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Ferguson celebra Ação de Graças sem incidentes

Após distúrbios nessa semana, após justiça não indiciar policial branco que matou Michael Brown, a cidade pôde celebrar hoje o Dia de Ação de Graças em calma

Faixa do Dia de Ação de Graças em frente à delegacia em Ferguson, EUA (Lucas Jackson/Reuters)

Faixa do Dia de Ação de Graças em frente à delegacia em Ferguson, EUA (Lucas Jackson/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 28 de novembro de 2014 às 09h19.

Ferguson - Após os distúrbios desta semana, depois que a Justiça decidiu não indiciar o policial branco que matou o jovem negro Michael Brown, a cidade de Ferguson, nos Estados Unidos, pôde celebrar nesta quinta-feira um Dia de Ação de Graças em calma, marcado pela solidariedade.

Ferguson, um subúrbio da cidade de Saint Louis, no estado do Missouri, tenta superar, pouco a pouco, os violentos protestos que, nas noites de segunda e terça-feira, provocaram mais de 120 detenções, assim como numerosos danos materiais.

O grande júri do condado de Saint Louis decidiu na segunda-feira que o policial Darren Wilson, de 28 anos, não será processado pela morte de Brown, de 18 anos. No dia 9 de agosto, o policial disparou várias vezes contra o jovem na zona residencial de Canfield Drive, depois que Brown tinha roubado um maço de cigarros em um estabelecimento próximo, que hoje estava cercado por um cordão policial.

Vários moradores da cidade interromperam hoje suas refeições de Ação de Graças para se reunirem nas proximidades de Canfield Drive, onde um monumento improvisado, com flores e bichos de pelúcia, foi erguido em memória do jovem em frente à carcaça de um automóvel incendiado durante os distúrbios.

"Meu filho me perguntou por ele. É um menino educado. E me disse "quero ver Michael Brown". Queria trazê-lo aqui para que veja o que ocorre hoje em dia nos Estados Unidos", disse à Agência Efe Kartess Browder, de 24 anos, enquanto segurava pelas mãos seu filho brincalhão.

"O povo não pode nem dormir, especialmente nesta área", acrescentou Browder, ao se referir às contínuas batidas das forças da ordem que fazem a segurança no bairro.

Não muito longe de Canfield Drive, os escombros de um salão de beleza atacado e incendiado na noite da segunda-feira passada ainda exalavam hoje um forte cheiro de queimado, enquanto a neve que caiu nas últimas 24 horas derretia.

"Isto é a cena de um crime", advertiu à Efe um policial, que afirmou que não se pode ultrapassar a fita amarela colocada em torno do local, porque o salão de beleza é objeto de uma investigação policial.

Os proprietários dos estabelecimentos destruídos por atos de vandalismo puderam se ressarcir um pouco hoje desse duro golpe ao desfrutar o saboroso peru, o principal prato servido nos lares americanos no Dia de Ação de Graças.

O peru chegou a suas mesas graças a uma doação da Associação Nacional para o Progresso das Pessoas de Cor (NAACP, sigla em inglês), uma organização defensora dos direitos civis das minorias étnicas nos Estados Unidos.

A solidariedade também bateu na porta da vendedora de doces Natalie Dubose, mãe solteira e com dois filhos, cujo estabelecimento foi destruído por três indivíduos durante os distúrbios da última segunda-feira.

Seus utensílios e caixas de guardar produtos foram destruídos e suas 40 encomendas de bolos para o Dia de Ação de Graças ficaram no ar. "Me senti tão mal", comentou a mulher à imprensa local.

Disposta a cumprir com seus compromissos em um dia tão importante, Natalie iniciou uma campanha nas redes sociais para arrecadar dinheiro e teve tanto sucesso que até hoje já tinha conseguido US$ 230 mil em doações.

"Nunca senti tanto carinho", afirmou a doceira, que logo em seguida começou a chorar emocionada.

Voluntários da Cruz Vermelha de Saint Louis também se mobilizaram para ajudar as famílias que perderam suas casas em consequência da violência.

A tensão parece ter diminuído no decorrer da semana e as frequentes manifestações em frente ao Departamento de Polícia de Ferguson, que se transformaram em um ritual diário desde a segunda-feira, são cada vez menos frequentes.

Dezenas de pessoas se concentraram na noite de quarta-feira em frente ao distrito policial, cuja segurança é feita por cerca de 40 efetivos da Guarda Nacional - uma força militar de reserva - fortemente equipados com material antidistúrbios.

Nessa mobilização não faltou a estudante afro-americana Atia, de 24 anos, que costuma comparecer aos protestos com um cartaz escrito: "Justiça para Mike Brown".

A menina parece disposta a continuar lutando por essa "justiça", inclusive no Dia de Ação de Graças. "Vou comer o peru e voltarei aqui. A luta continuará todos os dias", disse à Efe.

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