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FLIP: o retorno da geopolítica

O mundo mudou nos últimos dez dias. Pelo menos na visão do economista Marcos Troyjo, diretor do BRICLab da Universidade de Columbia, centro de estudos sobre Brasil, Rússia, Índia e China. “Se a geopolítica estava abandonada desde a queda do muro de Berlim, em 1989, ou desde a noite de natal de 1991, quando se […]

MARCOS TROYJO: “se a geopolítica estava abandonada desde o natal de 1991, agora voltou a ser decisiva” / Divulgação (Divulgação/Acervo)

MARCOS TROYJO: “se a geopolítica estava abandonada desde o natal de 1991, agora voltou a ser decisiva” / Divulgação (Divulgação/Acervo)

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Da Redação

Publicado em 1 de julho de 2016 às 16h37.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h12.

O mundo mudou nos últimos dez dias. Pelo menos na visão do economista Marcos Troyjo, diretor do BRICLab da Universidade de Columbia, centro de estudos sobre Brasil, Rússia, Índia e China. “Se a geopolítica estava abandonada desde a queda do muro de Berlim, em 1989, ou desde a noite de natal de 1991, quando se deu fim à União Soviética, agora, ela voltou a ser decisiva”, disse nesta quinta-feira, durante a Festa Literária Internacional de Paraty. Um mundo, que nas duas últimas décadas se deixou regular especialmente pelos interesses econômicos, será obrigado a retomar a diplomacia.

Essa rearrumação do globo é tema de seu novo livro, lançado nesta sexta-feira: Desglobalização: crônica de um mundo em mudança. A publicação é um compilado de textos publicados no Financial Times e em jornais brasileiros, além de contar com um ensaio exclusivo sobre a nova lógica mundial. O livro discute o risco da “desglobalização” especialmente a partir de 2008, com a quebra do Lehmann Brothers, que levou os países do mundo a jogar “cada um por si” no cenário global, com estratégias cada vez mais protecionistas e individualizadas. Ao que parece, chegou o momento da virada deste ciclo. A seguir, quatro pontos dessa nova ordem mundial, na visão do economista.

A Europa no centro

Ainda no início do século 20, o geógrafo Halford John Mackinder dividiu o mundo em três grandes ilhas: a ilha do mundo, que reunia Europa, África e Ásia; as ilhas offshore, constituídas por Japão e Reino Unido; e as ilhas distantes, que eram os Estados Unidos, a América do Sul e a Oceania. Em sua teoria, o geógrafo defendia que o heartland, o pivô econômico e político do mundo, era uma área ali concentrada entre a Alemanha e a Rússia. Ele defendia que quem dominasse o heartland dominaria também todas as outras ilhas. A região, que foi palco das duas grandes guerras anos depois e decisiva para a história contemporânea, hoje, volta ao centro das discussões globais, com o futuro da União Europeia sendo colocado em xeque.

A oportunidade russa

Se tem um país que pode celebrar o Brexit é a Rússia. O Reino Unido vai sair em busca de novos acordos políticos e Vladimir Putin [presidente do país] estará ali a postos para se tornar aliado. A Rússia, que já não faz parte do bloco europeu, poderia conquistar uma liberação de sanções que lhe foram impostas após a anexação da Crimeia, em 2014. A saída britânica pode gerar uma nova movimentação no mundo – e ela está muito além da mera reunião geográfica. Não fazia mais sentido para o Reino Unido continuar vinculado a um bloco geopoliticamente ultrapassado e economicamente estagnado.

O peso do Oriente

Enquanto o mundo se reorganiza, um fenômeno econômico ganha força no Oriente. China, Índia, Indonésia, Vietnã e Paquistão ainda devem crescer mais de 5% ao ano pelos próximos dez anos. Para o Brasil, a notícia é ótima. Um excelente mercado para desovar commodities num futuro próximo. Mas há o risco de não passar disso. Se o Brasil poderia ter como perspectiva ser um novo polo de industrialização do mundo, agora que os custos de produção na China estão altos, é possível que esse mercado seja abocanhado pelos próprios vizinhos orientais. Hoje, Índia, Indonésia e Vietnã são os polos de mão de obra barata do mundo. E os chineses fazem o mesmo que fizeram com eles até pouco tempo: exploram esse trabalho transferindo para lá suas indústrias mais sujas”, diz o especialista.

Chile e Vietnã, e o Mercosul 

A Parceria Transpacífico, firmada em outubro de 2015, é um exemplo desse novo. O acordo estratégico foi firmado entre Brunei, Chile, Nova Zelândia, Singapura, Austrália, Canadá, Japão, Malásia, México, Peru, Estados Unidos e Vietnã. O bloco, hoje, reúne 40% da economia mundial. No que Chile e Vietnã se assemelham culturalmente ou geograficamente? Em nada. Mas são países que aceitaram jogar sob as mesmas regras econômicas, compartilhando formas semelhantes de organizar o trabalho e o comércio. Daí surge uma lição para o Brasil. Será o Mercosul o bloco que mais faz sentido para o país?

(Camila Almeida, de Paraty)

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