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Falta de divisas faz venezuelanos viajarem menos

Nos primeiros quatro meses deste ano, foram vendidos 72% menos pacotes turísticos para o exterior, em comparação com o 1º quadrimestre de 2009

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez: governo desvalorizou a moeda venezuelana em 100% no ano passado (Arquivo/Veja)

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez: governo desvalorizou a moeda venezuelana em 100% no ano passado (Arquivo/Veja)

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Da Redação

Publicado em 8 de setembro de 2010 às 14h56.

Caracas - Viajar para o exterior está cada vez mais difícil para os venezuelanos, que se voltam ao turismo interno perante o complicado acesso à cota governamental de divisas, agravado pela desvalorização da moeda nacional em 100% em janeiro passado.

A compra de passagens para voos internacionais acumula queda de 17% com relação ao ano passado (306 mil a menos), e, no primeiro quadrimestre deste ano, foram vendidos cerca de 72% menos pacotes turísticos para o exterior na comparação com o mesmo período em 2009, segundo números das associações de agências de viagens e de atacadistas turísticos.

Estados Unidos, Colômbia, Espanha, Panamá e Itália eram os destinos preferidos dos venezuelanos, segundo números do Instituto Nacional de Estatística Venezuelano (INE), cujos últimos dados correspondem a 2008.

"Estamos frente a uma queda muito considerável dos números, fruto da desvalorização monetária, que dobrou o custo dos produtos", assinalou à Agência Efe Julio Arnaldes, presidente da Associação Venezuelana de Atacadistas e Empresas de Representações Turísticas (AVEMAREP), que reúne redes hoteleiras e agências de viagens.

A Venezuela, com controle cambial desde 2003, tinha uma taxa única de 2,15 bolívares por dólar até janeiro passado, quando o Governo do presidente Hugo Chávez decidiu desvalorizar a moeda aplicando uma dupla paridade: de 2,60 para os produtos de primeira necessidade, e de 4,30 para o resto.

"O mercado foi ajustado à realidade. As famílias de classe baixa ou média-baixa que tiveram a oportunidade de viajar ao exterior com o dólar a 2,15 agora têm de fazer um esforço maior", disse o presidente da Associação Venezuelana de Agências de Viagem e Turismo (AVAVIT), Fernando La Riva.


O problema se acentuou no caso dos pacotes turísticos, já que o necessário cancelamento antecipado da aquisição é atualmente muito complicado para as agências de viagens, que quase não têm acesso à moeda americana depois que foi posto em vigor, no último mês de maio, um novo sistema de compra de dólares através de bônus.

Em baixa temporada, as agências de turismo necessitam de US$ 5 milhões mensais, assegurou Arnaldes, que acrescentou que o Sitme, o único sistema com o qual é possível ter acesso a dólares, é "extremamente lento" e só aprovou "uma ou duas solicitações de cada dez", o que forçou a retirada de várias empresas estrangeiras.

Deste modo, é o cliente quem deve cancelar antecipadamente a compra do pacote ao exterior através de sua cota na Comissão de Administração de Divisas (Cadivi).

Não é uma tarefa fácil, já que os venezuelanos dispõem de no máximo US$ 3 mil anuais para viajar, e o órgão regulador controla o crédito em função do destino e do tempo de estadia.

Além disso, o complicado processo burocrático e a lentidão com a qual a Cadivi outorga os dólares força muitos venezuelanos a procurar o chamado 'mercado paralelo', onde conseguem divisas a um preço quase duas vezes maior do que a taxa oficial.

Frente à falta de dólares, o turismo interno se transformou na alternativa mais viável para os venezuelanos.


No primeiro trimestre de 2010, o número de viagens internas aumentou em torno de 13%, disse o ministro de Turismo venezuelano, Alejandro Fleming.

Fleming lembrou os pacotes turísticos "socialistas" para viagens ao exterior que o Governo organiza, principalmente a Cuba, e disse que o venezuelano "preferia visitar outros países porque era mais econômico" do que conhecer a sua própria terra, por causa dos "altos preços".

"Progressivamente isto está mudando, porque o Governo traçou como estratégia a promoção para o crescimento do turismo e não do preço", disse Fleming à Efe.

A Ilha Margarita, as paisagens andinas de Mérida e as praias na parte oriental do país seguem sendo os destinos nacionais com maior afluência turística, embora o complicado contexto econômico tenha mudado alguns hábitos dos turistas venezuelanos.

"Os comerciantes se queixam que as pessoas já não vão às lojas, que já levam suas próprias bebidas e que podem ficar em barracas ou em um apartamento, ou preferem um hotel", comentou Valentina Quintero, jornalista e escritora de vários guias venezuelanos de viagem.

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