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França e Europa reforçam luta antiterrorista

Quinze dias após os atentados de Paris, a França e a Europa adotaram uma série de medidas contra a ameaça terrorista


	Forças de segurança em Paris: plano de reforço da "luta contra o terrorismo" prevê um total de € 425 milhões em investimento
 (Philippe Wojazer/Reuters)

Forças de segurança em Paris: plano de reforço da "luta contra o terrorismo" prevê um total de € 425 milhões em investimento (Philippe Wojazer/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 21 de janeiro de 2015 às 15h17.

Paris - Quinze dias após os atentados de Paris, a França e a Europa adotaram uma série de medidas contra a ameaça terrorista, que se traduzem para o Estado francês em custos de mais de 700 milhões de euros em três anos.

Este é um "enorme desafio", "uma mudança de escala que requer medidas extraordinárias", resumiu o primeiro-ministro francês, Manuel Valls, a repórteres.

"Ao todo, cerca de 3.000 pessoas serão vigiadas" por suas conexões com jihadistas ou "terroristas na Síria e no Iraque", declarou, citando um aumento significativo no número de pessoas a serem vigiadas "na esfera ciberjihadista francófona".

Nenhuma medida fere "o respeito ao Estado de direito", assegurou, por sua vez, a ministra da Justiça, Christiane Taubira.

Na esteira dos anúncios franceses, a Comissão Europeia também deve publicar medidas de segurança para reforçar a cooperação antiterrorista e prevenir novos ataques.

Bruxelas também discute a polêmica criação de um registo europeu de passageiros aéreos, previsto em uma diretiva de 2011, mas bloqueado no Parlamento Europeu, que reclama uma legislação comum em matéria de proteção de dados.

Os meios a disposição da UE permanecem limitados: as questões de inteligência permanecem em grande parte dependentes da vontade dos Estados-membros, muitos dos quais relutam em trocar informações sensíveis para além de seus aliados mais próximos.

Meios financeiros e humanos

O plano de reforço da "luta contra o terrorismo" na França prevê um total de 425 milhões de euros em "investimentos, equipamentos e operações" ao longo de três anos, segundo Manuel Valls. Com as despesas pessoais, a carga chega a 700 milhões de euros, que será "compensada" por cortes nos gastos públicos.

Em três anos, 2.680 novos postos de trabalho dedicados à luta contra o terrorismo serão criados, especialmente nos ministérios do Interior, da Defesa e da Justiça.

"Cerca de 60 capelães adicionais" serão recrutados para as prisões, que se somarão aos 182 já existentes. Alguns dos autores dos atentados de Paris se radicalizaram na prisão. O primeiro-ministro indicou que setores específicos para prisioneiros extremistas serão definidos.

Um site criado para informar o público sobre os meios para lutar "contra a doutrinação jihadista" será criado, enquanto um projeto de lei sobre a inteligência será discutido pelo Parlamento "no início de março", acrescentou Valls.

Enquanto 122 mil policiais, gendarmes e soldados foram mobilizados para proteger os locais sensíveis no país, o presidente François Hollande decidiu manter 7.500 postos de um total de 22.000 que seriam suprimidos no ministério da Defesa.

Em paralelo, o presidente anunciou um "plano de ação" para reforçar a transmissão na escola de valores como o respeito, a igualdade e a laicidade.

"Nenhum incidente deve permanecer impune", declarou em referência aos "comportamentos que colocam em causa os valores da República ou a autoridade" dos professores.

Desde os ataques em Paris, entre 7 e 9 de janeiro (17 mortos no total), incidentes têm prejudicado a imagem de unidade do país em várias escolas, principalmente em bairros sensíveis, onde estudantes perturbaram as homenagens às vítimas dos atentados, chegando, em alguns casos, a expressar apoio aos ataques jihadistas.

Apartheid na França?

Enquanto isso, as investigações sobre os ataques seguem em andamento. Quatro homens suspeitos de terem dado apoio material a Amedy Coulibaly, um dos autores dos atentados de Paris, foram acusados e detidos na madrugada desta quarta-feira, anunciou o promotor da capital francesa, François Molins.

Os investigadores descobriram que três dos acusados se dirigiram em várias ocasiões a lojas de armas nos arredores de Paris para comprar "material", incluindo coletes à prova de balas e bombas de gás lacrimogêneo.

Os quatro homens (Willy P., Christope R., Tonino G. e Michael A.) são acusados de associação terrorista para cometer crimes contra pessoas e um por posse e porte de armas. Nenhum deles está acusado de cumplicidade de assassinato.

Já um francês de 28 anos, Fritz Joly-Jiachin, suspeito de ligações com os irmãos Kouachi, pode ser extraditado ainda hoje da Bulgária, onde foi preso no dia 1º de janeiro, quando estava prestes a entrar na Turquia.

De acordo com várias fontes, o governo pode adotar uma proposta da oposição de direita, apoiada pela maioria socialista na Assembleia Nacional, de "uma pena de indignidade nacional" privando os acusados de terrorismo de seus direitos cívicos, civis e políticos.

A ideia é preservar o clima de unidade nacional que ganhou força após os ataques.

O terreno é sensível: enquanto os ataques foram cometidos por jihadistas franceses de origem imigrante, Valls criticou na terça-feira um "apartheid territorial, social e étnico" que corrói a França.

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