Bo Xilai, ex-chefe do Partido Comunista, se envolveu em um dos maiores escâdalos da história política recente da China (Reuters)
Da Redação
Publicado em 24 de setembro de 2012 às 10h48.
Pequim - A sentença relativamente leve contra Wang Lijun, condenado a 15 anos de prisão, deixa abertas todas as possibilidades em relação ao destino de seu ex-chefe, Bo Xilai - última incógnita a ser resolvida sobre o maior escândalo da política chinesa em décadas.
O veredicto anunciado pelo Tribunal Intermediário de Chengdu contra o ex-chefe de polícia foi ainda mais brando do que se esperava dado o peso das acusações. Wang, segundo a agência oficial "Xinhua", não planejar apelar.
"Trata-se de um resultado normal, de acordo com a lei", disse à Agência Efe a advogada do réu, Wang Yuncai.
Wang Lijun, "número dois" de Bo Xilai quando este era o chefe do Partido Comunista chinês (PCCh) na cidade de Chongqing, foi julgado por quatro acusações - deserção, manipulação da lei em seu próprio benefício, abuso de poder e corrupção - em duas audiências realizadas há uma semana na citada corte de Chengdu.
Embora as duas primeiras sejam as mais graves, a punição mais alta - de nove anos de prisão - foi recebida pela acusação de corrupção, segundo a agência.
A segunda condenação mais forte foi a de manipulação da lei (sete anos), seguida pelos dois anos que recebeu, cada, por abuso de poder e deserção, totalizando duas décadas de condenação a 15 anos pela consideração de certos atenuantes.
Um deles é "a contribuição de provas determinantes para expor as sérias ofensas cometidas por outros", uma colaboração que "teve uma parte importante na investigação, por isso (o acusado) merece uma pena mais leve", diz a sentença judicial.
Wang Yuncai, presente durante a leitura da sentença, afirmou à Efe que o tribunal não deu mais detalhes sobre quem são esses "outros" e que "também não mencionou Bo Xilai".
A única vez que Bo apareceu no caso - e sem ser mencionado nominalmente - foi no auto do julgamento contra Wang que a "Xinhua" divulgou na quarta-feira passada.
O documento narra como o ex-chefe de polícia encobriu a princípio Gu Kailai, esposa de Bo, quando esta lhe confessou ter matado o empresário Neil Heywood em novembro de 2011. Após ter várias discussões com ela, Wang decidiu reabrir a investigação.
Depois, continua o texto, ele foi ao "então chefe do PCCh em Chongqing (Bo Xilai)" para lhe dizer que sua esposa era "altamente suspeita" do crime. Por isso, foi recriminado pelo ex-líder e levou um tapa.
Essa primeira - até agora única - alusão a Bo abre a possibilidade de que ele seja acusado por crimes como encobrimento (do crime de sua esposa) ou abuso de poder, mas só é investigado por violar a disciplina do partido.
A versão oficial diz que, após ser repudiado por seu chefe, Wang se sentiu "em perigo" e tentou se refugiar no Consulado dos Estados Unidos em Chengdu.
Lá, em 6 de fevereiro de 2012, supostamente revelou a atitude de Bo e vinculou a esposa dele com o homicídio de Heywood, gerando um escândalo que continua sem ser encerrado mais de seis meses depois.
Após passar pela legação americana, da qual saiu "com seus próprios pés" horas após entrar, Wang pôs à disposição das autoridades as provas que incriminavam Gu, incluindo a gravação de sua confissão.
A mulher de Bo, até então uma brilhante advogada, foi acusada do homicídio do britânico, amigo da família, e condenada à pena de morte revisável, que na prática evita a execução.
Por enquanto, Gu é quem recebeu o castigo mais severo.
A incógnita pendente agora é se o regime decidirá acusar o ex-líder ou se limitará a concluir a investigação iniciada dentro do Partido Comunista.
Analistas políticos divergem a respeito. Enquanto uns consideram a sentença branda contra Wang como o indício de um sério castigo para seu ex-chefe, outros alegam que a única condenação de Bo será a do ostracismo político.
Os defensores da última hipótese dizem que o governo pode aproveitar o 18º Congresso da legenda, previsto inicialmente para outubro e que renovará o Comitê Permanente - a cúpula do partido -, para expulsar Bo, que antes do escândalo era um dos líderes mais cotados para ocupar uma das vagas no poderoso órgão.