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G20: alerta para o risco de supervalorizar o poder da China

Analistas europeus não sabem se o país asiático vai oferecer ajuda do tamanho esperado

Para a China, que já financia importantes parcelas do déficit americano, o pedido da Eurozona é um grande trunfo. (Peter Parks/AFP)

Para a China, que já financia importantes parcelas do déficit americano, o pedido da Eurozona é um grande trunfo. (Peter Parks/AFP)

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Da Redação

Publicado em 1 de novembro de 2011 às 12h56.

Pequim - O pedido de ajuda da Eurozona aumentou o poder da China frente ao G20, mas especialistas europeus alertam sobre o perigo de supervalorizar a influência de Pequim.

Enquanto os pedidos do bloco europeu reforçam a posição da China, Pequim se mostra cauteloso e não investirá fundos sem condições claras. Além disso, é esperado um investimento de quantidades inferiores às desejadas pela Eurozona.

Na reunião do G20 em Cannes, a China será representada por seu presidente Hu Jinato, que já afirmou seu total apoio aos europeus, mas que não possui muita capacidade de decisão a este respeito.

Para a China, que já financia importantes parcelas do déficit americano, o pedido da Eurozona é um grande trunfo.

No final da reunião de Bruxelas, uma semana antes do encontro do G20, o presidente francês Nicolas Sarkozy telefonou para Hu Jintao e ofereceu um jantar de trabalho na quarta-feira em Cannes.

Paris "espera que os chineses ofereçam algo para que a presidência francesa não acabe de mãos vazias", declarou à AFP Jean-Pierre Cabestan, da Hong Kong Baptist University.

Contudo, de acordo com Sarkozy, os pedidos feitos a Pequim "não comprometem em nada a independência do país".

Em contrapartida, seu possível sucessor, o socialista François Hollande, declarou recentemente ao jornal Le Monde que a "China controla as coisas e que, a reunião do G20 (...) consagrará o império econômico chinês".

Além disso, comentários da China sobre os custos considerados excessivos dos EUA e a necessidade, de acordo com Pequim, de que os países europeus coloquem em ordem suas contas, causam preocupação.

A compra do porto de Piraeus de títulos da dívida portuguesa e espanhola, os investimentos na construção de estradas na África e trens de alta velocidade na Califórnia, já havia provocado inquietações entre as potências ocidentais.

"Mas a China não controla tanto as coisas" e a "Europa tem a possibilidade de não se colocar em posição de dependência excessiva", afirmou Cabestan. "Não devemos esquecer que a China é um país frágil", acrescentou.

Pequim tem reservas significativas de moeda estrangeira (3,2 trilhões de dólares), mas também possui 150 milhões de pessoas pobres (o que representa metade da população da Eurozona) e tenta reorientar a economia para responder sua demanda interna, além de criar sistemas de proteção social e enfrentar problemas ambientais graves.

Para Valerie Niquet, da Fundação de Investigação Estratégica (FRS), é exagerado dizer que a China "controla as coisas em matéria financeira na Europa".

"A mudança, em termos de modelo econômico, não ocorreu durante esta reunião (Bruxelas). Esta mudança aconteceu na crise de 2008 durante o primeiro encontro do G20. Naquela época, a China conseguiu impor o seu modelo econômico, que tinha saído ileso da crise financeira frente a um modelo democrático ocidental apresentado como ineficaz", acrescentou.

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