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Fotos de satélite mostram possível laboratório de fusão nuclear na China, diz agência

Governo chines ainda não comentou sobre a nova construção

Vincenzo Calcopietro
Vincenzo Calcopietro

Redator na Exame

Publicado em 28 de janeiro de 2025 às 11h00.

Imagens de satélite, divulgadas pela agência Reuters, indicam que a China estaria construindo um novo centro de pesquisa de fusão a laser na cidade de Mianyang, conforme especialistas. A notícia vem logo depois do país ter atingido um novo recorde após ter mantido um “sol artificial” estável por quase 18 minutos.

Tanto o novo centro de pesquisa quanto o que já existe são postos-chave para o desenvolvimento de armas nucleares e da geração de energia.

Nas fotos de satélite, é possível ver quatro "braços" formando uma cruz em volta de um centro circular. Esses braços conteriam os equipamentos de laser enquanto que a região central teria uma câmara alvo com isótopos de hidrogênio que, ao serem atingidos pelos lasers, iniciam o processo de fusão, segundo informações da agência.

A estrutura possui um design similar a Instalação Nacional de Ignição (NIF, em inglês) dos EUA. A edificação americana custa US$ 3,5 bilhões, cerca de R$ 20,7 bilhões, fica localizada no norte da Califórnia e é a maior do mundo.

Caso o prédio sendo construído na China seja mesmo um novo centro para fusão a laser, a estrutura será 50% maior que a NIF e ocupará o posto de maior do mundo do seu tipo.

Até o momento, a construção do centro não foi divulgada e não houve nenhum pronunciamento do governo chinês sobre as imagens de satélite.

Marshall Billingslea, emissário de controle de armas dos EUA, divulgou em 2020 fotos de satélite que mostravam o avanço de instalações de suporte de armas nucleares da China. Entre essas imagens, estava uma de Mianyang mostrando um lote de terra rotulado como "novas áreas de pesquisa ou produção desde 2010".

Esse lote seria onde se encontra o centro de pesquisa de fusão a laser, intitulado de chamado de “Laboratório de Dispositivos Principais de Fusão a Laser”, de acordo com documentos cedidos à Reuters.

Como funciona a fusão nuclear a laser

A fusão nuclear a laser, também chamada de fusão por confinamento inercial, busca reproduzir o mesmo processo que acontece no Sol. Os lasers usados são de alta potência, comprimindo e aquecendo o combustível, geralmente hidrogênio, para atingir a fusão nuclear.

O processo que acontece no Sol consiste na fusão de átomos de hidrogênio, gerando hélio e, como consequência, energia. Essa energia então aquece a estrela, transformando o gás em plasma.

A pesquisa da fusão a laser permite que os cientistas entendam todas as nuances desse processo para que, futuramente, seja possível criar uma fonte de energia sustentável e limpa, explorando o que seria o “poder do sol”.

Além disso, também é possível analisar episódios que só seriam possíveis mediante uma explosão, o que pode contribuir para o refinamento da produção de armas nucleares.

Testes nucleares

A China faz parte do Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares (CTBT, na sigla em inglês), além dos EUA e outros 184 países que também assinaram o documento. Com isso, o país não pode realizar explosões nucleares, mesmo em testes.

É permitido apenas explosões “subcríticas”, isto é, não nucleares, além da pesquisa de fusão a laser. Por isso, o avanço dessa tecnologia pode levantar alguns sinais de alerta, já que contribui para o avanço de armas nucleares mesmo sem realizar testes práticos.

A China lançou, até hoje, 45 bombas nucleares, enquanto que o número dos EUA ultrapassa as 1000 ogivas. Isso significa que a base de informações que a China possui para basear sua pesquisa é menor, o que pode atrasar seu desenvolvimento.

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