Mundo

Francisco propõe uma reforma geral na Igreja - até no papado

A noção de incentivar a tomada de decisões colegiais e dar prioridade principalmente aos pobres também faz parte do primeiro documento do novo pontificado

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 26 de novembro de 2013 às 19h47.

Cidade do Vaticano - O papa Francisco propôs nesta terça-feira uma reforma em todos os níveis da Igreja católica, em sua primeira exortação apostólica, a "Evangelii Gaudium" (A alegria do Evangelho), na qual anuncia que está disposto, inclusive, a mudar o papel do papado.

A noção de incentivar a tomada de decisões colegiais e dar prioridade principalmente aos pobres também faz parte do primeiro documento do novo pontificado.

Francisco escreveu as 142 páginas da versão em espanhol do texto, que também alerta contra a violência gerada pela pobreza e implora pela liberdade religiosa para os cristãos no Oriente Médio.

"Corresponde a mim, como bispo de Roma, estar aberto às sugestões que se orientem para um exercício de meu ministério, que o torne mais fiel ao sentido que Jesus Cristo quis dar a ele, e às necessidades atuais da evangelização", escreveu o Papa.

A "conversão do papado", como chamou, se origina de "uma saudável descentralização" da Igreja e uma maior responsabilidade dos laicos, segundo Francisco.

O Papa defende a colegialidade e convida religiosos e sacerdotes a não temer "romper com os esquemas", a "serem audazes e criativos" e a evitar transmitir "uma multidão de doutrinas que tentam se impor pela força de insistência".

O pontífice propõe basicamente passar de um modelo de Igreja burocrática e doutrinária para uma Igreja missionária, alegre, aberta aos laicos e aos jovens.

O documento, no qual Francisco traça um mapa do caminho do pontificado do primeiro chefe de Igreja latino-americano, o Papa quer uma instituição que dê prioridade aos pobres e denuncie o sistema econômico vigente no mundo.

"Até que não se revertam a exclusão e a iniquidade dentro de uma sociedade e entre os distintos povos, será impossível erradicar a violência", afirma o documento.


Sistema econômico injusto

Para Francisco, o sistema econômico atual é "injusto em suas raízes" porque na economia predomina "a lei do mais forte", sendo uma "nova tirania invisível, às vezes virtual", dominada por um "mercado divinizado", no qual imperam a "especulação financeira, uma corrupção ramificada e uma evasão fiscal egoísta".

O Papa critica quem "ainda defende as teorias do 'desperdício', que supõem que todo crescimento econômico, favorecido pela liberdade de mercado, visa a provocar por si só uma maior equidade e inclusão social no mundo".

"Esta opinião, que jamais foi confirmada pelos fatos, expressa uma confiança grosseira e ingênua na bondade de quem detém o poder econômico e nos mecanismos sacralizados do sistema econômico imperante. Enquanto isso, os excluídos continuam esperando", enfatiza.

Francisco volta a denunciar "a globalização da indiferença", assim como "o tráfico de seres humanos", pede aos países que acolhem imigrantes "uma generosa abertura" e ajuda para as mulheres que sofrem "situações de exclusão, maus-tratos e violência".

Não ao aborto

Sobre o aborto, legalizado em quase todos os países da Europa, o Papa reconhece que "não se deve esperar que a Igreja mude sua postura sobre o tema, pois não é progressista resolver problemas eliminando uma vida humana".

Para que a Igreja seja muito mais colegial, o Papa considera que as conferências episcopais devam ter mais protagonismo e as convida a manter suas "portas sempre abertas".

No documento, escrito em agosto depois de sua viagem do Brasil em julho, Francisco aborda o delicado tema da relação com os muçulmanos, que provocou fortes tensões durante o pontificado do papa emérito Bento XVI.

Liberdade religiosa para os cristãos

Francisco suplica "humildemente" aos Estados muçulmanos que garantam a liberdade religiosa dos cristãos como os países ocidentais o fazem com os fieis do Islã.

"Rogo, imploro humildemente a esses países que deem liberdade aos cristãos para poder celebrar seu culto e viver sua fé, levando em conta a liberdade que os crentes do Islã gozam nos países ocidentais!", escreveu.

O Papa argentino, filho de imigrantes e que sempre manteve boas relações com as autoridades de outras religiões, convidou os católicos a "evitar odiosas generalizações porque o verdadeiro Islã e uma adequada interpretação do Alcorão se opõem a qualquer violência".

O Papa reitera que é importante o diálogo e a aliança entre crentes e não-crentes.

Acompanhe tudo sobre:Igreja CatólicaPapa FranciscoPapasReligião

Mais de Mundo

Magnata vietnamita terá que pagar US$ 11 bi se quiser fugir de pena de morte

França afirma que respeitará imunidade de Netanyahu se Corte de Haia exigir prisão

Em votação apertada, Parlamento Europeu aprova nova Comissão de Ursula von der Leyen

Irã ativa “milhares de centrífugas” em resposta à agência nuclear da ONU