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Exército israelense afirma que usará 'força sem precedentes' em Gaza

Forças Armadas bombardearam o enclave com ataques aéreos e tiros de tanques em sua tentativa de tomá-lo; defesa civil de Gaza afirma que 450 mil palestinos fugiram do enclave

Agência o Globo
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Publicado em 19 de setembro de 2025 às 18h54.

Última atualização em 19 de setembro de 2025 às 19h12.

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As Forças Armadas de Israel alertaram nesta sexta-feira que iriam operar com uma “força sem precedentes” na Cidade de Gaza, dizendo aos residentes para fugirem enquanto escalam sua ofensiva terrestre no maior centro urbano do território.

Os israelenses bombardearam o enclave com ataques aéreos e tiros de tanques em sua tentativa de tomá-lo, quase dois anos após o início da guerra que devastou a morada de palestinos e os deixou em situação de fome declarada pelas Nações Unidas.

O ataque ocorre antes de uma ação planejada por vários governos ocidentais, incluindo o Reino Unido e a França, para reconhecer um Estado palestino em uma cúpula da ONU na próxima semana. As Forças Armadas lançaram o ataque terrestre na terça-feira e há dias vêm orientando os moradores a seguirem para o sul, mas muitos palestinos dizem que a viagem é proibitivamente cara e que não sabem para onde ir. A defesa civil de Gaza afirma que 450 mil palestinos fugiram da cidade.

— Há vários dias, estamos tentando evacuar para o sul, mas não conseguimos encontrar nenhum meio de transporte — disse Khaled al-Majdalawi, de 32 anos, um palestino deslocado no oeste da cidade de Gaza, à AFP, descrevendo bombardeios “intensos e contínuos”. — Finalmente encontramos uma maneira de sair no início desta manhã. Empacotamos nossos pertences e esperamos por horas, mas até agora ninguém veio e o motorista não está nos respondendo.

A ONU estimou no final de agosto que cerca de 1 milhão de pessoas viviam na cidade de Gaza e seus arredores. Os militares israelenses disseram nesta sexta-feira que estimavam que 480 mil pessoas haviam fugido desde o final de agosto.

Ainda nesta sexta-feira, o porta-voz do Exército em língua árabe anunciou o fechamento de uma rota de retirada temporária aberta 48 horas antes, afirmando que a única maneira de chegar ao sul era pela estrada al-Rashid, ao longo da costa do Mediterrâneo.

“O [Exército] continuará a operar com força sem precedentes contra o Hamas e outras organizações terroristas”, disse Avichay Adraee em uma postagem no X dirigida aos residentes da cidade. “Aproveitem esta oportunidade e juntem-se às centenas de milhares de residentes da cidade que se mudaram para o sul, para a área humanitária.”

'Muito fraco para andar'

As Forças Armadas israelenses instaram os palestinos a se dirigirem a uma “área humanitária” em al-Mawasi, na costa, onde, segundo elas, serão fornecidos ajuda, cuidados médicos e infraestrutura humanitária. Israel declarou inicialmente a área como zona segura no início da guerra, mas desde então tem realizado repetidos ataques, alegando que o alvo é o Hamas.

Nivin Ahmed, de 50 anos, fugiu do sul da cidade de Gaza para a cidade central de Deir el-Balah na quinta-feira, caminhando com sete membros da família.

— Caminhamos mais de 15 quilômetros [nove milhas], rastejando de exaustão — disse ela à AFP. — Meu filho mais novo chorava de cansaço. Nós nos revezávamos para puxar um carrinho pequeno com alguns de nossos pertences.

Enquanto Mona Abdel Karim, de 36 anos, disse que não conseguiu transporte para o sul e dormiu na estrada al-Rashid por duas noites com sua família, esperando por um motorista.

— Sinto que estou prestes a explodir. Não podemos andar a pé, os pais do meu marido são idosos e doentes, e as crianças estão fracas demais para andar — disse ela.

Fotografias da AFP tiradas na estrada costeira na sexta-feira mostraram longas filas de palestinos indo para o sul a pé ou em veículos cheios de poucos pertences, deixando para trás uma cena de escombros e fumaça.

Bombardeios

Mahmud Bassal, porta-voz da agência de defesa civil de Gaza — uma força de resgate que opera sob a autoridade do Hamas — relatou “bombardeios de artilharia e tiros intermitentes” no bairro de Tel al-Hawa, no sudoeste da cidade de Gaza. Ele também relatou bombardeios e tiros de drones nas áreas noroeste da cidade, além de ataques em vários bairros.

Os ataques israelenses mataram pelo menos 33 pessoas em todo o território na sexta-feira, 18 delas na cidade de Gaza, de acordo com dados fornecidos pelos hospitais de Gaza contatados pela AFP.

Em um comunicado, as Forças Armadas israelenses afirmaram que suas tropas na cidade de Gaza estavam atacando militantes “usando fogo de tanques, UAVs (drones) armados e ataques aéreos, desmantelando a infraestrutura terrorista e localizando armas na área”.

As restrições à mídia no território e as dificuldades de acesso a muitas áreas impedem a AFP de verificar de forma independente os detalhes fornecidos pela defesa civil ou pelas Forças Armadas israelenses.

A ofensiva apoiada pelos EUA na cidade de Gaza ocorreu no momento em que uma investigação das Nações Unidas acusou Israel de cometer “genocídio” na Faixa de Gaza, afirmando que o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e outros altos funcionários incitaram o crime.

Israel rejeitou as conclusões e criticou a investigação como “distorcida e falsa”.

O ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023, que desencadeou a guerra, resultou na morte de 1.219 pessoas, a maioria delas civis, de acordo com um levantamento da AFP com base em números oficiais.

A campanha de retaliação de Israel matou pelo menos 65.174 pessoas, também em sua maioria civis, de acordo com números do Ministério da Saúde do território, considerados confiáveis pelas Nações Unidas.

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