Marine Le Pen e Emmanuel Macron, candidatos à presidência da França: segundo turno acontece em 7 de maio (Jeff J Mitchell; Sylvain Lefevre/Getty Images)
Gabriela Ruic
Publicado em 24 de abril de 2017 às 11h24.
Última atualização em 24 de abril de 2017 às 11h27.
São Paulo – A França caminha para o 2º turno de sua eleição presidencial depois de um primeiro turno no qual o cenário mais provável, segundo analistas, se consolidou: agora, a disputa será entre o centrista Emmanuel Macron (Em Marcha!), o queridinho do mercado financeiro, e a líder da extrema direita Marine Le Pen (Frente Nacional).
O mundo só conhecerá o novo presidente, ou nova presidente, da França em 7 de maio, quando os eleitores voltam às urnas. Abaixo, entenda o que significa o resultado desse 1º turno e o que acontece nas eleições daqui em diante.
A corrida presidencial abre um novo capítulo na história política do país. Uma fase que revelou a derrota do establishment, já que pela primeira vez em décadas nenhum dos dois partidos tradicionais (Os Republicanos e Partido Socialista) estará presente no 2º turno.
Enquanto o conservador François Fillon terminou sua campanha com 19,9% dos votos, o socialista Benoit Hamon, colega de partido do atual presidente François Hollande, alcançou um resultado pífio ao obter apenas 6,4% da preferência dos eleitores.
O desempenho de ambos partidos, combinados, foi desastroso: 26,3%. Em 2007, republicanos e socialistas receberam 66% do total dos votos da corrida presidencial e, em 2012, essa percentagem foi de 55,8%.
Os números sinalizam o rechaço dos eleitores às propostas e aspirações de outrora. Por outro lado, expressam o fortalecimento dos candidatos que representam visões radicalmente opostas sobre o futuro da França.
Para Marta Lorimer, pesquisadora da London School of Economics (LSE), a disputa entre uma candidata nacionalista e protecionista, Le Pen, contra um liberal pró-Europa, Macron, sugere que uma terceira divisão política, uma que vai além da discussão entre a direita e a esquerda, está prestes a emergir no país, independentemente do resultado.
“Teremos uma grande mudança de rumo na política francesa e também na europeia”, prevê.
“A recomposição da esquerda francesa começou”, crê Thomas Vitiello, pesquisador da LSE, em um post de análise do resultado das eleições. Na sua percepção, o desempenho do establishment foi impactado pelo surgimento de dois movimentos: o centrista Em Marcha!, de Macron, e o "França Insubmissa", de Jean Luc-Melénchon, da esquerda radical.
“Hamon não conseguiu impedir que os votos dos sociais-liberais fossem para Macron e sequer conseguiu competir com Melénchon. Esse último criou sua campanha meses antes e conseguiu dominar questões como distribuição de riqueza e transição ecológica, problemas antigos e novos da esquerda”, avaliou o pesquisador, que prevê a vitória do centrista.
Contudo, lembra Vitiello, as atenções do mundo logo estarão nas eleições parlamentares, cujos resultados são geralmente desfavoráveis para novos atores políticos que tem de lutar para transitar politicamente entre seus membros.
“A crise no Partido Socialista e a improvável maioria centrista nas eleições de junho vão rearranjar as cartas da recomposição da esquerda”, avalia. “Se essas cartas estarão mais para a esquerda, com o 'França Insubmissa', ou ao centro, com o 'Em Marcha!', veremos.”
Quando será o 2º turno?
O 2º turno acontece no próximo dia 7 de maio.
De um lado está Emmanuel Macron, que lidera do "Em Marcha!". Ex-banqueiro e ex-ministro da Economia, tem 39 anos e é candidato a um cargo eletivo pela primeira vez. Foi filiado ao Partido Socialista até 2009.
Do outro lado está Marine Le Pen, que encabeça desde 2010 a extrema direita no Frente Nacional, partido fundado por seu pai, Jean-Marie. Advogada e com 48 anos de idade, Le Pen vem tentando transformar a imagem de seu partido do discurso racista e anti-semita para o mainstream.
Quais os seus posicionamentos sobre a União Europeia?
Macron prevê o fortalecimento da União Europeia (UE) e da relação entre França e Alemanha. Analistas avaliam que uma possível vitória de Macron seria problemática para o Reino Unido, que já iniciou o processo de desligamento do bloco e começa agora a negociar os termos da saída.
Já Le Pen deseja renegociar os termos da filiação da França com a UE, que chama de “fracasso”. Sua ideia é a de abandonar a zona do Euro e transformar o bloco em uma aliança sem moeda comum e sem livre-trânsito. Caso contrário, pretende realizar um referendo nos moldes do Brexit.
Macron é um defensor de um sistema aberto de imigração e já condenou políticas discriminatórias contra os muçulmanos, embora tenha se manifestado com cuidado e sem muitos detalhes sobre o tema.
Le Pen, por sua vez, tem essas duas questões como recorrentes em seu discurso e já desferiu comentários racistas contra os muçulmanos, especificamente. Seu plano é o e limitar a imigração em até 10 mil pessoas por ano e pretende suspender a imigração imediatamente, além de aumentar os impostos para empresas que contratarem estrangeiros.
Quais as suas propostas para política externa?
Nesse tema, Macron é também vago e se pronuncia com cautela. No entanto, já se posicionou favorável às intervenções na Síria. De acordo com Phillipe, pesquisador da Brookings Institution, o centrista precisará demonstrar liderança nessas questões e deve contar com o ministro da Defesa, Jean-Yves Le Drian, como principal mentor.
Le Pen deseja fortalecer os laços com a Rússia e condenou as sanções impostas ao país em razão dos conflitos na Ucrânia. Além disso, é contra a intervenção internacional na guerra da Síria e pretende retirar a França como país membro da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte).
Até o momento, as pesquisas indicam a vitória de Macron com certa folga. De acordo com projeções da Opinionway produzidas nesta segunda-feira, o centrista tem 61% das intenções de voto contra 39% da nacionalista.