Teerã: civis se manifestaram na sexta-feira contra onda de violência contra o país (Atta Kenare/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 14 de junho de 2025 às 18h00.
Última atualização em 14 de junho de 2025 às 20h44.
*O Exército israelense declarou na noite deste sábado, 14, que está realizando bombardeios aéreos contra Teerã, ao mesmo tempo em que tenta interceptar mísseis lançados do Irã contra Israel.
"Enquanto [as forças israelenses] atuam para interceptar mísseis lançados do Irã, a Força Aérea [...] bombardeia alvos militares em Teerã", indicou um comunicado militar publicado às 23h10 (17h10 em Brasília).
A agência de notícias iraniana Tasnim informou que um ataque israelense teve como alvo a sede do Ministério da Defesa do país em Teerã e causou danos leves a um de seus edifícios.
Em "um ataque contra Teerã nesta noite por parte da força aérea do regime sionista, a sede do Ministério da Defesa foi o alvo. Um dos edifícios (...) sofreu danos leves", disse a agência. Essa pasta do governo iraniano não fez comentários.
Mais cedo, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou um novo ataque aéreo a Teerã, ao declarar que as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) atacarão "todos os locais e alvos do regime dos aiatolás", em um vídeo divulgado por seu gabinete.
"Atacaremos todos os locais e alvos do regime dos aiatolás. Abrimos o caminho para Teerã. Em um futuro muito próximo, vocês verão aviões israelenses, a Força Aérea Israelense, nossos pilotos sobrevoando os céus de Teerã", disse o premiê no vídeo.
O ataque israelense de sexta-feira ao Irã é o ápice de quase 20 anos de ameaças do primeiro-ministro israelense, que revelou ter planejado realizar a operação em abril.
A ofensiva ocorre em um momento em que os Estados Unidos e o Irã realizam uma série de negociações para chegar a um acordo sobre a questão nuclear iraniana e estavam programados para se reunir em Omã no domingo, 15.
"Estamos muito perto de um bom acordo", disse o presidente dos EUA, Donald Trump, a repórteres na quinta-feira, 12. "Não quero que eles intervenham, porque acho que isso arruinaria tudo", afirmou, referindo-se a Israel.
A obsessão do primeiro-ministro israelense pelo Irã não é nova.
Em dezembro de 2005, menos de dois meses após a comoção internacional provocada pelo apelo do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad para "varrer Israel do mapa", Netanyahu, então na oposição, declarou que o programa nuclear iraniano "representa um grave perigo para o futuro" de seu país.
Na época, ele afirmou que Israel "deve fazer todo o possível para impedir que o Irã" obtenha a bomba atômica, o que já levantava a possibilidade de ataques militares.
Netanyahu tornou-se primeiro-ministro em 2009, cargo que ocupa desde então, exceto por um hiato de um ano e meio em 2021-2022.Ao longo desses anos, o líder afirmou repetidamente que não acredita nas negações da República Islâmica sobre seu programa nuclear civil e frequentemente ameaçou usar a "opção militar" contra Teerã.
Em 2015, ele descreveu o acordo internacional assinado em Viena entre diversas potências e Teerã para aliviar as sanções internacionais em troca de garantias destinadas a impedir o Irã de adquirir armas nucleares como um "erro histórico".
Três anos depois, ele aplaudiu a decisão de Trump de retirar Washington do pacto.
Em resposta, Teerã deixou de cumprir seus compromissos até enriquecer urânio a níveis próximos ao necessário para a produção de armas.
Durante esse período, o Mossad, o serviço secreto israelense, atuou no Irã e realizou diversas operações de grande escala contra o programa nuclear iraniano.
Israel, que nunca confirmou ou negou possuir armas atômicas, possui 90 ogivas nucleares, de acordo com o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI).
No outono de 2024, Israel marcou um ponto ao derrotar o Hezbollah, o braço armado do Irã no Líbano, antes da queda de Bashar al-Assad em Damasco, em dezembro, o que levou à retirada de milhares de conselheiros militares e combatentes mobilizados pelo Irã da Síria.
No final de outubro, o Exército israelense respondeu ao lançamento de cerca de 200 mísseis iranianos em direção a Israel com ataques aéreos contra alvos militares no Irã.
O então ministro da Defesa, Yoav Gallant, disse que os ataques "mudaram o equilíbrio de poder" e "enfraqueceram a capacidade (do Irã) de construir mísseis e sua capacidade de se defender".
Para Danny Citrinowicz, do Instituto Nacional de Estudos de Segurança de Israel (INSS), Trump provavelmente considera o ataque de Israel como algo que "serve aos seus interesses".
O presidente americano "acredita genuinamente que, enquanto o Irã estiver enfraquecido, ele será capaz de concluir um acordo sobre a questão nuclear iraniana", explicou à AFP.
Holly Dagres, especialista em Irã do Instituto Washington, alerta, no entanto, que se o governo Trump acredita que haverá novas "conversas com os iranianos em Omã no domingo, isso mostra que realmente não entende nada sobre a República Islâmica".
*reportagem em atualização