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França se mobiliza contra jihadismo dentro das fronteiras

Ministério do Interior contabilizou 1.132 cidadãos franceses vinculados às redes jihadistas que operam na Síria e no Iraque


	Ministério do Interior contabilizou 1.132 cidadãos franceses vinculados às redes jihadistas que operam na Síria e no Iraque
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Ministério do Interior contabilizou 1.132 cidadãos franceses vinculados às redes jihadistas que operam na Síria e no Iraque (AFP)

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Da Redação

Publicado em 19 de novembro de 2014 às 14h56.

Paris - A França constata com inquietação a forte presença do jihadismo radical dentro de suas fronteiras, que encontrou sua mais recente expressão na presença do jovem normando Maxime Hauchard e do francês de origem portuguesa Michaël dos Santos, identificados nesta quarta-feira nas fileiras do Estado Islâmico (EI).

Os casos de Hauchard e Santos, que aparecem no vídeo em que os carrascos do EI decapitam o refém americano Peter Kassig, estão longe de ser isolados, afirmou o procurador-geral de Paris, François Molins, e exemplificam "uma disputa de amplitude inédita na França".

O Ministério do Interior contabilizou 1.132 cidadãos franceses vinculados às redes jihadistas que operam na Síria e no Iraque, aos quais se devem somar os 99 procedimentos abertos e os 76 detidos.

Para David Thomson, jornalista e autor de "Les français jihadistes" ("Os franceses jihadistas", em tradução livre), as razões do fenômeno são várias e devem ser buscadas "no êxito da "ciberjihad" e nas redes sociais, por um lado, e na proximidade geográfica do conflito sírio", por outro.

Alvo prioritário da propaganda terrorista, os jovens se radicalizam através da internet com vídeos de conteúdo propagandístico e o livre acesso à literatura jihadista, "que nunca tinha estado tão acessível", disse à Agência Efe.

As redes sociais, relatou o analista, permitem "conexões via Facebook à pessoa que, horas antes, vimos executar alguém".

"Razões pessoais também influenciam, a frustração social e a insatisfação gerada por se sentir às margens do sistema" francês, avaliou Thomson, antes de ressaltar que a origem étnica dos recrutados "não é tão importante como se acredita".

Segundo o Ministério do Interior, dois terços dos jihadistas em solo francês possuem passaporte francês, uma população jovem e heterogênea que inclui uma alta porcentagem de convertidos, que chega a 20%, entre os quais Thomson contabiliza indivíduos de origem tão diversas como coreana, vietnamita e portuguesa, como o próprio Santos.

Um relatório confeccionado para o governo pelo Centro de Prevenção contra as Derivas Sectárias Ligadas ao Islã, ao qual a Efe teve acesso, garante que "80% das famílias envolvidas se declaram ateias".

"O Estado Islâmico busca situar os muçulmanos em um pensamento transnacional, pelo qual sua identidade e status deixam de ser vinculados a uma nacionalidade, um estado ou raízes", estabeleceu o estudo.

As conclusões minimizam a importância dos "argumentos migratórios e religiosos" para apontar motivos de exclusão social, e confirmam que a faixa etária que vai de 15 a 21 anos é o alvo predileto das redes do islamismo radical.

O especialista em terrorismo Jean Charles Brisard, professor do Institut d"Études Politiques de Estrasburgo (IEP), acredita que "os convertidos são uma minoria que sofre de conflitos de identidade".

Após vincular o fenômeno a uma integração problemática, destacou a diferença, por exemplo, entre Alemanha e França - dois países com uma população muçulmana semelhante - quando se trata de islamismo radical: Berlim contabiliza seis mil salafistas e Paris 15 mil.

Brisard desenhou um candidato modelo "confuso, frágil e facilmente manipulável".

Sob a promessa de fabricar "pessoas sem limites", as estratégias de sedução mais frequentes são os heroicos, pretextos humanitários e referências a videogames como "Call of Duty" para atrair jovens fascinados pela ideia de combate.

Mas este entusiasmo costuma amornar. Thomson numerou em 200 o número de jihadistas franceses - "decepcionados e aterrados" - que empreenderam o caminho de volta desde 2012.

Aprovada em 29 de outubro, a nova lei antiterrorista francesa estabelece medidas jurídicas destinadas a interromper o fluxo de milicianos para países como a Síria e o Iraque, e a combater os chamados "lobos solitários", indivíduos que atuam por conta própria em território francês.

"É uma lei insuficiente, vai perturbar suas operações, mas não as deterá", alertou Thomson.

Nos últimos anos foram registrados na França vários ataques dos chamados "lobos solitários" com reivindicações jihadistas.

Os casos mais emblemáticos desse perfil são o do franco-argelino Mehdi Nemmouche, que assassinou quatro pessoas no Museu Judaico de Bruxelas; e o do jovem Mohammed Merah, que em março de 2012 matou sete pessoas em Toulouse e arredores, antes de ser abatido pelas forças de segurança.

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