Negociações de paz na Colômbia: o primeiro acordo foi rejeitado por estreita maioria num plebiscito realizado no último dia 2 de outubro (John Vizcaino / Reuters/Reuters)
Agência Brasil
Publicado em 4 de novembro de 2016 às 09h13.
Última atualização em 4 de novembro de 2016 às 09h14.
Num esforço para salvar o acordo entre o governo e a maior guerrilha da Colômbia, o presidente Juan Manuel Santos enviará nesta sexta-feira (4) negociadores a Cuba. Eles estão levando 400 propostas de emenda ao documento, que já havia sido assinado por Santos e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e que foi rejeitado no plebiscito de 2 de outubro.
A inesperada derrota nas urnas levou Santos e as Farc a abrir nova rodada de negociações - desta vez incluindo os líderes da campanha do "não", que se opuseram ao acordo original. O principal opositor é o ex-presidente Álvaro Uribe, antecessor e antigo aliado de Santos. Durante seu governo, a Colômbia optou por combater militarmente a guerrilha e o narcotráfico.
Santos, que foi ministro da Defesa de Uribe, colocou como meta de seu governo a negociação de um acordo de paz. Depois de quatro anos de idas e vindas, o presidente colombiano e o líder dos 7 mil guerrilheiros das Farc, Rodrigo Londoño Echeverri (conhecido como Timochenko), assinaram um acordo de 297 páginas para colocar um fim a meio século de guerra.
Em 52 anos de conflito armado, que envolveu também os cartéis de narcotráfico e os grupos paramilitares contratados por eles, 220 mil pessoas morreram - a maioria civis. Mais de 5 milhões abandonaram suas casas para fugir da violência.
O acordo, celebrado pela comunidade internacional, foi rejeitado por estreita maioria num plebiscito realizado no último dia 2 de outubro - pouco antes de Santos receber o Prêmio Nobel da Paz deste ano. Uribe, líder da campanha do "não", considera que foram feitas demasiadas concessões às Farc.
Além de uma reforma agrária e o compromisso de erradicar a produção de drogas ilegais, o acordo prevê perdão para os guerrilheiros - salvo os que cometeram crimes contra a humanidade - e subsídios para que eles possam depor as armas e se integrar à sociedade civil. As Farc teriam o direito de formar o próprio partido político, para defender suas ideias no Parlamento.
Segundo Uribe, não há garantia de que as Farc cumprirão a palavra. Ele considera que o acordo, tal como estava, apenas assegurava "a impunidade ao maior cartel de narcotráfico" do país. Com o fim da Guerra Fria, a guerrilha perdeu fontes de financiamento externo e passou a depender da produção e venda de cocaína para desenvolver suas atividades.
O conflito começou nos anos 60, quando os partidos Liberal e Conservador pegaram em armas para resolver suas diferenças. Os camponeses, vitimas da violência, formaram as Farc - a guerrilha mais antiga da América Latina, inspirada na Revolução Cubana, que lutava pela reforma agrária e uma economia socialista.
Apesar de não terem alcançado seu objetivo, as Farc cresceram - chegando a ter 20 mil homens armados. A guerrilha marxista sobreviveu ao fim da guerra fria e aos enfrentamentos - tanto com o Exército, como com os paramilitares, pagos pelos narcotraficantes para proteger suas terras e seus negócios.
Com a queda do comunismo e a dissolução da União Soviética, as Farc passaram a depender da fabricação e venda de cocaína para financiar suas atividades. E com isso perderam a simpatia - mesmo daqueles que um dia acreditaram no seu projeto de lutar por um país menos desigual.
Propostas O governo e os representantes do "não" se reuniram para tentar encontrar uma proposta que pudesse satisfazer a todos e garantir o fim da guerra. Em comunicado à imprensa, os seguidores de Uribe disseram que "ainda não existem acordos, mas sim coincidências e diferenças com o governo, assim como propostas que permitem construir opções e avançar coletivamente rumo à paz que desejamos". O comunicado, assinado também pelo ex-presidente Andres Pastrana, diz que "a bola agora está no campo das Farc" e que examinará essas propostas nos próximos dias.