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Exército israelense diz que emissora no Irã foi atacada por divulgar ‘propaganda anti-Israel’

Porta-voz das Forças Armadas havia dito antes que o prédio foi atingido porque estaria sendo usado para ‘operações militares’ iranianas, sem fornecer detalhes

Ataque israelense alcança a televisão estatal iraniana em Teerã (Reprodução)

Ataque israelense alcança a televisão estatal iraniana em Teerã (Reprodução)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 17 de junho de 2025 às 13h32.

Última atualização em 17 de junho de 2025 às 13h43.

Um dia após Israel bombardear a sede da emissora estatal de televisão do Irã durante uma transmissão ao vivo, o porta-voz das Forças Armadas do Estado judeu, Effie Defrin, afirmou que o ataque foi feito porque o veículo estava disseminando propaganda anti-Israel. A declaração contradiz o que foi dito na segunda-feira — quando o Exército israelense havia afirmado que o prédio foi atingido porque estaria sendo usado para “operações militares” —, mas segue a mesma linha do que outras autoridades em Israel declararam depois da ofensiva.

— [A emissora] faz parte do plano de exterminar Israel. Nós a atacamos assim como atacamos todos os elementos do regime terrorista iraniano — disse Defrin, citado pelo jornal israelense Haaretz, acrescentando que o estúdio operava “disfarçado como uma associação de radiodifusão” quando na verdade era “gerenciado” pela Guarda Revolucionária do Irã.

Também nesta terça-feira, a Comissão para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) afirmou estar “horrorizada” com o ataque de Israel ao estúdio da emissora enquanto jornalistas estavam ao vivo. Em comunicado, Sara Qudah, a diretora regional da organização para o Oriente Médio e Norte da África, disse que “o fato de Israel ter matado, com impunidade, pelo menos 185 jornalistas em Gaza encorajou o país a atacar a mídia em outras partes da região”.

O ataque israelense ocorreu poucas horas depois de a República Islâmica lançar uma nova onda de mísseis contra o território de Israel, que deixou ao menos oito mortos. Também foi feito após Tel Aviv emitir um aviso urgente de evacuação para o Distrito 3 na capital iraniana, onde vivem mais de 312 mil pessoas, indicando que a permanência na área colocaria vidas em risco. Pelo menos duas pessoas morreram na ofensiva.

O prédio afetado pelo bombardeio pertence ao complexo de comunicação da TV estatal Radiodifusão da República Islâmica do Irã, localizado perto do bairro de Vali-e Asr, uma das áreas mais movimentadas da cidade. Jornais locais relataram colunas de fumaça e presença intensa de equipes de resgate, embora ainda não haja confirmação oficial sobre vítimas. Durante a transmissão, uma repórter precisou interromper a cobertura e deixar a câmera às pressas ao ouvir a explosão.

O bombardeio ocorreu depois de o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, declarar que a televisão e a rádio estatais iranianas estavam “prestes a desaparecer”. Em nota, ele afirmou que “o megafone de propaganda e incitação do Irã” seria eliminado, acrescentando que “a retirada dos moradores próximos já começou”.

Após a ofensiva, o premier israelense, Benjamin Netanyahu, também disse que o ataque aos estúdios teve como objetivo “desmantelar o poder de propaganda” do Irã. Naquele momento, ambas as declarações diferiam da versão oficial do Exército de Israel. Netanyahu também afirmou que o regime iraniano possui “diversas ferramentas” que estão na mira do Estado judeu, incluindo “uma emissora que não é para notícias”, mas “uma ferramenta de um regime totalitário”.

O primeiro-ministro israelense acrescentou que, ao mesmo tempo, “outros canais estão se abrindo, pelos quais cidadãos iranianos, que estão desesperados para se libertar dessa tirania, podem descobrir a verdade”. Ele também disse que o regime iraniano tem medo da própria população, afirmando ser por isso que Israel estava “atacando essa estação de transmissão totalitária, junto com outros ativos do regime”.

A explosão ocorreu enquanto a apresentadora criticava Israel ao vivo na TV. Logo depois, ela foi vista saindo da transmissão, informou a mídia iraniana, que compartilhou um vídeo do incidente. A emissora chegou a interromper brevemente sua programação, substituindo o sinal ao vivo por mensagens institucionais. Horas depois, um apresentador declarou que a transmissão “segue firme, apesar da agressão sionista”, reforçando o tom desafiador adotado por Teerã desde o início dos ataques.

“O regime sionista, inimigo da nação iraniana, realizou há poucos minutos uma operação militar contra a rede de notícias da República Islâmica do Irã”, declarou Hassan Abedini, alto funcionário do serviço de radiodifusão IRIB, em comunicado após a retomada da transmissão. “Esse regime [Israel] ignora o fato de que a voz da Revolução Islâmica e do grande Irã não será silenciada por uma operação militar.”

Em resposta ao ataque de Israel, o governo do Irã emitiu uma ordem de evacuação para as principais redes de notícias israelenses, N12 e N14. Segundo a emissora estatal iraniana, a medida é uma represália direta à ofensiva que atingiu o serviço de radiodifusão da República Islâmica. Mais cedo na segunda, quando Israel orientou que moradores de Teerã deixassem suas residências, autoridades iranianas também emitiram alertas para que a população israelense deixasse Tel Aviv.

A capital iraniana é dividida em 22 distritos, sendo o Distrito 3 um dos maiores da cidade, abrangendo cerca de 4,5% da área total da capital. A região abriga, além da sede da emissora estatal iraniana, ao menos quatro hospitais e centros de saúde, um grande edifício da polícia e as sedes diplomáticas de países como Catar, Omã e Kuwait, além de escritórios da ONU e da agência de notícias francesa AFP.

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