Chávez polarizou a região; ao mesmo tempo, ajudado pela riqueza petrolífera do país, impulsionou a criação de organismos de integração e uma aliança bolivariana contra o "império" (Alba) (AFP / Geraldo Caso)
Da Redação
Publicado em 11 de abril de 2013 às 19h40.
Bogotá - Os governos da América Latina aguardam com expectativa, e em alguns casos também com preocupação, o resultado das próximas eleições presidenciais na Venezuela, país que com Hugo Chávez à frente ganhou um notável peso regional.
Ganhe quem ganhar no próximo domingo, seja o chavista Nicolás Maduro ou o opositor Henrique Capriles, a ausência de Chávez, que morreu no dia 5 de março, mudou o panorama geopolítico latino-americano.
Chávez polarizou a região, mas ao mesmo tempo, ajudado pela riqueza petrolífera de seu país, impulsionou a criação de organismos de integração, como a Unasul e Celac, e uma aliança bolivariana contra o "império", a Alba, nos quais teve um papel dominante.
Também criou a Petrocaribe, um programa de provisão de petróleo a países caribenhos e centro-americanos em condições benévolas, e financiou projetos de todos os tipos, desde um hospital oncológico no Uruguai até um cabo de fibra óptica da Venezuela até Cuba.
Segundo a oposição venezuelana, o líder bolivariano "presenteou" em quase US$ 170 bilhões outros países, na proporção de US$ 7 bilhões por ano. Supostamente, além disso, financiou campanhas eleitorais de políticos aliados.
Em relação às eleições do dia 14, uma das perguntas que surgiram é se o eleito, que segundo as pesquisas será Maduro, vai querer manter as relações atuais nesses níveis, e outra é se a Venezuela sem Chávez continuará exercendo a mesma liderança na região.
No caso de Cuba, se a ajuda venezuelana deixa de chegar, pode acontecer algo parecido com o de quando caiu a URSS.
Mas se Maduro chegar à presidência, a situação econômica venezuelana, com alta inflação e uma recente desvalorização da moeda, pode obrigá-lo a ser menos generoso que seu antecessor.
Maduro prometeu uma "união eterna" com Cuba, o que se entendeu como um compromisso de continuar enviando à ilha 100 mil barris diários de petróleo em troca de médicos e professores cubanos na Venezuela.
Capriles, por outro lado, afirma que não presenteará "nem uma gota mais" do petróleo venezuelano a outros países, mas se comprometeu a não acabar com os planos sociais.
Mas Cuba não é o único país tem algo em jogo nestas eleições na Venezuela. A Nicarágua, por exemplo, recebe de ajuda de cerca de US$ 500 milhões por ano, que não estão contabilizadas no orçamento do Estado.
Por razões econômicas, ideológicas ou até pelas duas, o certo é que vários países latino-americanos, e não só os da Alba, tomaram abertamente partido por Maduro nesta disputa eleitoral.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já foi considerado rival de Chávez na luta pela liderança latino-americana, apoiou publicamente a candidatura de Maduro, apesar de não querer "interferir nas questões internas da Venezuela".
A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, que considerava Chávez um amigo e um aliado estratégico, enviou representantes a uma reunião do Foro de São Paulo em Caracas que terminou com uma declaração de apoio a Maduro.
O governo paraguaio, pelo contrário, considera que Maduro não tem "legitimidade" alguma, segundo disse em entrevista à Agência Efe o presidente Federico Franco no dia 2 de abril, em Madri.
Sucessor de Fernando Lugo - aliado de Chávez e cassado pelo Senado de seu país em 2012 -, Franco afirmou que "um dia a história vai reconhecer o Paraguai como o país que conteve e derrotou o eixo bolivariano em sua expansão latino-americana".
A pedido da Venezuela, o governo de Franco foi isolado regionalmente e ainda está à margem do Mercosul e da Unasul.
Outro país onde as eleições venezuelanas geram grande polêmica é a Colômbia, já que a Venezuela acompanha com atenção o processo de paz entre o governo colombiano e as Farc, e essa guerrilha é favorável ao chavismo.
Maduro prometeu que, se ganhar as eleições, fará o que estiver a seu alcance para que a paz chegue à Colômbia.