Mundo

Fúria masculina preocupa em país rico governado por mulheres

Homens jovens sem esperança de emprego são um grupo que precisa de uma atenção política cuidadosa para evitar reação perigosa, disse chanceler da Noruega

Pessoas em Bergen, cidade da Noruega:e m termos de igualdade salarial, homens ainda ganham em média cerca de 7% a mais que as mulheres (TT/Thinkstock)

Pessoas em Bergen, cidade da Noruega:e m termos de igualdade salarial, homens ainda ganham em média cerca de 7% a mais que as mulheres (TT/Thinkstock)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 24 de março de 2018 às 06h00.

Última atualização em 24 de março de 2018 às 06h00.

O poder político na Noruega é dominado por mulheres. Elas ocupam o cargo de primeira-ministra, ministra da Economia, ministra das Relações Exteriores e presidente do Parlamento. "Não é uma conspiração feminina", diz a primeira-ministra Erna Solberg.

Até mesmo para os altos padrões escandinavos de igualdade de gênero a Noruega se destaca quando se trata do cenário político (os números não são tão bons na Noruega corporativa). Então, com que questões de gênero essas políticas estão preocupadas?

"O desafio nos países escandinavos é não acabar tendo um grande grupo de homens jovens sem objetivo na vida, sem esperança de emprego", disse Solberg em entrevista, em Oslo.

Esse é um grupo demográfico que precisa de uma atenção política cuidadosa para evitar uma reação perigosa, disse a primeira-ministra. Na Universidade de Oslo, cerca de 57 por cento de todos os estudantes de doutorado no ano passado eram mulheres. O risco de os homens ficarem para trás também os torna mais vulneráveis a perderem seus empregos para a automação.

"Isso é o que vemos nos homens brancos furiosos que não apenas não gostam de muçulmanos e imigrantes, mas também detestam as mulheres, pelo menos se não puderem manter a mulher só para eles", disse Solberg.

A Noruega foi palco de um dos maiores crimes de ódio da Europa neste século, quando em 2011 o supremacista branco Anders Behring Breivik massacrou 77 pessoas, a maioria membros da ala jovem do Partido Trabalhista do país.

A ministra das Relações Exteriores, Ine Eriksen Soreide, diz que “o problema apontado por Erna é um problema gigantesco, mundialmente. Muitos países muito vulneráveis têm uma taxa enorme de desemprego juvenil e a maioria dos desempregados é homem.”

Tone Troen, recém-nomeada presidente do Parlamento norueguês, diz que está confiante de que a próxima geração se sairá melhor. Mas "é importante que meninos e meninas façam escolhas não tradicionais quando se trata de educação", disse ela.

#MeToo

Os homens também têm certo poder na Noruega. Eles ocupam a maior parte dos cargos executivos em empresas de capital aberto, administram o banco central e o fundo soberano de investimento do país, de US$ 1 trilhão (o maior do mundo). E, embora a Noruega seja superada apenas pela Dinamarca em termos de igualdade salarial, os homens ainda ganham em média cerca de 7 por cento a mais do que as mulheres.

Assim como o restante do mundo, a Noruega foi abalada pelo movimento #MeToo, que revelou uma série de casos de conduta inadequada tanto na política quanto no mundo empresarial, inclusive no Partido Conservador de Solberg. O vice-líder do maior partido da oposição renunciou em meio a acusações de conduta inapropriada.

"O limite para o que é aceitável mudou", disse Eriksen Soreide. "Essa é provavelmente uma das vitórias mais importantes." Mas alcançar a igualdade total demorará "muito tempo", disse ela. Solberg brincou dizendo que talvez seja preciso esperar até “2072".

Acompanhe tudo sobre:FeminismoHomensMachismoMulheresNoruegaPaíses ricos

Mais de Mundo

China e Brasil fortalecem parceria estratégica e destacam compromisso com futuro compartilhado

Matt Gaetz desiste de indicação para ser secretário de Justiça de Donald Trump

Putin confirma ataque à Ucrânia com míssil hipersônico

Terminal 3 do Aeroporto Internacional de Pudong: expansão estratégica em Xangai