Ruanda: atualmente, 26 casos relacionados ao genocídio de 1994 são instruídos na França por um grupo de investigadores especializados em crimes contra a humanidade (Reprodução / YouTube)
Da Redação
Publicado em 6 de maio de 2016 às 10h47.
Dois ex-prefeitos ruandeses serão julgados a partir de terça-feira em Paris por suposta participação no genocídio ruandês de 1994, que deixou 800.000 mortos, o segundo julgamento na França pelos massacres no país africano.
Octavien Ngenzi e Tito Barahira, que negam os fatos, são acusados de ter participado diretamente do massacre de centenas de tutsis refugiados na igreja de Kabarondo, uma localidade do leste de Ruanda, em 13 de abril de 1994.
Sobre os dois homens, prefeitos sucessivos da cidade, pesam acusações de "crime contra a humanidade", "genocídio" e "prática maciça e sistemática de execuções" para aplicar um "plano com o objetivo de destruir" o grupo étnico tutsi.
Este julgamento, que durará oito semanas, é realizado dois anos depois do de Pascal Simbikangwa, um ex-capitão do exército ruandês condenado a 25 anos de reclusão criminal por cumplicidade em crimes de genocídio.
Em outubro de 2015, o caso do sacerdote Wenceslas Munyeshyaka, o primeiro ruandês alvo de uma denúncia na França, foi arquivado.
Por sua vez, o presidente ruandês, Paul Kagame, que acusa a França de ter apoiado os responsáveis pelo genocídio, convidou recentemente Paris a "esclarecer sua posição".
Atualmente, 26 casos relacionados ao genocídio ruandês de 1994 são instruídos na França por um grupo de investigadores e magistrados especializados em crimes contra a humanidade. Este grupo foi constituído depois de receber múltiplas denúncias contra os massacres, cujos autores se encontram refugiados na França.
"Um genocídio muito mais concreto"
Diferentemente do primeiro processo, que abordava os assassinatos nos postos de controle na região natal do presidente hutu Juvenal Habyarimana, cujo assassinato foi o detonador do genocídio, o caso contra os dois ex-prefeitos se concentra na região específica de uma província.
Em Kabarondo, os massacres foram lançados em um espaço limitado, entre o estádio de futebol, a prefeitura e a praça do mercado, e em tempo recorde.
Nesta localidade próxima à fronteira com a Tanzânia, os assassinatos terminaram antes do fim de abril, com a chegada da rebelião tutsi da Frente Patriótica Ruandesa (FPR, atualmente no poder). Em Kigali, a capital, o genocídio acabou em julho.
No total, os massacres eixaram mais de 800.000 mortos, segundo números da ONU.
"Neste segundo processo, enfrentamos um ato de genocídio muito mais concreto, com vítimas. Temos 50 testemunhas que vivem em Ruanda", declarou à AFP Alain Gauthier, presidente do Coletivo de Demandantes Civis para Ruanda (CPCR), uma associação que promoveu a maioria das investigações ruandesas.
Segundo a investigação judicial, Tito Barahira e Octavien Ngenzi, prefeitos de Kabarondo respectivamente em 1977-1986 e 1986-1994, são personagens chave de uma administração que se colocou a serviço dos assassinos.