Agência
Publicado em 6 de maio de 2025 às 15h57.
Última atualização em 6 de maio de 2025 às 16h33.
Um mês após os Estados Unidos intensificarem sua política tarifária contra a China, acirrando as incertezas no comércio internacional, a 135ª edição da Feira de Cantão mostrou resiliência e vigor do setor. Considerada a maior plataforma de comércio exterior da China, o evento atraiu quase 290 mil compradores estrangeiros, o que representa um crescimento de 17,3% em relação ao ano anterior.
O aumento expressivo na participação internacional reforça a vitalidade do comércio transnacional, mesmo diante do novo ciclo de tensões geoeconômicas. Realizada em três etapas, a feira reafirmou sua importância como termômetro do comércio global e vitrine estratégica para as exportações chinesas.
Mais de 4,55 milhões de produtos foram expostos, incluindo mais de 1 milhão de lançamentos. As intenções de negócios registradas no local somaram US$ 25,44 bilhões, com crescimento de 3% em relação à edição anterior.
O movimento intenso no pavilhão, do início ao fim, demonstrou a confiança do mundo na economia chinesa. Em vez de se afastarem, compradores internacionais continuaram a firmar contratos com empresas chinesas, contrariando a tentativa dos Estados Unidos de isolar a China por meio de tarifas. A exemplo da primeira edição da feira, em 1957 — quando o país ainda enfrentava bloqueios econômicos e diplomáticos —, a atual edição demonstrou a resiliência do modelo chinês e a disposição do país em se manter aberto ao mundo.
Mesmo sob as pressões da guerra tarifária, o Made in China continua exercendo forte atração. Desde a véspera da abertura da feira, já havia mais de 200 mil compradores estrangeiros pré-registrados. Durante todo o evento, o número total de visitantes internacionais ultrapassou os 289 mil, estabelecendo um novo recorde. Também aumentou significativamente o número de grandes compradores, associações comerciais e empresas interessadas em parcerias duradouras com fornecedores chineses. O valor das intenções de exportação registradas durante o evento confirmou o otimismo do mercado.
A presença da tecnologia foi um dos pontos altos desta edição. Mais de 1,1 mil empresas participaram das seções voltadas para a inovação, com cerca de 320 mil produtos tecnológicos em exibição. A recém-inaugurada área de robótica atraiu visitantes de todos os continentes, que filmavam e tiravam fotos de robôs humanoides, cães-robôs e dispositivos inteligentes, comentando que a ficção científica havia, enfim, se tornado realidade. A empresa Qianxun Technology, de Shenzhen, estreante no evento, conseguiu reunir mais de US$ 20 milhões em intenções de pedidos, com perspectiva concreta de fechar pelo menos US$ 5 milhões em contratos.
Outro destaque foi a valorização da estética chinesa, que tem ganhado espaço global. Empresas como a Guangzhou Textile atraíram compradores com produtos que unem técnicas tradicionais e linguagem contemporânea, transmitindo uma confiança cultural renovada. O sucesso das peças expostas no “Salão do Tesouro”, que reúne os vencedores do Prêmio CF de design, reforçou o papel de Guangdong como centro criativo.
Além disso, a feira apostou em sustentabilidade e soluções verdes, com 880 mil produtos de baixo carbono em exposição. A empresa Guangdong Haomei, por exemplo, apresentou sistemas de isolamento térmico e estruturas para energia solar, atendendo às exigências ambientais de mercados europeus e americanos.
Mesmo com a crescente pressão dos EUA, que recentemente elevaram tarifas para até 245% e suspenderam isenções de tributos para encomendas de pequeno porte, as empresas chinesas demonstraram resiliência ao ampliar sua atuação no mercado interno e explorar novas frentes no comércio internacional. Algumas transformaram seus estandes em estúdios de live commerce, como a Guangdong Lingfeng, que passou a promover produtos nacionais com foco em vendas domésticas. Outras, como a Songfa Ceramics e a Obiya Leather, adotaram estratégias de e-commerce e marketing internacional para impulsionar suas marcas próprias em plataformas como Amazon e TikTok.
Apesar do fim da feira presencial, a versão online da Feira de Cantão permanece ativa, com mais de 527 mil compradores de 229 países e regiões cadastrados. O aplicativo oficial da feira ultrapassou 320 mil downloads e segue gerando oportunidades de negócios o ano todo.
Na turbulência da guerra tarifária, a China mantém sua rota. Por mais de seis décadas, a Feira de Cantão resistiu a bloqueios e crises, e nesta edição, mais uma vez, demonstrou sua capacidade de transformar desafios em oportunidades. Com inovação contínua, abertura e cooperação, o comércio chinês segue navegando em mares globais — e agora, mais do que nunca, com vento a favor.