EXAME.com (EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 26 de agosto de 2011 às 13h25.
A passagem do furacão Katrina pelo Golfo do México forçou a evacuação da cidade de Nova Orleans, além de interromper a produção de petróleo em várias plataformas e provocar o fechamento de, pelo menos, duas refinarias. Com isso, a tempestade acarretou a interrupção de cerca de 40% da produção de petróleo do Golfo do México o que pressionou ainda mais os preços do óleo cru. Nas bolsas asiáticas, o barril sofreu alta de 5 dólares, para 70,80 dólares. No fechamento dos pregões, porém, a cotação recuou para 69 dólares.
Segundo o jornal britânico Financial Times, os analistas temem que o furacão traga efeitos piores mais no longo do que no curto prazo. Com pouco espaço para expandir a produção mundial de óleo cru, os especialistas afirmam que uma eventual queda da produção das refinarias americanas pode trazer ainda mais pressão sobre a curva de preços do barril, nos mercado internacionais.
Razões insuficientes
Outra preocupação é por quanto tempo a economia mundial resistirá ao contínuo aumento do petróleo. Para a revista britânica The Economist, as explicações usuais sobre porque a economia mundial ainda não entrou em colapso, como nos choques anteriores do petróleo, não são suficientes. O primeiro motivo sempre evocado pelos analistas é que os aumentos, desta vez, não se concentraram em poucos meses, dando tempo para que empresas e governos se adaptem. Em 1979, por exemplo, o barril dobrou de preço em apenas seis meses. Para o mesmo efeito, agora, foram precisos 18 meses. The Economistargumenta, porém, que o ritmo do ajuste não importa tanto quanto a sua intensidade.
Outro argumento corriqueiro é que o aumento em termos reais não é tão grande quanto se pensa. A preços atualizados, o barril do petróleo teria batido em 90 dólares em 1980 -- patamar ainda distante do atual. Por isso, os ajustes recentes não são fortes o bastante para pôr o mundo em recessão. Mas, de acordo com The Economist, a mera correção dos valores sempre é insuficiente, pois varia muito conforme o deflator adotado.
Por fim, outros especialistas argumentam que a economia mundial, hoje, é mais movida a chips e cérebros do que a petróleo. É certo que os países desenvolvidos reduziram a participação de setores tradicionais mais atrelados aos combustíveis fósseis em seu PIB. Mas economias emergentes, como as asiáticas, ainda são fortes consumidores de petróleo, o que deveria amplificar os efeitos negativos dos aumentos sobre a economia mundial.
Crescimento e bolhas
Para The Economist, embora as explicações anteriores contenham elementos importantes para entender porque o mundo ainda não quebrou diante dos preços recordes do óleo cru, o que está atenuando, de fato, os efeitos do petróleo caro são outros motivos. O primeiro é o crescimento mundial, puxado pelos Estados Unidos e pela China. Segundo a revista, os choques anteriores ocorreram por problemas de oferta. A diferença, agora, é que os preços são puxados por uma demanda crescente. Essa demanda reflete a aceleração de algumas economias, o que significa que o petróleo é consumido para a geração de riquezas -- o que contém um pouco os efeitos do preço elevado.
Outro motivo é o peso das exportações chinesas no mercado mundial. Baseada em mão-de-obra barata e em larga escala de produção, a China está inundando diversos segmentos econômicos com produtos baratos, impedindo que seus concorrentes reajustem demasiadamente os preços, ainda que pressionados pela inflação gerada pelo petróleo.
Além disso, a inflação baixa está segurando as taxas de juros dos Bancos Centrais em todo o mundo. Nos Estados Unidos, os juros baixos levaram a um barateamento do crédito e sua conseqüência mais visível é a bolha imobiliária existente no país -- um dos pilares da sua atual expansão econômica. A dúvida, segundo The Economist, é o que acontecerá se o petróleo subir ainda mais. Para a revista, uma das possibilidades é que novos aumentos poderiam, inclusive, estourar a bolha do mercado imobiliário.