Membros do Talibã patrulham ruas de Cabul: explosões ocorreram na cidade nesta segunda-feira, 30, véspera da saída total das tropas americanas do Afeganistão (AFP/AFP Photo)
AFP
Publicado em 30 de agosto de 2021 às 06h42.
Última atualização em 30 de agosto de 2021 às 06h48.
Vários foguetes foram lançados nesta segunda-feira (30) contra o aeroporto de Cabul, no penúltimo dia no Afeganistão das tropas dos Estados Unidos, que se apressam para concluir a operação de retirada entre ameaças de novos ataques.
Uma fonte que trabalhou para o Departamento de Segurança do governo afegão derrubado pelos talibãs há duas semanas afirmou que os foguetes foram lançados a partir de um veículo na zona norte de Cabul, onde fica o aeroporto.
Moradores das proximidades do aeroporto afirmaram que ouviram o som da ativação do sistema de defesa de mísseis e que viram estilhaços caindo do céu, o que indicaria que ao menos um foguete foi interceptado.
A Casa Branca confirmou o ataque com foguetes contar o aeroporto e destacou que a retirada prosseguiu sem interrupção.
O presidente americano, Joe Biden, estabeleceu a terça-feira 31 de agosto como data-limite para a retirada das tropas do Afeganistão, o que significará o fim de duas décadas de uma operação militar iniciada como represália pelos atentados de 11 de setembro.
Mas as tropas americanas estão mais concentradas neste momento em sua própria saída e na retirada dos diplomatas do país.
"O presidente (...) voltou a confirmar a ordem para que os comandantes redobrem os esforços para fazer o que for necessário para proteger nossas forças no local", afirmou a Casa Branca em um comunicado.
O retorno do movimento islamita Talibã ao poder, do qual foram afastados em 2001, desencadeou uma tentativa desesperada de fuga de afegãos em voos organizados pelos países ocidentais, liderados pelos Estados Unidos.
Os voos, que permitiram a retirada de mais de 114.000 pessoas do aeroporto de Cabul, terminarão oficialmente na terça-feira, mas vários países já concluíram suas missões.
O grupo Estado Islâmico (EI), rival dos talibãs, representa uma grande ameaça na reta final da retirada, como demonstrou o ataque suicida contra o aeroporto na quinta-feira passada, que matou mais de 100 pessoas, incluindo 13 soldados americanos.
Biden advertiu para a elevada probabilidade de novos atentados. O exército americano executou no domingo um ataque aéreo contra um carro-bomba em Cabul.
Um porta-voz talibã confirmou no domingo que um carro-bomba que seguia para o aeroporto foi destruído. Também informou que um suposto segundo ataque atingiu uma casa.
O carro foi atingido pelo ataque americano com drone a dois quilômetros do aeroporto.
Ao longo da guerra, as tropas dos Estados Unidos foram acusadas de matar civis em seus ataques aéreos, um dos motivos que provocaram a perda do apoio local. No domingo pode ter acontecido novamente.
"Recebemos relatos de vítimas civis após o nosso ataque contra um veículo em Cabul", afirmou em um comunicado o capitão Bill Urban, porta-voz do Comando Central militar americano.
Urban disse que as explosões foram "potentes" e que o exército investiga se provocaram mortes entre civis. "Nos deixaria profundamente tristes qualquer perda de vida inocente", afirmou.
Nos últimos anos, o braço do EI no Afeganistão e Paquistão executou alguns dos ataques mais violentos nestes países, com massacres de civis em mesquitas, praças, escolas e hospitais.
Embora os grupos sejam sunitas radicais, os dois mantêm uma profunda rivalidade e ambos reivindicam a verdadeira representação da jihad.
O atentado de quinta-feira, a ação mais violenta contra os Estados Unidos no Afeganistão desde 2011, provocou um reforço da cooperação entre as forças americanas e os talibãs para proteger o aeroporto.
No sábado, combatentes talibãs escoltavam um fluxo constante de afegãos dos ônibus até o terminal de passageiros, onde as pessoas eram entregues a soldados americanos para a retirada.
O movimento islamita radical, que deu abrigo ao grupo terrorista Al-Qaeda, promete uma versão mais moderada do regime fundamentalista imposto entre 1996-2011.
Muitos afegãos, especialmente aqueles que trabalharam com as missões estrangeiras ou para o governo derrubado, temem a nova versão talibã e tentaram fugir na operação de retirada organizada pelas potências ocidentais.
No domingo, os talibãs anunciaram que seu líder supremo, Hibatullah Akhundzada, está em Kandahar, sul do Afeganistão, e planeja fazer uma aparição pública em breve.