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Fiéis em Meca condenam jihadistas mas desconfiam da coalizão

Peregrinos denunciam atrocidades cometidas pelo Estado Islâmico, mas desconfiam da campanha militar dirigida por Washington contra o grupo

Peregrinos em Meca: "Islã não tem nada a ver com as ações do EI", diz peregrino (Mohammed al-Shaikh/AFP)

Peregrinos em Meca: "Islã não tem nada a ver com as ações do EI", diz peregrino (Mohammed al-Shaikh/AFP)

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Da Redação

Publicado em 30 de setembro de 2014 às 13h01.

Meca - Os peregrinos denunciam em Meca as atrocidades cometidas pelos jihadistas do Estado Islâmico (EI) no Iraque e na Síria, mas desconfiam da campanha militar dirigida por Washington contra o grupo.

"O Islã não tem nada a ver com as ações do Estado Islâmico", afirma Alan Abdullah, um peregrino curdo iraquiano, que classifica esta organização extremista de vírus que ameaça o mundo inteiro.

O EI, que controla grandes territórios entre Síria e Iraque, é acusado de massacres e atrocidades contra soldados e civis. Além disso, reivindicou a decapitação de dois jornalistas americanos e de um agente humanitário britânico.

Centenas de milhares de peregrinos seguiam se reunindo nesta terça-feira em Meca para o Hajj, ou peregrinação anual.

A Arábia Saudita forma parte da coalizão internacional dirigida pelos Estados Unidos que realiza ataques aéreos desde a semana passada contra o EI na Síria. Os combatentes curdos também se mobilizaram contra os jihadistas.

"O EI comete atos terroristas decapitando pessoas e criando desordem", afirma outro peregrino curdo em Meca, Shawkat Ahmed Qader. "O Islã está longe de suas ações e crenças", acrescenta este homem de 50 anos, que lamenta a situação vivida pelo Curdistão.

"Temos por um lado (os jihadistas) do EI e por outro aviões americanos que os bombardeiam. Queremos segurança", afirma.

Um peregrino sírio da região de Aleppo, que chegou a Meca proveniente da Turquia, onde se refugiou há alguns meses, critica a coalizão dos Estados Unidos, que levou três anos para intervir após o início da guerra.

"Esperávamos que uma coalizão colocasse fim à opressão contra o povo sírio e não se limitasse a atacar apenas o EI e outros grupos", declarou Mohamed, visivelmente nervoso. Ele prefere não fornecer seu sobrenome.

Na semana passada, o emir do Catar, cujo país forma parte da coalizão, afirmou que o objetivo no curto prazo era eliminar os movimentos extremistas, mas insistiu que é preciso no longo prazo punir o regime do presidente sírio Bashar al-Assad.

Islã não é fanatismo

Em Meca, Petra, uma francesa que se chama Nur desde sua conversão à religião muçulmana diz que o Islã no qual acredita "não é um Islã fanático".

Quando é perguntada sobre os bombardeios da coalizão, esta mulher, vestida com uma abaya (túnica) preta e com um véu branco que cobre seu cabelo loiro, é muito crítica.

"É inadmissível", afirma. "Tentam nos fazer acreditar em coisas que não correspondem necessariamente à realidade", acrescenta, lembrando o exemplo do Iraque em 2003, quando os Estados Unidos intervieram alegando a presença de armas de destruição em massa.

Segundo ela, "atualmente há uma vontade de fazer com que as pessoas temam o Islã". Ela reconhece que oculta sua religião em suas atividades profissionais. "É impossível, se usar o véu não posso trabalhar", confessa.

E conclui: "o Islã como era vivido na época do profeta ão tem nada a ver com o que nos fazem acreditar hoje".

Um comentário que desperta aprovação e sorrisos entre os demais peregrinos franceses.

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