Ex-estagiária da Casa Branca Monica Lewinsky (Reuters/Tim Aubry/Files)
Da Redação
Publicado em 10 de maio de 2014 às 11h32.
Washington - A reaparição de Monica Lewinsky após dez anos fora do noticiário e logo quando Hillary Clinton está cotada para concorrer à presidência dos Estados Unidos força a política democrata a voltar a um espinhoso tema que também envolve seu marido, o ex-presidente Bill Clinton, antes de a batalha eleitoral começar.
Monica Lewinsky, a ex-estagiária mais famosa da Casa Branca, disse que voltou à cena com uma entrevista à revista Vanity Fair para virar a página do episódio, mas o certo é que todos os protagonistas daquela novela presidencial dos anos 90 parecem tê-lo feito, menos ela.
Nos 16 anos que passaram desde esse 'affair', Bill Clinton conseguiu manter índices de popularidade invejáveis, conquistou uma reputação como filantropo com sua fundação e é um dos grandes ativos do Partido Democrata para arrecadar fundos e reter eleitores.
Hillary Clinton, a então primeira-dama que fez das tripas coração e ficou junto com o marido adúltero, é agora quem monopoliza as manchetes: seu nome é o que aparece com mais força para a candidatura democrata das eleições presidenciais de 2016, após tentar obtê-la em 2008 e ter sido senadora e chefe da diplomacia de seu país.
A ex-secretária de Estado está submetida a uma apuração contínua desde que começaram as apostas eleitorais há meses, e a volta de Lewinsky à cena neste contexto já dividiu os analistas entre os que consideram que pode ser um empecilho em suas aspirações presidenciais e que, pelo contrário, acreditam que a reaparição da ex-affair de seu marido pode acabar beneficiando-a.
Lewinsky, que abalou as estruturas da presidência dos EUA, é agora uma mulher de 40 anos que lamenta o alto preço de sua aventura juvenil: foi alvo de piadas no mundo todo, sua fama lhe valeu a rejeição em vários empregos e sente que pagou todos os pecados por aquela história.
O fantasma daquele escândalo sexual paira agora sobre o futuro político de Hillary, que fez da defesa dos direitos da mulher uma de suas bandeiras, e com sua trajetória quebrou vários telhados de vidro.
No entanto, algumas vozes opinam que, na realidade, Lewinsky fez 'um grande favor' a Hillary por reaparecer, como aponta o prestigiado 'The Washington Post' em um de seus recentes artigos.
Em primeiro lugar, porque voltou a esclarecer que o escarcéu amoroso foi consentido, o que deixa sem argumentos os republicanos que criticam Hillary por se portar como defensora da mulher estando casada com um 'acossador sexual', segundo palavras do senador Rand Paul.
Além disso, Lewinsky reapareceu quando faltam mais de dois anos para as eleições e Hillary ainda não se postulou oficialmente. Isso deixa margem suficiente à ex-primeira-dama para fechar de uma vez por todas esse vergonhoso capítulo de sua vida familiar antes que comecem os afiados debates e entrevistas diárias com os candidatos.
Essa tese ganhou tanta força que até há quem tenha se aventurado a sugerir que a aparição da ex-estagiária da Casa Branca justamente agora, um mês antes de Hillary lançar um novo livro de memórias e quando cogita concorrer à presidência, responde a uma manobra elaborada pela própria família Clinton.
'A Vanity Fair publicaria algo sobre Monica Lewinsky que Hillary Clinton não quisesse na Vanity Fair?, questionou Lynne Cheney, a esposa do ex-vice-presidente republicano Dick Cheney, em entrevista à rede de TV conservadora 'FOX' na última quarta-feira.
O caso Lewinsky quase custou a presidência a Bill Clinton e derrubou sua popularidade durante um tempo, mas Hillary saiu reforçada da crise, e sua alta aceitação se manteve até nos momentos mais difíceis: mais de 60% dos americanos opinaram então que ela tinha feito o correto ficando ao lado de seu marido apesar do engano.
Se conseguir mais uma vez vencer o fantasma do escândalo e sacudir esta polêmica antes que comece a corrida presidencial, Hillary Clinton terá conseguido que, quando eventualmente concorrer à presidência, o caso pareça tão velho que os próprios cidadãos, e não Lewinsky, serão os que vão pedir para que a página seja virada. EFE