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Extrema-direita está perto de chegar à presidência na Áustria

No domingo o país pode marcar um novo triunfo, sem precedentes na União Europeia, para os populistas

Áustria: a disputa está entre Norbert Hofer, o candidato do Partido da Liberdade (FPÖ) e Alexander Van der Bellen, que tem feito uma campanha independente (Getty Images)

Áustria: a disputa está entre Norbert Hofer, o candidato do Partido da Liberdade (FPÖ) e Alexander Van der Bellen, que tem feito uma campanha independente (Getty Images)

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AFP

Publicado em 2 de dezembro de 2016 às 13h52.

A Áustria decide no domingo se terá um presidente de um partido de extrema-direita, cuja eleição, sem precedentes na União Europeia, marcaria um novo triunfo para os populistas, seis meses após o Brexit e um mês depois da eleição de Donald Trump à Casa Branca.

O país está prestes a completar uma sequência eleitoral e a votação nunca pareceu tão incerta entre Norbert Hofer, o candidato do Partido da Liberdade (FPÖ) eurocético e anti-imigração, e Alexander Van der Bellen, ecologista liberal que se apresenta de forma independente.

Durante a campanha, os dois finalistas tentaram tirar proveito do Brexit em junho e da eleição de Donald Trump em novembro.

Uma vitória para Norbert Hofer "seria uma virada para a Áustria e a UE, dando força aos partidos populistas de direita e esquerda", estima Charles Lichefield, do think tank Eurasia, antes de um ano eleitoral de 2017 de alto risco em França, Holanda e Alemanha.

"Seria imediatamente interpretada como um revés para o governo austríaco, para a política de acolhimento de refugiados de Merkel e Bruxelas", acrescentou.

Mas o chefe de Estado austríaco tem poderes limitados e não intervém na gestão diária, lembra o analista, observando que o verdadeiro desafio para o FPÖ é fazer com que a eleição presidencial seja um trampolim para chegar à chancelaria, coração do poder Executivo.

Focado na integração dos mais de 100.000 imigrantes que chegaram na Áustria desde o início de 2015, o debate deu lugar recentemente a questões de política externa.

Öxit

"Você está brincando com fogo", declarou sobre uma possível saída da Áustria da UE ("Oxit") Van der Bellen, de 72 anos, durante um último debate televisionado na quinta-feira.

O candidato do FPÖ, sorridente, respondeu chamando o seu rival de "mentiroso", recordando que ele havia considerado realizar um referendo sobre a questão em caso de entrada da Turquia no bloco ou de uma evolução da UE na direção de um "maior centralismo". O FPÖ manifestou no passado posições muito mais eurocéticas.

Norbert Hofer criticou, por sua vez, Alexander Van der Bellen, um ex-professor de economia, por suas críticas a Donald Trump, acusando-o de pôr em perigo as relações entre a Áustria e os Estados Unidos.

Membro do FPÖ há mais de vinte anos, vice-presidente do Parlamento, Norbert Hofer disse também querer se aproximar dos líderes políticos do leste europeu, que expressam hostilidade aos migrantes, bem como da Rússia.

No mesmo dia das eleições austríacas, a Europa vai assistir ao referendo sobre a reforma constitucional proposta pelo primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, que poderia deixar seu posto, causando outro choque político.

No plano interior, Hofer "poderia acelerar o processo" para a realização de legislativas antecipadas, considera o cientista político Thomas Hofer.

Frustração dos eleitores

A grande coalizão entre os social-democratas (SPO) e conservadores (OVP) no poder em Viena desde 2007 parece fora do páreo, apesar da nomeação, em maio, de um novo chanceler, o social-democrata Christian Kern.

Ambos os partidos foram eliminados no primeiro turno das eleições presidenciais em 24 de abril, refletindo o desejo dos eleitores de mudar a cena política.

Norbert Hofer, conselheiro do chefe do FPÖ Heinz-Christian Strache, venceu o primeiro turno com 35% dos votos.

Durante um primeiro segundo turno em 22 de maio, ele foi derrotado por menos de 31.000 votos por Van der Bellen, mas obteve uma invalidação da votação devido a irregularidades processuais.

Em caso de eleições legislativas, o FPÖ é apontado como vencedor com mais de 30% das intenções de voto. Este partido foi fundado em 1956 por ex-nazistas e foi chamado para o governo pelos conservadores em 2000, o que desencadeou sanções da União Europeia.

A formação poliu seus discursos, abolindo qualquer derrapagem abertamente antissemita ou xenófoba.

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