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Figurões de China e EUA negociam pela primeira vez no governo Biden

Os principais oficiais da diplomacia de China e EUA se encontram no Alaska pela primeira vez na era Biden. A reunião começa a definir o tom da guerra comercial no novo governo

Antony Blinken, secretário de Estado americano: número um da diplomacia Biden também esteve na gestão Obama (Kim Kyung-Hoon/Pool/File Photo/Reuters)

Antony Blinken, secretário de Estado americano: número um da diplomacia Biden também esteve na gestão Obama (Kim Kyung-Hoon/Pool/File Photo/Reuters)

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Carolina Riveira

Publicado em 18 de março de 2021 às 06h00.

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Como será a relação entre as duas maiores economias do mundo no governo Joe Biden é uma pergunta que começa a ser respondida de vez nesta quinta-feira, 18. Os principais diplomatas de China e Estados Unidos se reúnem no Alaska, estado americano, no que será a primeira reunião entre as partes desde o começo do governo Biden em janeiro.

O encontro vai ajudar a definir o tom da relação entre as duas potências nos próximos anos, em meio a uma guerra comercial acentuada sobretudo no mandato de Trump em 2016, mas que Biden não parece estar perto de encerrar.

Participam do encontro pelo lado americano Antony Blinken, secretário de Estado, e Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional, os dois principais nomes da política externa no governo e ambos com participação no governo de Barack Obama, quando Biden era vice — e quando as relações com a China eram, ainda, mais amenas.

Já os chineses enviaram ao encontro o ministro das Relações Exteriores, Wang Yi, e Yang Jiechi, responsável pelas Relações Exteriores no Partido Comunista.

Devem estar na pauta temas dos mais variados, de direitos humanos em Hong Kong a produtos barrados entre os países e a gestão global da pandemia. Um dos pontos da agenda chinesa é voltar a estabelecer reuniões frequentes com autoridades americanas, que eram comuns durante o governo Obama, justamente com Blinken como um dos oficiais à época. Segundo o Wall Street Journal, os chineses também defendem uma reunião entre Biden e o presidente chinês, Xi Jinping nos próximos meses.

Antes do encontro, no entanto, o tom subiu entre as partes. O governo Biden sancionou ontem 24 autoridades chinesas com atuação em Hong Kong. O motivo é o avanço da repressão chinesa sobre os direitos políticos na ilha. Ao longo dos últimos anos, autoridades e produtos de ambos os lados também já haviam sido alvos de sanções.

Enquanto isso, em visita a Coreia do Sul e Japão nesta semana, ambos aliados americanos na Ásia, Blinken voltou a criticar a China, afirmando que o país está "agindo tanto mais repressivamente em casa quanto mais agressivamente no exterior".

O episódio pode ser uma prévia dos desafios que os dois países terão para se entender. Blinken e outros grandes nomes da política externa de Biden, figuras conhecidas em Washington há décadas, devem falar mais grosso agora do que na era Obama.

"O presidente entende que o mundo mudou [desde o governo Obama] e a China é um lugar diferente agora. Acho que o que se verá com a China é uma continuação de negociações comerciais muito duras e até do que vimos sob Trump", disse à EXAME Francis J. Kelly, chefe de Relações com o Governo e Assuntos Públicos para as Américas do Norte e Latina do banco alemão Deutsche Bank.

"Pelo menos em um primeiro momento, diversas medidas tomadas contra a China pelo governo Trump não serão significativamente atenuadas pelo governo Biden, a não ser aquelas que estão claramente prejudicando as próprias empresas americanas", disse em entrevista anterior o professor Luís Antonio Paulino, do Departamento de Ciências Políticas e Econômicas da Unesp.

No entanto, a guerra comercial vai continuar por "motivos diferentes", diz Anatole Kaletsky, co-presidente da Gavekal Research, uma das maiores casas de análise do mundo e parceira da EXAME Invest Pro. Em relatório sobre os riscos para a macroeconomia global em 2021, Kaletsky aponta que a retórica do governo Biden deve ser mais estratégica, levando em conta os aliados americanos na Ásia e, queira Biden ou não, a interdependência entre as duas economias. Temas de direitos humanos também seguirão sendo frequentes.

"Biden e os pragmáticos nomeados para dirigir sua política externa acharão mais fácil seguir uma estratégia de diálogo crítico, mas pacífico, a um confronto inútil", escreve Kaletsky.

"A principal razão é que Biden aceita que a ascensão da China ao status de superpotência é inevitável e que tentar suprimir o desenvolvimento econômico da China bloqueando a tecnologia e os mercados financeiros dos EUA está fadado ao fracasso", diz.

O porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres, também falou nesta semana sobre o encontro. “Esperamos que a China e os Estados Unidos possam encontrar meios para coordenação em questões chaves, especialmente em torno das mudanças climáticas e da reconstrução do mundo pós-pandemia”, disse. A expectativa é que os dois países mais ricos do mundo discutam também formas de avançar no combate global ao coronavírus e a outras temáticas urgentes.

 

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