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Futebol ajuda a cicatrizar feridas da guerra em Srebrenica

Srebrenica evoca imagens de caixões e do massacre cometido pelos sérvios, mas um humilde clube de futebol se empenha em cicatrizar as feridas


	Torcedores de futebol na Bósnia: clube tem sérvios e muçulmanos que vestem a mesma camisa na liga regional
 (Dado Ruvic/Reuters)

Torcedores de futebol na Bósnia: clube tem sérvios e muçulmanos que vestem a mesma camisa na liga regional (Dado Ruvic/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 12 de novembro de 2013 às 12h59.

Srebrenica - O nome da cidade bósnia Srebrenica evoca imagens de caixões e do massacre cometido pelos sérvios contra os muçulmanos, mas, quase duas décadas depois da guerra, o Guber, um humilde clube de futebol, se empenha em cicatrizar as feridas com companheirismo.

"No clube temos um ambiente saudável. Todos nós sabemos o que acontecia na guerra e como vive hoje a população. Nós, no entanto, não olhamos como se chama cada um, só nos importa que somos pessoas", define o espírito da equipe Miljan Bodiroga, goleiro do Guber.

Em Srebrenica, a divisão entre muçulmanos e sérvios é patente no dia a dia, com bairros, comércios e até bares próprios para cada comunidade, com poucos espaços em que os dois povos se misturam.

Nesse ambiente, o Guber é uma exceção, com sérvios e muçulmanos que vestem a mesma camisa na liga regional.

Além de uma singularidade, ter uma escalação multiétnica em Srebrenica, onde as forças sérvias massacraram oito mil muçulmanos bósnios em julho de 1995, é também uma declaração de princípios.

"Agora estou aqui feliz com minha família, porque conheci gente maravilhosa com a qual vivo e jogo", contou o goleiro, herói da partida do fim de semana passado, na qual a equipe foi para as quartas de final da copa do lado sérvio da Bósnia, o maior triunfo desse clube em 20 anos.

Os jogadores mantêm a amizade também fora do campo, frequentam juntos bares e cafés e assistem a jogos de futebol internacional. O Barcelona é o grande favorito da maioria do elenco.

E embora todos lembrem o que aconteceu durante a guerra civil, um pacto tácito expatriou esse assunto das conversas.

A queda das barreiras étnicas começa cedo no Guber, entre as crianças e adolescentes das categorias de base do clube.


Muitos pais enviam seus filhos para treinar com a intenção de que aprendam o que é amizade e esporte e se comprometeram com uma cidade com poucas ofertas culturais e com um panorama econômico pouco animador.

O ambiente de harmonia no clube, no qual aproximadamente metade dos jogadores é muçulmana e metade sérvia, se transfere também para as arquibancadas, entre a torcida do Guber.

Muitos desses torcedores pertencem a uma organização juvenil multiétnica chamada "Amigos de Srebrenica" que, entre outras atividades, tem programa de rádio para informar de tudo que tem a ver com a equipe.

"Aqui é impossível fazer isso de outra maneira. No clube não há nenhum problema étnico. O que importa é jogar o melhor possível e ganhar. Todos juntos. Só nos importa isso", diz, taxativo, o presidente do Guber, Suljo Cakanovic.

O Guber foi fundado em 1924, por dois torcedores, um muçulmano e um sérvio, que chegaram a ceder terras para a construção do estádio. Durante a guerra, a equipe deixou de funcionar e só foi refundada em 2005.

Hoje joga na segunda divisão do autônomo servo-bósnio e, paralelamente, na terceira divisão da liga nacional da Bósnia.

O orçamento do clube é muito modesto, apenas 20 mil euros, de modo que os salários dos jogadores não passam de 100 euros ao mês - quando há dinheiro para pagá-los.

Embora o clube receba algum apoio financeiro das autoridades municipais e do governo muçulmano-croata, mas não do servo-bósnio, seu maior patrocinador é Muradin Pasagic, nascido em Srebrenica que vive há 30 anos na Eslováquia, onde tem vários negócios.

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