Países: para evitar dores de cabeça, é bom escolher um lugar que não seja parte de país nenhum (Ingram Publishing/Thinkstock)
Da Redação
Publicado em 9 de julho de 2017 às 07h30.
Última atualização em 9 de julho de 2017 às 07h30.
Primeiro, pare de pagar impostos e arranje arame farpado para demarcar suas fronteiras. Para evitar dores de cabeça, é bom escolher um lugar que não seja parte de país nenhum.
Há alguns pedaços da Antártida nessa condição. Mas, se você não está podendo ficar tão longe, faça como Leicester Hemingway, irmão mais novo de Ernest, o escritor: ele juntou plataformas marítimas em águas internacionais e fundou em 1965 sua República de Nova Atlantis, perto da Jamaica.
Não basta só isso, claro: “Desde o século 19 é necessário o reconhecimento por parte de outros Estados. Sem isso, não existe representatividade internacional”, diz o professor de direito internacional João Grandino, da USP. “Desse jeito, você não poderá fazer negócios com outras nações nem enviar embaixadores”, completa.
A solução para evitar que seu país seja considerado terra de ninguém, então, é caprichar na diplomacia. Leicester Hemingway fez isso: imprimiu selos de Nova Atlantis com a efígie do presidente americano na época, Lyndon Johnson.
E o governante até mandou uma carta ao Hemingway caçula agradecendo a gentileza. Não chegava a ser um reconhecimento oficial dos EUA, mas já era um começo.
Só pena que uma tempestade varreu Nova Atlantis do mapa pouco tempo depois. Leicester era apenas um sonhador? Era, mas não foi o único. É o que você pode ver nos exemplos aqui embaixo:
Principado de Sealand
Em 1967, o ex-major britânico Roy Bates ocupou uma plataforma de petróleo abandonada no canal da Mancha e se mudou para lá com a intenção de instalar uma rádio pirata, que transmitiria seu sinal do meio do mar. A rádio nunca saiu do papel.
O que saiu foi algo mais inusitado: Roy “declarou a independência” do lugar, batizando-o como “Principado de Sealand”, e sagrando-se príncipe regente. Na época, a plataforma ficava em águas internacionais. Tecnicamente, então, ele até podia fazer isso. Pouco tempo depois, as águas daquele trecho do Canal se tornaram oficialmente parte do Reino Unido.
Mas Sealand seguiu sem ser importunada. Na verdade virou uma queridinha dos bem-humorados britânicos depois que os jornais noticiaram a existência do “principado”. Logo, Sealand ganhou “hino nacional”, “moeda”, “passaporte”. E, em 2013, chegou à glória máxima. Aqui:
Sim! Sealand teve sua bandeira fincada no topo do Everest – cortesia do alpinista britânico Kevin Cool. Próximo passo: Marte.
Cuidado com os grandões. Foi isso que o navegador Mathew Shiell aprendeu em 1865. Ele atracou na ilha de Redonda, no Caribe, e declarou que ali era seu reino. Bastou isso para chamar a atenção da Inglaterra, que anexou o lugar.
Hoje a ilha é parte de Antígua e Barbuda. Mas ainda é cobiçada: rivais “disputam” na internet quem é o rei. Um deles até concedeu um título redondiano ao cineasta Pedro Almodóvar.
Antes de sair por aí fundando nações, cuidado com o leão do imposto. O artista austríaco Erwin Lipburger, por exemplo, quase foi parar na cadeia por desencanar de pagar taxas na sua casa.
Ou melhor, no seu país, fundado em 1984 como uma intervenção artística. O presidente da Áustria salvou a pele de Lipburger. E a casa/país, uma esfera suspensa e cercada por arame farpado, virou atração turística em Viena.
O fazendeiro Leonard Casley ficou revoltado com um aumento nos impostos sobre o trigo, e tomou uma decisão radical em 1970: declarou a independência de sua propriedade, no oeste da Austrália. Então se tornou o Princípe Leonard 1º.
O governo de seu país de origem não reconheceu a nova nação, mas e daí? O fato é que Hutt-River virou a Sealand da Austrália – uma micronação admirada a sério por anarco-liberais e nem tão a sério por quem gosta de uma piada bem contada.
Em janeiro deste ano, Leonard, de 91 anos, “abdicou” em favor de seu filho, Príncipe Graeme. Acima, uma estátua do fundador do país adorna o deserto australiano – digo, do deserto Hutt-Riveriano.
Achar lugar para criar um país não foi problema para o milionário americano Michael Oliver. Problema mesmo foi descolar areia para construir uma ilha artificial no sul do Pacífico em 1972.
Mas, quando tudo já estava pronto, o governo de Tonga, o país vizinho, cresceu os olhos: mandou 100 homens para lá e anexou Minerva ao seu território. Trabalho em vão, já que, anos mais tarde, tudo foi engolido pelo mar. Mesmo assim, as moedas cunhadas pela república continuam circulando por aí.
O câmbio, se é que dá para usar essa expressão, é de basicamente 1 “dólar Minervano” para cada real. É que o valor intrínseco da moeda ali em cima, de 35 dólares minervanos, é de mais ou menos R$ 35 mesmo – o preço da prata que ela contém.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Superinteressante.