O regime de Bashar al-Assad recuperou em 2015 o controle de grande parte da Síria graças ao apoio militar da Rússia, do Irã e do movimento libanês Hezbollah (SANA/Handout/Reuters)
Agência de notícias
Publicado em 30 de novembro de 2024 às 09h13.
Última atualização em 30 de novembro de 2024 às 09h14.
O exército da Síria admitiu neste sábado que insurgentes penetraram em "amplas áreas" de Alepo, a segunda maior cidade do país, após uma ofensiva relâmpago de jihadistas e milícias rebeldes que resultou em mais de 300 mortos.
"Dezenas de homens de nossas forças armadas morreram e outros ficaram feridos" quando as "organizações terroristas conseguiram avançar em amplas partes dos bairros da cidade de Alepo", afirmou o exército, que detalhou que os combates se estenderam por "mais de 100 quilômetros".
O Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH) relatou neste sábado que o Hayat Tahrir al Sham (HTS) e facções aliadas assumiram "o controle da maior parte da cidade, incluindo edifícios governamentais e prisões".
Segundo o Observatório, à noite, "aviões de guerra russos realizaram ataques em áreas da cidade de Alepo pela primeira vez desde 2016".
O regime de Bashar al-Assad recuperou em 2015 o controle de grande parte da Síria graças ao apoio militar da Rússia, do Irã e do movimento libanês Hezbollah.
Em 2016, Al-Assad restabeleceu sua autoridade em Alepo, que havia sido alvo de bombardeios maciços desde o início da guerra civil na Síria em 2011.
No entanto, amplas áreas do território ainda estão fora de seu controle. O Hayat Tahrir al Sham, uma aliança jihadista liderada pela antiga filial síria da Al-Qaeda, controla partes da região de Idlib, no noroeste da Síria, além de áreas das províncias vizinhas de Alepo, Hama e Latakia.
Os rebeldes lançaram uma ofensiva relâmpago contra as forças do regime de Al-Assad na quarta-feira, coincidindo com a entrada em vigor de um frágil cessar-fogo no vizinho Líbano entre Israel e o movimento pró-iraniano libanês Hezbollah, após dois meses de guerra aberta.
O OSDH aumentou o balanço de mortos desde quarta-feira para 311, sendo 183 combatentes do Hayat Tahrir al Sham e seus aliados, 100 soldados sírios e milicianos pró-regime, além de 28 civis.
A mídia oficial síria informou que quatro civis morreram quando o Hayat Tahrir al Sham bombardeou uma residência estudantil em Alepo, antes do comunicado sobre as baixas do exército.
"É a primeira vez em cerca de cinco anos que ouvimos foguetes, artilharia o tempo todo e, às vezes, aviões", contou Sarmad, um morador de Alepo de 51 anos. "Tememos que o cenário da guerra se repita e que sejamos obrigados a fugir novamente", acrescentou.
Um correspondente da AFP viu grupos de rebeldes comemorando em Alepo na noite de sexta-feira. Outro correspondente relatou combatentes insurgentes diante da emblemática cidadela da cidade.
O Observatório informou que "o governador de Alepo e os chefes da polícia e da segurança se retiraram do centro da cidade".
Os bombardeios noturnos coincidiram com "a chegada de importantes reforços" rebeldes à região, acrescentou o OSDH, que na sexta-feira relatou que os jihadistas e seus aliados haviam tomado cerca de 70 vilarejos e aldeias no norte do país.
O diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman, disse à AFP no início deste sábado que os rebeldes conseguiram avançar rapidamente em Alepo sem enfrentar grande resistência.
Segundo Rahman, "não houve combates, nenhum tiro foi disparado, pois as forças do regime se retiraram".
Os jihadistas e seus aliados avançaram no norte, conquistando a cidade de Saraqib, de importância estratégica por estar na estrada que leva a Alepo, cerca de 40 quilômetros a sudoeste da cidade, explicou o OSDH.
Na sexta-feira, o exército russo informou que estava bombardeando forças "extremistas", enquanto a Turquia pediu o fim dos bombardeios na região de Idlib.
A região de Idlib é alvo de uma trégua mediada por Turquia e Rússia desde uma ofensiva do regime de Al-Assad em março de 2020. Embora essa trégua tenha sido violada repetidamente, ela permanece em vigor.
Irã, que apoia o Hezbollah, e Rússia forneceram suporte militar ao regime de Al-Assad durante a guerra civil, iniciada em 2011 após a violenta repressão às manifestações pró-democracia e à rebelião.
A situação evoluiu para um conflito complexo, envolvendo ao longo dos anos atores regionais, potências estrangeiras e grupos jihadistas, em combates num território cada vez mais fragmentado. A guerra já causou meio milhão de mortos e obrigou milhões a abandonar suas casas.