Estação de esqui suíça de Davos se transforma em centro do poder global durante Fórum Econômico Mundial (World Economic Fórum/Divulgação)
Editora ESG
Publicado em 20 de janeiro de 2025 às 10h24.
Última atualização em 20 de janeiro de 2025 às 10h30.
*De Davos
O Fórum Econômico Mundial começa hoje em Davos, na Suíça, em meio a perspectivas de mudanças cada vez mais profundas nas relações internacionais. O encontro, que reúne 3.000 líderes de 130 países nos Alpes suíços, incluindo 60 chefes de Estado, coincide com a posse de Donald Trump nos Estados Unidos, que em discurso prévio neste domingo, 19, já reforçou os indícios de decisões que terão impactos estruturais no cenário mundial.
Um novo equilíbrio de forças?
Os debates programados na agenda oficial de Davos espelham a complexidade do momento atual. Para analistas políticos, a participação virtual de Trump, que falará para o quórum na Suíça no dia 23, deve ditar o tom das discussões sobre comércio internacional, regulamentações e alianças globais. A percepção se deve às declarações recentes do novo presidente norte-americano, que contestam a ordem mundial baseada em regras e já impactaram os mercados e geraram reações entre os participantes do evento.
O encontro entre Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, e Ding Xuexiang, vice-primeiro-ministro da China, aponta para potenciais embates em questões estratégicas. E conforme a agenda oficial divulgada pela organização do evento, as conversas devem abranger desde medidas protecionistas até o controle de tecnologias emergentes, incluindo temas como transição energética e defesa internacional.
Nas delegações oficiais confirmadas, as presença de nomes como Kristalina Georgieva, atual diretora geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), e Ngozi Okonjo-Iweala, diretora geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), sinalizam quem devem ser as lideranças nos esforços para equilibrar diferentes perspectivas de desenvolvimento.
Brasil entre ausências e inovação
Em mais esta edição de Davos, o Brasil comparece com uma delegação modesta. Previstos inicialmente na comitiva oficial, os ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Marina Silva (Meio Ambiente) permaneceram em Brasília após convocação de última hora para a primeira reunião ministerial de 2025 - em ano-chave para agenda climática, em que o país é anfitrião da Conferência do Clima.
A agenda foi convocada pelo presidente Lula para esta segunda-feira, 20, na Granja do Torto. Com a ausência dos ministros, o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, e o governador do Pará, Helder Barbalho, encabeçam a representação oficial.
Neste contexto, caberá ao empresariado nacional marcar território, não somente na agenda oficial, mas com a estreia da Brazil House em Davos. Encabeçada pelo BTG Pactual e por empresas como Ambipar, Vale, Gerdau, Be8, JHSF e Randcorp, a iniciativa visa estabelecer um ambiente permanente de diálogos e negociações estratégicas para o país, durante o Fórum.
Por parte da iniciativa privada e institutos, está prevista a participação de mais de 1.600 executivos, incluindo 900 CEOs e 120 representantes de unicórnios, o que indica a busca por respostas próprias a desafios como mudanças climáticas e revolução digital. Uma mobilização empresarial com especial relevância neste momento de indefinições sobre políticas governamentais.
Tensões à mesa
A presença do presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy e do presidente israelense Isaac Herzog coloca em evidência as duas principais crises militares em curso, que devem permear discussões: a guerra na Ucrânia, que se aproxima de seu terceiro ano, e o conflito em Gaza, e a subsequente operação militar israelense, mesmo após o acordo de cessa-fogo.
Em paralelo, a participação de mediadores como António Guterres, secretário-geral da ONU, reforça as tentativas diplomáticas de se manter o diálogo multilateral, especialmente em questões humanitárias e busca por cessar-fogo em ambas as regiões.
Temas ambientais e energéticos permanecem centrais, mesmo com prováveis alterações na política de clima e meio-ambiente americana. A programação do Fórum evidencia esse foco: enquanto Trump toma posse nos EUA, Davos abre seus trabalhos com um concerto que alerta sobre o derretimento das geleiras antárticas.
Na esfera da governança mundial, o encontro explora novas formas de cooperação. Mark Rutte, atual primeiro-ministro holandês e secretário-geral da OTAN a partir de outubro, estará no Fórum em momento crucial para a aliança militar ocidental. Sua presença, junto à do chanceler alemão Olaf Scholz, líder da principal economia europeia, sugere que o encontro deve priorizar discussões sobre o futuro da segurança coletiva ocidental.
Entre as economias emergentes, as presenças mais destacadas são a de líderes como Javier Milei, da Argentina, e Cyril Ramaphosa, da África do Sul. Com representação governamental limitada no ano em que assume a presidência dos Brics, o Brasil precisará encontrar o caminho para influenciar os debates sobre reforma financeira internacional e desenvolvimento sustentável.
Em resumo, a simultaneidade entre a posse de Trump e o início do Fórum Econômico Mundial marca um ponto de inflexão nas relações internacionais, enquanto Washington sinaliza tendência ao isolacionismo, Davos busca preservar canais de cooperação multilateral.
O principal desafio será harmonizar visões distintas sobre a ordem global, considerando aspectos econômicos, ambientais e geopolíticos que caracterizam 2025.