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FMI vai ajudar Argentina a elaborar índice de inflação

A medição atual é suspeita de intensa manipulação por parte do próprio governo

O governo da presidente Cristina Kirchner vai elaborar um novo índice da inflação (Chris McGrath/Getty Images)

O governo da presidente Cristina Kirchner vai elaborar um novo índice da inflação (Chris McGrath/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 7 de dezembro de 2010 às 10h59.

Buenos Aires - Pela primeira vez em quatro anos, uma missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) desembarcará na capital argentina com o objetivo de assessorar o governo da presidente Cristina Kirchner na elaboração do índice da inflação. A medição atual, realizada pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), é suspeita de intensa manipulação por parte do próprio governo, que ordenou a intervenção do organismo em janeiro de 2007.

A missão chegará amanhã a Buenos Aires e começará seus trabalhos na quinta-feira, já que amanhã, dia 8 de dezembro, é feriado religioso na Argentina. A missão, que será comandada pelo subchefe do Departamento de Hemisfério Ocidental do FMI, Robert Rennhack, permanecerá no país até o dia 17.

A confecção do atual índice de inflação é questionada pelo FMI, pelo Banco Mundial, por partidos da oposição, economistas independentes, associações empresariais e organizações de defesa dos consumidores, além da própria opinião pública argentina. O governo sustenta que a inflação acumulada entre janeiro e outubro deste ano é de 9,2%. No entanto, segundo economistas independentes, ela teria oscilado entre 21% e 23%. As disparidades entre a inflação "oficial" e a "real" acumulam-se há três anos, enquanto o governo nega a escalada inflacionária.

O governo da presidente Cristina Kirchner está tentando minimizar a visita da missão do FMI. O diretor do Indec, Norberto Itzcovich, afirmou que a missão do Fundo é "puramente técnica" e que "não tem nada a ver como as missões que vinham antigamente nos dizer como tinha de funcionar a economia".

A chegada da missão do FMI implicaria numa mudança drástica da política do governo Kirchner com o fundo. Dois meses atrás, antes da morte do ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), o ministro da Economia, Amado Boudou, declarou, sem papas na língua: "fazer um acordo com o FMI seria como abaixar as calças".

Kirchner, considerado o verdadeiro poder no governo de sua mulher até sua morte, no dia 27 de outubro, opunha-se visceralmente a qualquer tipo de acordo ou colaboração do FMI na política econômica argentina. "Não queremos mais lições do FMI", disse Kirchner pouco antes de morrer de um ataque cardíaco fulminante. Em 2006, quando a Argentina pagou a totalidade da dívida com o Fundo, Kirchner exclamou exultante: "tchau, FMI!".

Recentemente, a própria presidente Cristina Kirchner havia chamado o FMI de "escorpião venenoso". Analistas afirmam que, com a manobra de reaproximação com o FMI, a presidente Cristina tenta recuperar a credibilidade perdida do Indec. Mas, o principal interesse da presidente, sustentam os economistas, é o de mostrar uma imagem mais amistosa ao mercado desde a morte do marido, já que há três semanas também anunciou a retomada das negociações com o Clube de Paris para o pagamento da dívida de mais de US$ 7 bilhões em estado de calote.

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