Donald Trump: parlamentares republicanos e democratas pediram para o presidente americano não demitir Mueller, responsável pelas investigações (Win McNamee/Reuters)
Reuters
Publicado em 10 de abril de 2018 às 20h27.
Washington - Agentes do FBI que realizaram operação nos escritórios do advogado pessoal do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, buscavam detalhes sobre "preparativos, acordos e pagamentos" relacionados a duas mulheres que disseram ter tido relações sexuais com Trump, disse uma fonte nesta terça-feira.
Na operação mirando o advogado Michael Cohen na segunda-feira, o FBI buscava informações sobre pagamentos para a atriz de filmes pornô Stormy Daniels, que recebeu 130 mil dólares de Cohen em troca de assinar um acordo de não divulgação, e para Karen McDougal, uma ex-modelo da Playboy, segundo a fonte.
As buscas do FBI na casa e escritório de Cohen, que Trump denunciou na segunda-feira como vergonhosas, são um dramático novo desenvolvimento em uma série de investigações envolvendo associados do presidente republicano.
As operações são relacionadas a uma investigação federal liderada pelo procurador especial Robert Mueller sobre suposto envolvimento russo na eleição presidencial norte-americana de 2016 e possível conluio de assessores da campanha de Trump.
O New York Times, que relatou pela primeira vez as notícias sobre as mulheres, informou que o mandado de busca procurava informações sobre McDougal, que recebeu 150 mil dólares da empresa-mãe do tabloide The National Enquirer, que então reteve uma reportagem sobre o relacionamento dela com Trump.
Trump, um empresário de Nova York antes de se tornar presidente, é íntimo do chefe-executivo da companhia.
Uma fonte familiar à questão confirmou que o FBI estava analisando os pagamentos, incluindo a conexão com o Enquirer, mas disse que eles "não são o principal foco desta parte da investigação".
Daniels, cujo nome verdadeiro é Stephanie Clifford, processou Cohen para ser liberada do acordo de não divulgação sobre uma suposta noite em 2006 com Trump. McDougal disse que teve um relacionamento mais longo com ele. Autoridades de Trump negaram que ele teve relações com qualquer uma das duas mulheres.
A fonte disse que investigadores analisavam se houve padrão mais amplo de fraude fiscal, fraude bancária, evasão fiscal, lavagem de dinheiro e outros crimes nos negócios particulares de Cohen, incluindo seu trabalho para Trump e algumas transações imobiliárias que envolveram compradores russos e preços que aparentavam estar bem acima de valores de mercado.
Irritado por conta das operações mirando Cohen, Trump voltou a fazer ataques contra a aplicação da lei em duas breves mensagens no Twitter nesta terça-feira. Ele lamentou que o "privilégio advogado-cliente está morto" e denunciou uma "total caça às bruxas", aparentemente reafirmando sua posição de longa data sobre a investigação de Mueller. Ele não elaborou.
O New York Times relatou que as buscas irritaram Trump e que ele teria dito estar considerando demitir o vice-secretário de Justiça, Rod Rosenstein. Rosenstein aprovou a operação, de acordo com autoridades familiares à investigação.
"A operação é sísmica", disse o senador democrata dos EUA, Richard Blumenthal, um ex-procurador dos EUA, à MSNBC nesta terça-feira, acrescentando que tais buscas do FBI indicam a possibilidade de um crime ter sido cometido.
A investigação sobre a Rússia tem perseguido Trump desde que ele assumiu, no ano passado, fazendo com que ele criticasse publicamente o secretário de Justiça, Jeff Sessions, por se afastar da investigação sobre a Rússia. O presidente tem sugerido que pode tentar demitir Mueller.
Os eventos de segunda-feira renovaram preocupações de que Trump pode tentar agir contra Mueller, que foi nomeado no ano passado por Rosenstein. Críticos disseram que se Trump tentar remover Mueller, isto equivaleria a interferência na investigação.
Parlamentares republicanos e democratas pediram para Trump não demitir Mueller.
"Seria suicídio o presidente querer falar sobre demitir Mueller. Quanto menos o presidente falar sobre esta coisa toda, melhor ele estará, mais forte sua Presidência será", disse o senador republicano Chuck Grassley em entrevista à Fox Business Network.
(Reportagem adicional de Susan Heavey, Nathan Layne, Amanda Becker, Makini Brice)