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Falta de vacinas e tratamentos aprofunda crise de mpox no Congo

Com aumento de casos e nova variante do vírus, país enfrenta dificuldades para conter a disseminação e tratar pacientes

Crise de mpox no Congo tem escancarado ao mundo as limitações do país de tratar o surto da doença. (GUERCHOM NDEBO/AFP)

Crise de mpox no Congo tem escancarado ao mundo as limitações do país de tratar o surto da doença. (GUERCHOM NDEBO/AFP)

Fernando Olivieri
Fernando Olivieri

Redator na Exame

Publicado em 30 de agosto de 2024 às 09h47.

O surto de mpox na República Democrática do Congo (RDC) se tornou uma crise de saúde pública, com o país enfrentando sérias limitações em sua capacidade de diagnosticar e tratar a doença. A situação é agravada pela propagação de uma nova variante do vírus, o que torna o combate à mpox ainda mais desafiador. Autoridades de saúde locais alertam para a falta de recursos essenciais, o que impede uma resposta eficaz à crise. A reportagem é do The New York Times.

A capacidade de diagnóstico na RDC é insuficiente, dificultando a identificação e o rastreamento de contatos, essenciais para controlar a propagação do vírus. Além disso, o país não dispõe de tratamentos antivirais eficazes para o mpox, e há escassez de medicamentos básicos necessários para aliviar as lesões dolorosas e os sintomas da doença. Com um sistema de saúde já sobrecarregado, o país luta para fornecer cuidados básicos que poderiam melhorar as taxas de sobrevivência, mesmo na ausência de antivirais.

Emergência global

Em 2022, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou emergência de saúde global devido ao surto de mpox, gerando expectativas de apoio internacional para o Congo. No entanto, após a rápida redução dos casos em países ocidentais, o interesse global pelo surto na África diminuiu, deixando o Congo a enfrentar sozinho o aumento contínuo dos casos.

A nova variante do vírus, conhecida como Clade 1b, apresenta características distintas, sendo transmitida principalmente por contato sexual e afetando principalmente adultos jovens, o que marca uma mudança em relação à forma tradicional da doença, que costumava afetar crianças em áreas rurais. Essa nova forma da doença se espalhou rapidamente em áreas como Kamituga, uma cidade mineradora onde trabalhadores migrantes e profissionais do sexo são os principais vetores de disseminação do vírus.

Dificuldade de identificação

A identificação e o tratamento dos pacientes são dificultados pelo fato de que muitos infectados escondem a doença devido ao estigma e ao medo de perderem sua fonte de renda. A nova variante causa lesões concentradas nos órgãos genitais, o que facilita a ocultação dos sintomas.

A capacidade de diagnóstico é um dos principais obstáculos no combate ao surto. Apenas 30% dos casos suspeitos de mpox são confirmados por meio de testes moleculares, de acordo com o ministro da Saúde, Dr. Samuel-Roger Kamba, em entrevista ao The New York Times. Apesar da expansão da capacidade de realizar testes PCR durante a pandemia de Covid-19, o Congo conta com apenas seis laboratórios aptos a processar esses testes, um número insuficiente para um país do tamanho da RDC.

Além disso, o custo elevado dos testes dificulta ainda mais a realização de testagens em larga escala. Cada teste de mpox realizado em uma máquina PCR GeneXpert requer dois cartuchos descartáveis, cada um custando cerca de 11 dólares (R$ 62), enquanto o teste no laboratório nacional custa entre 5 (R$ 28) e 10 (R$ 56) dólares por exame.

O Congo também enfrenta desafios significativos para oferecer cuidados adequados aos pacientes diagnosticados. O mpox provoca febres altas e lesões dolorosas, e a ausência de medicamentos antivirais como o tecovirimat, que demonstrou eficácia em testes realizados nos Estados Unidos e na Europa, complica ainda mais o tratamento. Mesmo assim, um estudo realizado na RDC indicou que, embora o tecovirimat não tenha reduzido o tempo de cura das lesões, os pacientes que receberam cuidados de qualidade apresentaram taxas de sobrevivência significativamente melhores.

Embora o governo congolês tenha autorizado o uso de vacinas contra o mpox, que foram desenvolvidas para combater o vírus da varíola, o país ainda não recebeu nenhuma dose. Doses doadas pela União Europeia e pelos Estados Unidos estão em processo de logística para entrega, mas a burocracia tem atrasado a chegada dessas vacinas ao Congo. A situação é ainda mais preocupante para as crianças, que compõem a maior parte das mais de 500 mortes causadas pelo mpox na RDC este ano. Essas crianças são frequentemente mais vulneráveis devido a outros problemas de saúde, como desnutrição, sarampo e malária.

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