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Fernández visita o México e marca distância do Brasil

O gesto pode marcar o renascimento de uma frente de líderes de esquerda na América Latina

Alberto Fernández: presidente eleito da argentina tem um histórico recente de desavenças com Bolsonaro (Ricardo Moraes/Reuters)

Alberto Fernández: presidente eleito da argentina tem um histórico recente de desavenças com Bolsonaro (Ricardo Moraes/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 1 de novembro de 2019 às 06h59.

Última atualização em 1 de novembro de 2019 às 07h07.

São Paulo — Enquanto o governo brasileiro continua às voltas com uma nova crise criada pela família presidencial — a infame referência de Eduardo Bolsonaro ao AI-5 — o presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández, marca o distanciamento com o Brasil. Eleito no domingo, Fernández vai nesta sexta-feira ao México para sua primeira viagem internacional.

Ignora, portanto, o vizinho do norte e maior parceiro comercial do país, o Brasil. O domingo de votação argentino foi marcado por homenagens de Fernández ao ex-presidente brasileiro Lula e por pedidos de liberdade para ele.

Como resposta, Bolsonaro não cumprimentou Fernández pela vitória. Embora mais recentemente tenham dado declarações de que pretendem trabalhar em conjunto, o presidente brasileiro e o futuro mandatário argentino têm um histórico de desavenças — Fernández chamou Bolsonaro de racista, enquanto o brasileiro afirmou que a eleição da esquerda argentina transformaria o país numa nova Venezuela.

O grau de truculência e de interferência na política interna vizinha é inédito. No meio do caminho, o Uruguai, onde começou nesta semana a campanha para o segundo turno eleitoral, tratou ontem de se posicionar contra esse tipo de posição. Após Bolsonaro indicar apoio ao direitista Luis Lacalle Pou, o governo uruguaio convocou o embaixador brasileiro para esclarecimentos. E o próprio Lacalle Pou rechaçou o apoio afirmando não ver com bons olhos esse tipo de interferência.

No México, Fernández encontrará o pressionado presidente Manuel López Obrador, num gesto que pode marcar o renascimento de uma frente de líderes de esquerda na América Latina, um grupo que reúne ainda o boliviano Evo Morález — e que tenta manter distância do venezuelano Nicolás Maduro.

Obrador, no cargo há pouco mais de um ano, faz um governo marcado pelo confronto com a elite mexicana. Um novo episódio aconteceu semana passada, quando uma lei aprovada na Câmara torna a evasão fiscal um crime de segurança nacional, com pena de até nove anos de prisão. Segundo analistas, a medida traz incertezas para novos investimentos no país.

Endurecer o combate à corrupção era uma das bandeiras de Obrador, que conseguiu uma importante vitória política esta semana ao prender o filho do traficante El Chapo. Mas as políticas econômicas do novo governo não têm surtido efeito, com o país estagnado no primeiro semestre. As perspectivas de um avanço mais lento nos Estados Unidos tornam o futuro econômico mexicano ainda mais incerto.

Eleito para tirar a economia argentina das cordas, Fernández tem pouco a aprender no México, para além de afirmar seu distanciamento do governo brasileiro.

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