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Fluxo reverso: Americanos migram para o México para fugir do Governo Trump

Migrantes relatam como medidas tomadas pelo republicano os levaram a deixar os EUA e se mudar para o país vizinho

Cortes de programas de inclusão e repressão de direitos sociais motivam migração crescente para o México (Mandel Ngan/AFP)

Cortes de programas de inclusão e repressão de direitos sociais motivam migração crescente para o México (Mandel Ngan/AFP)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 28 de março de 2025 às 06h41.

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Supressão de direitos, discriminação, cortes drásticos do governo e discurso de polarização. Os motivos pelos quais alguns americanos vêm escolhendo viver no México são diversos, mas todos têm uma origem comum: as políticas do presidente Donald Trump.

O país abriga um quinto dos cinco milhões de expatriados contabilizados em 2023 pela Association of Americans Resident Overseas (Associação de Americanos que Vivem no Exterior). A migração para o vizinho se intensificou durante a pandemia de COVID-19, com milhares de "nômades digitais" se estabelecendo na Cidade do México para escapar das restrições sanitárias e aproveitar o menor custo de vida. Mas o retorno de Trump à Casa Branca deu a alguns o argumento definitivo para não retornar, e a outros um motivo para sair.

Retorno de Trump e seus impactos na migração

Ao retornar ao poder, o magnata emitiu decretos reconhecendo apenas dois sexos, masculino e feminino, e restringiu os procedimentos de redesignação sexual para menores de 19 anos.

Após morar na Cidade do México desde 2020, Tiffany Nicole, de 45 anos, pensava em retornar a Chicago para ficar com sua filha, mas a vitória de Trump frustrou seus planos.

— Em novembro, enquanto eu estava em Chicago, aguardei para ver o que aconteceria na eleição. Tive a chance de me conectar com minha família. Agora estou vendo se consigo tirá-la do país — diz.

Ela decidiu emigrar após a morte de George Floyd nas mãos de um policial em maio de 2020.

— Como negra, não me sentia mais segura no meu país — diz Nicole, uma consultora tributária cujos clientes incluem outros expatriados americanos.

Eliminação de programas de diversidade e inclusão

Assim que assumiu o cargo, Trump eliminou programas de diversidade, equidade e inclusão (DEI), que, segundo ele, levavam à "discriminação ilegal e imoral".

Também ordenou a demolição de um mural do "Black Lives Matter", o movimento civil que surgiu após o assassinato de Floyd.

Discriminação e fuga para o México

— Na era Trump, os ataques por ser afro-latino, por ser dominicano, por ser gay se multiplicam em todos os lugares — denuncia Lee Jiménez, um nova-iorquino de 38 anos, instrutor de ioga e influenciador fitness que deixou seu país em 2022.

— Viver no México tem sido ótimo. Os Estados Unidos não são mais o que costumavam ser. O sonho americano acabou — afirma, agarrado a uma certeza. — Não me vejo morando nos lá novamente.

A busca por uma "vida melhor" no México

Oscar Gómez, um consultor de gestão empresarial de 55 anos, já estava pensando em deixar os Estados Unidos, mas Trump precipitou seus planos. Com sete malas e seu cachorro Iggy, chegou há três semanas à capital mexicana.

— Quando Trump, que não apoiei, venceu, pensei: "Este é o momento" — disse o americano, filho de pais mexicanos.

Ele morava em um apartamento com uma vista privilegiada de São Francisco, mas sua renda diminuiu depois que o republicano cancelou os programas DEI com os quais tinha contratos.

— É irônico. Meus pais foram para os Estados Unidos em busca de uma vida melhor, e agora estou vindo para o México pelo mesmo motivo — diz.

Polarização e o desgaste com os Estados Unidos

Jessica James, "J.J", de 40 anos, que vive entre a Cidade do México e o Alasca devido ao seu trabalho em uma empresa de pesca, confessa que Trump esgotou seu último "incentivo" para se estabelecer permanentemente nos Estados Unidos.

— Sinto que o principal motivo é o que está acontecendo nos Estados Unidos. É desanimador, terrível, ver quantas pessoas votaram em Trump — diz.

Ela nasceu em San Diego, de mãe mexicana, e cresceu no Alasca, um estado republicano conservador, partido que não apoia.

— As coisas não mudaram muito por lá, mas a verdade é que há muita polarização nas redes sociais e na mídia — enfatiza James, que tem um novo sonho: se tornar cidadã mexicana.

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