
Buscando conter algumas das altíssimas expectativas da população, Sisi avisou que não poderá realizar "milagres" em um país de 85 milhões de habitantes e que está mergulhado na pobreza.
"Eu não posso fazer milagres. Ao contrário, proponho trabalho árduo e abnegação", disse ele.
"Nós temos de ser sinceros com nós mesmos: nosso país enfrenta grandes desafios. Nossa economia está fraca. Há milhões de jovens que sofrem com o desemprego no Egito. Isso é inaceitável." Se Sisi for eleito, como se prevê de modo geral, o Egito voltará aos dias em que era liderado por homens do meio militar -- um padrão interrompido pelo ano em que Mursi esteve no cargo, depois que venceu a primeira eleição presidencial democrática no país.
Sisi assumiria a liderança de um país afetado por três anos de turbulência política. Desde o afastamento de Mursi do poder, o Egito vem atravessando o pior conflito interno em sua história moderna.
Mortes
As forças de segurança mataram centenas de partidários de Mursi depois de sua remoção do poder, enquanto a polícia e os soldados se tornaram os principais alvos de uma campanha de atentados e tiroteios.
A instabilidade voltou à tona nesta quarta-feira, quando um estudante foi morto em protestos na Universidade do Cairo desencadeados pela decisão de um tribunal de condenar, na segunda-feira, 529 membros da Irmandade Muçulmana à morte.
A Irmandade foi proscrita e passou à clandestinidade desde a derrubada de Mursi. O Estado declarou formalmente o movimento, o partido político mais bem organizado do Egito até o ano passado, um grupo terrorista.
A decisão judicial de segunda-feira marcou uma escalada na campanha do Estado contra a oposição islâmica e atraiu críticas de grupos internacionais de direitos humanos e potências ocidentais.