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Fugitivo de prisão norte-coreana agora muda a sua história

Dong-hyuk ficou famoso ao contar os horrores que viveu naquela que é considerada a pior prisão da Coreia do Norte. Agora, ele muda detalhes de sua história


	O jornalista Blaine Harden e o ativista norte-coreano Shin Dong-hyuk em imagem de arquivo divulgada na época do lançamento do livro "Fuga do Campo 14"
 (Reuters)

O jornalista Blaine Harden e o ativista norte-coreano Shin Dong-hyuk em imagem de arquivo divulgada na época do lançamento do livro "Fuga do Campo 14" (Reuters)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 19 de janeiro de 2015 às 11h03.

São Paulo – Shin Dong-hyuk, o desertor que ficou famoso após contar ao mundo os horrores que viveu naquela que é considerada a pior prisão de toda a Coreia do Norte, voltou atrás em detalhes significativos de sua história.

A revelação veio à tona neste final de semana, depois de um comunicado divulgado pelo próprio autor de sua biografia (“Fuga do Campo 14”), o jornalista americano Blaine Harden.

“Na sexta-feira, dia 16 de janeiro, soube que Dong-hyuk havia contado para amigos uma história de vida que era substancialmente diferente daquela que consta no livro”, explicou Harden em nota. “Entrei em contato com ele no mesmo dia. Conversamos por horas e o pressionei para me contar os detalhes das mudanças”, disse o autor.

Segundo Harden, as principais alterações na história são as seguintes:

- Dong-hyuk contou de fato ter nascido no Campo 14, prisão que dá nome ao livro, mas foi transferido para outra prisão próxima, Campo 18, quando tinha apenas seis anos de idade e na companhia de sua mãe e seu irmão;

- Foi no Campo 18 que ele contou ter traído a mãe e o irmão ao contar aos guardas o plano de fuga da dupla. Foi lá que eles foram então executados. Anteriormente, este evento teria acontecido ainda no Campo 14;

- Ele diz ter escapado duas vezes do Campo 18, em 1999 e 2001. Na primeira vez ele foi recapturado dois dias depois. Já na segunda conseguiu chegar até a China, onde foi preso e enviado de volta ao país.

- Anteriormente, Dong-hyuk contou ter sido torturado aos 13 anos quando os guardas suspeitaram que ele poderia estar planejando uma fuga. Agora, ele diz ter sido torturado aos 20, no Campo 14 e logo que trazido da China. Foi mantido por seis meses em uma cela no subsolo;

- No livro, Dong-hyuk conta que parte do seu dedo havia sido amputada por um guarda depois de ele ter deixado cair uma máquina de costura no chão. Na realidade, contou ele a Harden, ele perdeu seu dedo durante uma sessão de tortura na qual retiraram as suas unhas.

Perguntado a razão pela qual decidiu por alterar estes detalhes de sua vida durante as entrevistas que deram origem ao livro, o ativista disse não ter imaginado a importância das informações. “Ele sabe que estas mudanças agora colocam em dúvida a sua credibilidade”, escreveu Harden que trabalhou por anos no jornal The Washington Post.

No Facebook, Dong-huyk se manifestou sem dar muitos detalhes sobre as mudanças que comentou com o jornalista. “Todos nós temos histórias ou coisas que gostaríamos de esconder”, disse ele em post publicado no sábado. “Eu também tentei ocultar partes do meu passado.”

“Para todas as pessoas que me apoiaram, confiaram em mim e acreditaram na minha história, sou muito grato e, ao mesmo tempo, peço desculpas para cada um de vocês”, escreveu ele sinalizando que esta seria a sua última manifestação pública sobre o tema.

Apesar das mudanças que agora devem ser feitas ao livro e em seu testemunho oficial, especialistas em direitos humanos ouvidos pelo jornal The Washington Post consideraram que as alterações não afetam a verdade fundamental dos horrores que vivem as pessoas presas em campos norte-coreanos. 

O ativista é uma testemunha chave da Organização das Nações Unidas (ONU) nas investigações da entidade sobre violações de direitos humanos na Coreia do Norte. Seu relato se tornou ainda um dos fundamentos do processo movido pela entidade no Tribunal Penal Internacional.

Veja abaixo o comunicado de Dong-hyuk na íntegra e em inglês.

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